Lagoa une-se à Universidade do Algarve para criar Observatório Municipal

«Conseguir criar uma ferramenta que sirva ao executivo para conhecer muito bem o seu território, mas também à Universidade para […]

«Conseguir criar uma ferramenta que sirva ao executivo para conhecer muito bem o seu território, mas também à Universidade para poder mostrar aos seus alunos como os ensinamentos se aplicam no real». Este é um dos objetivos do Observatório Municipal de Lagoa, que será criado numa parceria entre a Câmara local e a Universidade do Algarve.

O lançamento deste Observatório, inédito à escala regional, foi uma das consequências principais da visita que o reitor António Branco fez, na sexta-feira, ao concelho de Lagoa, a segunda de um périplo de visitas aos municípios, que começou em Loulé.

Francisco Martins, presidente da Câmara de Lagoa, explicou o objetivo da visita, pela parte da autarquia: «mostrar ao reitor o que aqui se passa, que potencialidades e problemas temos e criar um forte elo de ligação com a Universidade».

O autarca anunciou logo no início, nas sessões que durante a manhã decorreram no Convento de S. José, que Lagoa tinha «muitos desafios a colocar à Universidade». Estava dado o tom para um dia de trabalho muito produtivo e franco, do qual surgiram já diversas parcerias entre as duas instituições.

O autarca recordou que, no seu mandato iniciado em Setembro, a colaboração com a UAlg já é um hábito: o estudo da viabilidade da criação da empresa intermunicipal para o setor da água, resíduos e limpeza urbana, que resultará da extensão da EMARP de Portimão para Lagoa, foi encomendado à universidade, assim como uma auditoria à Fatasul e um estudo sobre o seu eventual futuro.

«Cada vez mais a gestão de uma autarquia não pode ser feita de forma casuística, porque nós, país, estamos a pagar erros de gestão por causa dos investimentos em que não foi acautelado o futuro. Já não pode haver, no Algarve, 16 planos de investimento de cada uma das autarquias, o investimento e o planeamento têm de ser transversais».

 

Reitor quer amor correspondido

«Muitas vezes ouvia dizer que a Universidade está de costas voltadas para a região e isso fazia-me confusão», disse, por seu lado, o reitor António Branco. «Pus a hipótese, que estou agora a testar, de isso ser mais uma questão afetiva que real e institucional. E por isso, porque sou um homem de afetos, vou abraçar os municípios. E gostaríamos que houvesse correspondência nesse amor», acrescentou.

Quanto ao Observatório Municipal, cujas bases ficaram lançadas na visita da equipa reitoral a Lagoa – o reitor António Branco e a vice-reitora Ana de Freitas – José Fernando Vieira, arquiteto paisagista e técnico superior municipal, explicou o que é que, da parte da Câmara, se pretende: «há uma multiplicidade de desafios que são postos às autarquias neste momento. Tudo se passa a uma velocidade estonteante. Por isso, precisamos de um tubo de ensaio que teste tudo isso, que possa aferir da qualidade até das parcerias que se vão estabelecendo».

«O repto lançado está aceite. Só é preciso identificar as pessoas que darão corpo a isso e institucionalizar esta parceria, para o reconhecimento formal no âmbito da Universidade», respondeu entusiasmado o reitor António Branco.

E logo ali, na primeira parte da visita, ficou estabelecido, entre o reitor e o presidente da Câmara, que os representantes de cada uma das partes nesse futuro Observatório Municipal serão Nuno Loureiro, professor da UAlg, há anos ligado a Lagoa através de outros projetos, e José Vieira, técnico municipal, também com larga experiência.

O Observatório será, frisou Nuno Loureiro, «uma ferramenta que caracteriza de forma muito objetiva o território, no seu passado, presente e no evoluir futuro». O objetivo, acrescentou o professor universitário, é «dar aos municípios capacidade de ter uma visão rápida e muito dinâmica sobre o seu território».

Do lado da Universidade, disse ainda, «permite enriquecer as experiências que oferecemos aos alunos, com casos reais». «Nós ganhamos com o conhecimento da Universidade e a Universidade ganha aqui uma nova área de trabalho e até investigação», resumiu, por seu lado, Francisco Martins, presidente da Câmara.

«Ao professor Nuno Loureiro caberá também encontrar agora os protagonistas dentro da Universidade. A assinatura [de um protocolo com a Câmara de Lagoa] é o mais simples», concluiu António Branco.

 

Encontros de Fotografia de Lagoa também juntam Câmara e UAlg

Mas esta não foi a única parceria a sair da visita reitoral a Lagoa. Este ano terá lugar a primeira edição dos Encontros de Fotografia temáticos, que decorrerão anualmente em Lagoa. Uma peculiaridade dos Encontros de Fotografia de Lagoa é adotarem um tema que será distinto ao longo dos anos. Em 2014, será o Mar, em 2015, será a Vinha e o Vinho.

Os Encontros, segundo o protocolo preliminar que foi assinado entre Francisco Martins e António Branco, são organizados pelo Município de Lagoa e pela Universidade do Algarve, e acolhem várias parcerias, entre as quais com o Sul informação e com a NIOBO.

Em 2014, os Encontros de Fotografia de Lagoa incluem na sua programação duas exposições de fotógrafos convidados (João Mariano e Nuno Vasco Rodrigues), três concursos de fotografia (Para além do azul do mar, O azul do mar é para todos, e Vistas de baú), uma exposição das melhores fotografias a concurso, dois workshops de formação (fotografia subaquática, com Rui Guerra, e Adobe Lightroom, com Fernando Amaro) e um dia de Conversas Abertas sobre fotografia.

Nuno Loureiro explicou que «a fotografia é um nicho de turismo fantástico», recordando que ele próprio, que se dedica a fotodocumentar as libelinhas e libélulas existentes no Algarve e partilha essa informação num site por si desenvolvido, recebe frequentemente contactos de pessoas de Portugal e do estrangeiro que querem saber «onde podem fotografar a espécie A, B, ou C».

O que se espera, acrescentou, é que «estes Encontros anuais de fotografia tragam a Lagoa um público muito ligado a este nicho temático».

O presidente da Câmara, que foi desde a primeira hora o maior entusiasta dos Encontros, sublinhou que a ideia é «levar o nome e a riqueza paisagística de Lagoa a um nicho de pessoas que anda à volta disto». De tal forma que, «da meia centena de eventos que integram a nossa programação anual, este provavelmente é o evento âncora de todo o ano do Mar».

 

Freguesias, promontório, ambiente e vinho

Os presidentes ou outros representantes das quatro freguesias do concelho de Lagoa acompanharam a visita do reitor António Branco e não deixaram de colocar-lhe algumas questões. Luís Alberto, presidente da Junta de Freguesia de Ferragudo, por exemplo, sublinhou os problemas dos 14 pescadores ainda registados naquela vila. O reitor, aliás, durante a tarde, ao longo da visita que fez a vários pontos do concelho, viria a conversar demoradamente com um desses pescadores, que lhe falou dos problemas com que se debate a pesca artesanal.

À tarde, a visita reitoral saiu das paredes do Convento de S. José, onde decorreram as sessões da manhã, para visitar pontos estratégicos das quatro freguesias lagoenses. Primeiro, o promontório de Nossa Senhora da Rocha, com a sua ermida classificada, um dos pontos mais visitados do concelho, mas que apresenta problemas de estabilidade da arriba. A erosão costeira e os problemas das pequenas comunidades piscatórias foram alguns dos temas abordados na conversa informal.

Depois, a fortaleza de Nossa Senhora da Encarnação, em Carvoeiro, onde o arquiteto José Vieira mostrou o andamento da construção do passadiço em madeira que liga ao Algar Seco, num  percurso sobre a falésia à beira mar. «O custo cénico deste passadiço sobre a arriba é compensado largamente pelos 500 metros acessíveis que aqui ganhamos», explicou.

De seguida, a comitiva rumou ao estacionamento sobre o molhe de Ferragudo, para falar dos problemas das praias, nomeadamente as estuarinas, da erosão costeira, e novamente dos pescadores. Tudo isso foi abordado ao ar livre, com uma bela vista sobre a foz do Arade.

Neste ponto, surgiu outra possibilidade de parceria entre o Município e a Universidade: a Praia Grande, que, como o nome indica, é mesmo a maior praia do concelho de Lagoa, precisa de ser ordenada. O desafio que ficou foi o de lançar um concurso para os alunos do curso de Arquitetura Paisagista da UAlg, para que apresentem propostas para o ordenamento daquele vasto areal.

Foi depois a vez de rumar mais para o interior, para visitar o Parque Municipal do Sítio das Fontes, com o seu moinho de maré recuperado e a funcionar e ainda o anfiteatro ao ar livre, onde este ano voltará a ter lugar o festival Lagoa Jazz. O reitor António Branco, um homem ligado ao teatro e a outras artes performativas, gostou do espaço e, sobretudo, do seu enquadramento, com um braço do rio Arade como pano de fundo.

Para terminar em beleza, só faltava provar os vinhos de Lagoa, por isso a comitiva rumou à Quinta dos Vales, onde pôde visitar as caves e degustar um branco monocasta «viognier», que escorregou muito bem acompanhado do pão com chouriço ainda quentinho, que acabara de ser cozido no forno de lenha do Sítio das Fontes.

 

Fasquia muito alta

Em jeito de balanço, o reitor António Branco falou no final da visita com o Sul Informação, salientando «a atitude da Câmara de Lagoa, de serviço público, que é totalmente compatível com o que pretendemos».

No que diz respeito a uma das parcerias que ficou já estabelecida, a dos Encontros de Fotografia, António Branco recordou que «a assinatura do protocolo já vem depois da parceria estar a acontecer na realidade».

O que o protocolo faz é «dar instrumentos às pessoas para operacionalizar, no âmbito da Universidade», o que for necessário para pôr de pé os Encontros.

Quanto ao Observatório Municipal, o reitor frisa: «lancei o desafio a um colega da Universidade que está aqui presente para coordenar o processo. É com ele que vamos tentar encontrar, dentro da Universidade, outros colegas docentes e investigadores, numa perspetiva multidisclipinar, que possam ser agregados à noção de Observatório. É no professor Nuno Loureiro que deposito agora a confiança para desenvolver o projeto. Neste momento o Observatório é apenas uma ideia».

«O professor Nuno Loureiro já aceitou publicamente e será ele que ficará à frente do projheto e que poderá congregar, dentro da instituição, outros docentes e outros especialistas de áreas diversas, que possam contribuir para o Observatório», conclui.

Depois das duas primeiras visitas a Loulé a a Lagoa, seguem-se agora Castro Marim e São Brás de Alportel, iniciativas que o reitor diz ver com «muita expectativa». É que «Loulé e Lagoa puseram a fasquia muita alta, em termos de acolhimento, de diversidade do que foi mostrado e do entusiasmo na colaboração com a Universidade».

 

 

 

 

 

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