Rui Virgínia quer ser o «Remexido» dos vinhos do Algarve

«Remexido, por Rui Virgínia». É apenas assim que são identificados os dois novos vinhos da Quinta do Barranco Longo, lançados […]

«Remexido, por Rui Virgínia». É apenas assim que são identificados os dois novos vinhos da Quinta do Barranco Longo, lançados há poucos dias num jantar exclusivo para convidados em São Bartolomeu de Messines, no qual o Sul Informação participou.

No rótulo não há qualquer indicação da região onde os vinhos são produzidos, nem do ano, enquanto no contra-rótulo não há a habitual discriminação das castas usadas. E isto é uma opção do jovem vitivinicultor algarvio Rui Virgínia, proprietário da Quinta do Barranco Longo, perto de Algoz, no concelho de Silves.

«São 10 anos de projeto numa região que não tinha nenhuma tradição em vinhos de qualidade. Comecei aos poucos com os rosés, depois os tintos e os brancos. No entanto, todo o produtor ambiciona fazer um vinho superior a todos os outros e, hoje, considero ter dois que estão à altura dos melhores vinhos de Portugal – um branco e um tinto – a quem dei um nome que representa muito a minha zona e o Algarve», disse Rui Virgínia na apresentação do seu «Remexido».

Aproveitando a rebeldia da figura histórica que escolheu para nomear estes seus vinhos topo de gama, que apresentou como «ícones» da sua casa vinhateira, Rui Virgínia explicou o porquê dos rótulos sem qualquer referência ao Algarve.

«Estes não são, por opção minha, vinhos certificados». É que, explicou, «um vinho é reconhecido pela sua qualidade, não é uma entidade que vai dizer se ele é bom ou não para ir para o mercado, através de um selo que coloca na garrafa. A opinião dos consumidores é a verdadeira prova dos nove».

«Remexido» era a alcunha de um guerrilheiro algarvio, nascido em Estômbar e que viveu em Messines, a dois passos do local onde decorreu o jantar de lançamento dos novos vinhos. Era uma figura de guerrilheiro algo romântica, que se rebelou contra a ordem estabelecida, um miguelista que, no século XIX, se bateu contra as tropas Liberais de D. Pedro I e acabou fuzilado em Faro. Era também uma espécie de Robin dos Bosques algarvio, ou pelo menos assim ficou recordado nas memórias e nas lendas.

Era, como salientou Rui Virgínia, «um espírito rebelde da serra». Como rebeldes são os vinhos «Remexido» agora lançados, em especial o tinto.

E como rebelde é o próprio vitivinicultor, habituado a desafiar o status quo do setor vinícola, como quando lançou, em 2008, um espumante a que chamou apenas «Quê» e que foi o primeiro e até agora único vinho espumante alguma vez produzido no Algarve. Rui Virgínia salientou que o nome «Remexido», escolhido para os seus novos vinhos, para estes topo de gama, «significa o sentido de justiça e a estranheza da criação de certas leis, como a da criação das Comissões Vitivinícolas». Ora, sublinhou, estas Comissões são «insuportáveis e insustentáveis em determinadas regiões», nomeadamente «numa região como o Algarve, que tem tão poucos produtores».

«Não faz sentido nenhum estar a pagar um selo a uma instituição que não tem sustentabilidade económica. A legislação que temos é para acabar com as pequenas Comissões Vitivinícolas, porque não têm meios para fazer o controlo e a certificação. É tudo areia que nos querem atirar para os olhos».

Por isso, anunciou, «o Barranco Longo vai deixar de certificar os seus vinhos e vai deixar de usar a palavra Algarve nos seus rótulos. Vou usar Vinhos de Silves, apostando num conceito de vinhos de terra como já é hábito em Espanha». «É uma decisão que vou tomar em breve, a de deixar de certificar os meus vinhos».

Por não ser certificado, o vinho de topo «Remexido» não ostenta a palavra «Algarve», nem o ano ou as castas, porque a legislação não o permite.

Mas a Quinta do Barranco Longo prefere assim, até porque Rui Virgínia manda analisar o vinho num laboratório certificado da Universidade de Évora.

«O mercado é que vai decidir se somos bons ou não», garantiu. Por isso, acrescentou Rui Virgínia, «quero ser Remexido em muita coisa, mas acima de tudo na qualidade dos meus vinhos!»

Os novos vinhos «Remexido», do Barranco Longo, foram colocados no mercado na semana passada, mas, como sempre acontece com a produção desta quinta, só em locais de venda selecionados, como os Supermercados Apolónia, no Algarve, ou a Loja Gourmet do El Corte Inglés, em Lisboa.

Ao todo, foram produzidas 6600 garrafas de tinto, com as castas Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Cabernet-Sauvignon e Syrah, e 1000 garrafas de branco, a partir das castas Arinto, Viognier e Chardonnay.

Convidada para o jantar exclusivo de apresentação dos novos vinhos «Remexido», a presidente da Câmara de Silves, que até foi professora de Rui Virgínia, recordou o «grande sonho que nós temos»: o de uma adega maior para a Quinta do Barranco Longo.

A nova adega, vocacionada para o enoturismo, deverá ter dois mil metros quadrados de área total, dois pisos com diversas divisões, como uma loja, um show room, um salão para eventos ou festas, e uma sala com capacidade para 120 pessoas seguindo um modelo de anfiteatro. Para já, porém, a adega é apenas um sonho.

 

Barranco Longo: uma história de sucesso

O produtor Rui Virgínia, da Quinta do Barranco Longo, em Algoz, começou o seu percurso em 2001, aventurando-se nos primeiros ensaios de microvinificação, com vista à criação de produtos de alta qualidade.

Dois anos mais tarde, nasciam os primeiros vinhos, um rosé e dois tintos, sob a insígnia da Quinta do Barranco Longo, numa produção de sete mil litros.

Em 2005, Rui Virgínia já via a sua produção triplicada, conseguindo, através da alta qualidade, que o produto fosse reconhecido e posicionado no mercado.

Aos poucos, a Quinta do Barranco Longo aumenta a sua produção, tanto que, nas vindimas de 2009, por exemplo, já entraram na adega 150 toneladas de uva, o que corresponde a cerca de 150 mil garrafas.

Tem sido um caminho baseado no cuidado e paciência, apoiado no crescimento progressivo da implantação do produto no mercado e no aumento da sua qualidade a cada ano que passa.

 

Siga a Quinta do Barranco Longo no Facebook: http://www.facebook.com/pages/Quinta-do-Barranco-Longo

 

Fotos de: Vasco Célio

 

 

Comentários

pub