Paris e Hawai cruzam-se no Algarve Central

O nome do espetáculo remete para locais e culturas remotas, mas o seu ADN e inspiração são cem por cento […]

O nome do espetáculo remete para locais e culturas remotas, mas o seu ADN e inspiração são cem por cento algarvios. A produção «Paris, Praia do Hawai» vai ter a sua estreia mundial no Cine-Teatro de Loulé já no sábado, dia 17 de março e é fruto de um exercício coletivo de criação de três conceituados criadores e de intérpretes e músicos recrutados na região, que percorreu o Algarve Central .

Esta é mais uma produção realizada no âmbito da rede «Movimenta-te», criada no âmbito da rede de cidades Algarve Central, que junta Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel e Tavira. É também um ensaio mais profundo daquilo que foi o espetáculo «Vale», que percorreu os cinco concelhos no final de 2011, onde a população local foi chamada a pisar o palco.

Em «Paris, Praia do Hawai», a colaboração local vai muito além da participação. Os três criadores convidados para levantar este projeto, a coreógrafa Madalena Victorino, a bailarina Ainhoa Vidal e o encenador Gonçalo Amorim quiseram que esta fosse uma criação coletiva e, de certa forma, abdicaram em grande parte do seu papel de líderes para dar espaço às ideias dos intérpretes que recrutaram no Algarve, muitos dos quais algarvios.

Os três criadores foram os convidados desta semana do programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. A entrevista pode ser ouvida na íntegra no sábado, dia em que estreia o espetáculo, em 102.7 FM ou em www.rua.pt.

Por que razão uma produção com um cariz regional tão forte remete para locais que aparentemente pouco têm a ver com o Algarve?

«É um título insólito, para chamar a atenção e para pensar o Algarve de outra maneira, com humor, com praia com certeza, mas não só. Por vezes o Algarve parece Paris, quando entramos num bar à noite, mas também pode parecer o Hawai, quando nas praias as palhotas já não são os toldos às riscas que nós reconhecemos como portugueses», explicou Madalena Victorino, que prefere falar em «olhar diferente» sobre a região e não em crítica.

«O Algarve é também uma Paris, uma grande cidade. Tem muito de cosmopolita, tem muito de cidade de luz e muito potencial transformador, pois sempre foi um local onde se cruzam muitos povos e onde muita gente ruma à procura de oportunidades», considerou, por seu lado, Gonçalo Amorim.

«O espetáculo tem algo de documental, é um documentário ficcionado. E a narrativa que está por detrás dele é o impacto que este território algarvio, na sua diversidade, teve na nossa equipa. Nos nossos sete cocriadores e em nós próprios. E é isso que está espelhado em cena», referiu Gonçalo Amorim.

 

O espetáculo tem «riqueza humana enorme»

 

«Há neste espetáculo uma riqueza humana enorme. Desde os músicos orientados pelo Zé Eduardo, que reside aqui em Faro, os intérpretes, que na sua maioria são criadores e algarvios e o mar de gente que vem destes cinco municípios, que se juntam a nós para oferecer ao espetáculo o seu próprio povo, o Povo de Paris. E, nesse sentido é um espetáculo de uma riqueza e beleza muito grande», disse Madalena Victorino.

«Houve encontros muito interessantes, neste processo, descobrimos pessoas fascinantes. Desde o inventor de pranchas de surf e artista plástico Octávio Lourenço de São brás de Alportel, ao Marco Conceição, que decidiu transformar a sua casa num museu dedicado às lendas da região», acrescentou a coreógrafa.

O processo de criação foi, de resto, inclusivo, com os criadores convidados e os seus congéneres recrutados na região a fazer muito trabalho de campo.

«Nós começamos por ter uma série de visitas, guiadas por pessoas locais. Desde entrar num café, encontrar pescadores e entrar nas suas conversas, ir a locais onde trabalham, como a lota. Tivemos sempre aquela olhar externo que tenta entrar dentro das experiências destas pessoas», disse Ainhoa Vidal.

Contactos que também são com os locais que se querem transportar para o palco. «Tentámos que o corpo esteja numa praia, quando também está no palco, ou encontrar o corpo da ovelha ou do pastor que vimos. E é também falar com as pessoas e perceber qual a sua verdadeira experiência e que querem contar, não apenas aquela que nós pensamos que eles têm», acrescentou a bailarina espanhola.

A parte documental já antes referida por Gonçalo Amorim será reforçada por projeção vídeo, a cargo de Mauro Amaral. Ainhoa Vidal dá o exemplo de uma cena sobre o Aeroporto de Faro, onde as pessoas entram «como grande potência». «Colocam-nos no palco uma situação real», resume.

 

Nota: Todas as fotos são de Ricardo Machado, cortesia da rede «Movimenta-te»

 

Criação:

Ainhoa  Vidal, Gonçalo Amorim, Madalena Victorino em co-criação com os intérpretes: Ana Gabriel, Cláudia Ermitão, Luís Santos, Pedro Pires Pinto, Pedro Romerias, Raquel Rua, Tomé Quirino e Victor Ortuno.

Música:

Direção musical e interpretação por Zé Eduardo, acompanhado por Jorge Caeiro,  Marco Martins, Sónia “Little B” Cabrita e Javier Orti

Calendário:

Loulé: 17 de março às 21h30 e 18 de março às 16 horas; Cine-Teatro Louletano.

Faro: 24 de março às 21h30 e25 de março às 16 horas; Teatro das Figuras.

São Brás de Alportel: 31 de março às 21h30 e 1 de abril às 16 horas; Cine-Teatro Sambrasense

Olhão: 7 de abril às 21h30 e 8 de abril às 17 horas; Auditório Municipal de Olhão.

Tavira: 14 de abril às 21h30 e 15 de abril às 16 horas; Local a designar.

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