Benjamim estreia “1986” no Festival de Músicas do Mundo de Sines

O Festival do Músicas do Mundo de Sines recebe em estreia a primeira apresentação ao vivo de “1986”, disco bilingue […]

Foto de Vera Marmelo

O Festival do Músicas do Mundo de Sines recebe em estreia a primeira apresentação ao vivo de “1986”, disco bilingue e escrito a quatro mãos entre o músico português Benjamim e o inglês Barnaby Keen.

Apresentado digitalmente a 20 de Fevereiro com o lançamento de “Warm Blood” e, uma semana, depois de “Terra Firme”, o disco “1986” chega aos palcos, esta sexta feira, 28 de Julho, na Avenida Vasco da Gama, em Sines.

«Já sabemos as músicas que vamos tocar, um do outro, para além do disco, mas é sempre uma incógnita, porque ainda não ensaiámos, não sabemos como aquilo vai acontecer», revela o músico, Luís Nunes “Benjamim” ao Musicália-Sul Informação. É que Barnaby Keen só chegou a Portugal no passado domingo e tem menos de uma semana para colocar os ensaios em dia, sendo que «as expetativas, são, basicamente, esperança que tudo corra bem».

A apresentação ao vivo terá as oito canções do disco, além de temas que fazem a carreira do músico Luís Nunes (Benjamim e Walter Benjamim) e das várias bandas do inglês Barnaby Keen, sendo que o músico nacional aproveitou para, ao jeito dos “discos pedidos”, fazer um telefonema para pedir uma música.

Barnaby Keen – foto de Vera Marmelo

«A primeira canção que eu ouvi do Barnaby e que me fez perceber que ele é um grande escritor de canções é uma que ele nunca toca ao vivo, mas eu liguei-lhe a dizer que a vamos tocar em Sines, “porque eu quero mesmo tocar contigo esta canção”», afirma o músico.

A relação entre os dois artistas começou em 2012, em Londres, quase no final da jornada que levou Luís Nunes rumo à ”meca” dos músicos e dos estúdios, para seguir um «sonho de puto» e estudar engenharia de som.

Acabou por “fazer o som“ para uma das bandas de Barnaby e foi a música de Chico Buarque que Luís tinha colocado a tocar no “PA” que os uniu. Barnaby era fã, tinha vivido no Brasil, e, sendo «um tipo grande, 1,90 m, loiro, branquinho, super inglês» a falar um português do Brasil, criou uma reação de choque que acabou por criar uma amizade.

A ideia para o disco só surgiu após o regresso de Luís Nunes a Portugal, depois de se ter estabelecido numa casa de família em Alvito, Beja, onde construiu o estúdio e recebeu Barbany, quando este lhe pediu ajuda para fazer uns concertos em Portugal. Com um estúdio à disposição, instrumentos e músicos, o resto é fácil de imaginar.

«Estivemos dois dias em Alvito, fizemos umas jam sessions e surgiu esta ideia de uma forma espontânea. Se é fácil dois músicos se encontrarem e fazerem música? É a coisa mais fácil do Mundo!» afirma o artista português.

A experiência de partilha musical luso-inglesa tornou-se numa das mais importantes para Luís Nunes, permitindo-lhe «crescer enquanto músico» e entrar em contacto com outras formas de trabalhar e outros processos.

O disco é resultado desse exercício de reciprocidade e partilha: Benjamim faz coros em inglês das canções de Barnaby e este empresta o seu sotaque brasileiro quebrado para fazer vozes em português nas canções de Benjamim.

 

 

Os dois músicos tocam quase tudo nas canções um do outro, escolhendo o melhor das capacidades de cada um, seja no saxofone, no piano ou na bateria, aos quais se juntaram Sérgio Costa (The Millions, Belle Chase Hotel, Quinteto Tati, Real Combo Lisbonense), na flauta, Leon de Bretagne (Batida), no baixo, e António Vasconcelos Dias, nas vozes. As gravações aconteceram em duas sessões no estúdio 15A, casa da Pataca Discos.

Apesar de apenas ter saído em formato digital – o lançamento em vinil acontece em Setembro – e o primeiro concerto ser só esta semana, Luís Nunes tem recebido reações positivas e até do outro lado do Atlântico. «Tenho tido contactos de muitos brasileiros e uma jornalista colombiana enviou-me uma mensagem para o Facebook, a dizer que tinha descoberto o disco no Spotify, se tinha apaixonado e que tínhamos de ir fazer uma tour à América do Sul. O disco está a chegar às pessoas», revela o músico.

 

A ida para Londres e o regresso em português

A estadia em Londres serviu para muito mais do que um curso e novas amizades. O tempo que Luís Nunes passou na capital inglesa permitiu-lhe descobrir-se e, ao estar longe do seu contexto, podendo olhar de fora, pensar e refletir sobre ele.

«Apanhei os anos da crise – entre 2009 e 2012 – lia os jornais todos os dias e comecei a pensar que se calhar é preciso fazer alguma coisa. Afinal havia algo sobre o que escrever, era preciso parar e pensar no nosso contexto e isso era algo que eu não conseguia fazer em inglês. Começou a apetecer-me escrever canções sobre o que seu estava a sentir, mas precisava da minha própria língua para as dizer», confidencia o músico na sua entrevista ao Musicália-Sul Informação.

Luís Nunes “Benjamim” – foto de Vera Marmelo

O regresso a Portugal marcou não só o início de uma carreira como produtor, mas também a sua afirmação musical apenas como Benjamim. «Não parti para Londres para furar o mercado e fazer a carreira como Walter Benjamim, mas foi lá que me apercebi que fazia muito mais sentido fazer canções em português em Portugal, do que fazer canções em inglês no estrangeiro».

Luís Nunes sentiu que, lá fora, seria mais um estrangeiro a fazer canções que não eram na sua língua, e que, no seu país, era um idioma que muitas pessoas não entendiam à primeira e surgiu «uma crise de identidade enorme».

Sentiu a necessidade de fazer alguma coisa e começar a cantar na sua língua, com a mais valia de, «ao cantar na língua mãe, ninguém nos pode dizer o que podemos ou não escrever, enquanto numa língua estrangeira, há sempre a dúvida que se levanta sobre se estamos a cantar bem ou se há erros e isso pareceu-me ridículo», afirma Luís Nunes.

Em 2015, lançou “Auto-rádio” como Benjamim e o regresso à língua inglesa acontece num álbum a duas vozes e dois idiomas, mantendo Luís Nunes um registo apenas em português.

 

Comentários

pub