Navegue do Mar Negro à Gronelândia sem sair dos mares do Algarve

A sul de Carvoeiro fica a Gronelândia e entre o Burgau e Lagos está o Mar Negro. Há também um Corredor […]

last map2A sul de Carvoeiro fica a Gronelândia e entre o Burgau e Lagos está o Mar Negro. Há também um Corredor da Makro que fica em alto mar, bem perto do Mar do Chouriço e do Mar da Couve. Não acredita? Pergunte a um pescador, ou então consulte o Mapa da Toponímia dos Mares Algarvios, lançado na passada sexta-feira pelo CCMAR, da Universidade do Algarve.

Este projeto pioneiro compilou o conhecimento de várias gerações de pescadores algarvios que deram nomes às pedras e aos “mares” e mostrou-os num mapa, para que esta sabedoria, que passou de boca em boca de pais para filhos, não se perca.

Júlio Alhinho
Júlio Alhinho

«Se todas as zonas em terra têm um nome, seja um hotel, ou uma zona turística, porque é que o mar não há-de ter ruas, ou zonas com nomes?», questiona Júlio Alhinho, pescador quarteirense há mais de 40 anos, que participou no projeto e ajudou a validar os mais de 500 locais assinalados no mapa.

«As pedras, já no tempo do meu pai, tinham sido batizadas. Tinham nomes de pessoas, as pessoas iam lá à pesca e a pedra, que não tinha nome nenhum, ficava com os nomes das pessoas que costumavam ir lá pescar. Se calhar quando eu morrer, haverá uma pedra com o meu nome», graceja.

Júlio Alhinho acha o projeto «curioso. Antes, falava-se em nomes e as pessoas não sabiam onde era, onde íamos pescar, agora já sabem, com este mapa têm uma noção mais certa».

O pescador de 58 anos não precisa do mapa para navegar num mar que conhece «melhor do que a minha casa, é engraçado. Eu sei muitos destes nomes do mapa, mas não sei o nome da minha rua!».

O projeto do CCMAR foi coordenado por Jorge Gonçalves que conta que «tivemos mais de 7 mil entradas, que foram reduzidas para cerca de 500 designações». Estas 7 mil entradas foram obtidas ao longo de um ano, indo de porto em porto, desde a Arrifana até Vila Real de Santo António, falando com mais de 200 pescadores. Muitos deles não quiseram perder o lançamento do mapa e encheram a sala de seminários da Reitoria da Universidade do Algarve.

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Jorge Gonçalves

O investigador explica que, para estes nomes dados pelas comunidades piscatórias, «há várias causas, tem a ver com o tipo de fundos… por exemplo, em Parte e Rasga é fácil perceber que ali não se devem usar redes. O Corredor da Makro explica-se porque há 20 anos, sem GPS, os pescadores tiravam os alinhamentos e enfiamentos, utilizando marcas de terra e a Makro, em Albufeira, foi uma construção imponente na altura. Também há nomes relacionados com objeto da pesca, como o Mar dos Sargos e com nomes de pescadores, como Joaquim Tomás».

Mais do que um mapa que suscita curiosidade nas pessoas, este projeto é, segundo Jorge Gonçalves, «um porte de informação da comunidade da pesca que agora fica acessível a todos».

No mapa estão assinalados, por exemplo, locais onde ocorreram naufrágios e a sua sinalização traz benefícios «ao mergulho, ao turismo aquático e alguns até podem ter interesse arqueológico».

Muitas vezes, o conhecimento produzido pelo CCMAR é utilizado pelos pescadores mas, neste caso, foi o oposto que sucedeu: «o primeiro ponto neste projeto é a valorização das comunidades da pesca e os seus conhecimentos. Nós, nas universidades, somos vistos como estando num pedestal, afastados da comunidade, mas esta ligação tem-se vindo a estreitar e este é um dos melhores exemplos. Este mapa é uma homenagem aos pescadores e à comunidade da pesca», conclui Jorge Gonçalves.

Utilize o mapa abaixo para navegar por «mares nunca antes mapeados» e aproveite para saber onde fica o Mar do Gelo, o Mar das Estevas ou o Mar do Feijão.

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