Artesanato cria «Ligações» internacionais na Serra do Caldeirão

Érico saiu do Brasil para ir estudar para a Suécia, Andreia cresceu na Amadora, mas rumou à Holanda para completar […]

Érico saiu do Brasil para ir estudar para a Suécia, Andreia cresceu na Amadora, mas rumou à Holanda para completar os seus estudos em Design. A Dona Cremilde sempre viveu em Palmeiros, na freguesia louletana de Salir. Nos últimos dias, têm trabalhado em conjunto em pleno coração da Serra do Caldeirão, unidos pelo evento «Ligações – o artesanato ligado ao futuro», do projeto «TASA – Técnicas Ancestrais, Solução Atuais», que termina hoje, em Loulé.

Andreia e Érico são dois dos oito jovens designers participantes na residência artística promovida pelo TASA, no âmbito do «Ligações» e a Dona Cremilde um dos artesãos que os estão a ajudar a colocar de pé os seus projetos. Esta iniciativa dura há cerac de uma semana e os seus resultados podem ser vistos hoje, sábado, no Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé (CECAL), no Parque Municipal, às 17h30.

A apresentação dos resultados da residência artística lança a festa de final do «Ligações», que inclui ainda o seminário «Perspetivas para as artes tradicionais», uma sessão de encerramento oficial, seguida da degustação de produtos confecionados pelo chef Augusto lima. Também haverá música, a cargo da banda «Garatuja».

Esta quinta-feira, era nítido o clima de ansiedade vivido pelos jovens designers, dada a aproximação da data limite para ter os seus trabalhos concluídos. No caso de Érico e Andreia, que trabalhavam com Dona Cremilde numa casa de Palmeiros, esta expetativa contrastava com a serenidade e sorriso aberto da artesã.

O mesmo sorriso com que abre a porta de casa e dá as boas-vindas aos visitantes. Os seus mais de 70 anos não são percetíveis, tendo em conta a ligeireza de pés e da mente. «Quando era pequena, a minha avó dizia-me: Quem muito dorme, pouco aprende. E eu, na ilusão de que queria aprender muito, não dormia», recorda.

Hoje, muitos anos depois, pouco mudou. «Vai ficar acordada até à uma da manhã e às sete horas já está a pé», diz Andreia, sem esconder a sua admiração. «A Dona Cremilde também tem algo de designer, pois gosta de pensar em coisas novas e aborrece-a fazer sempre a mesma coisa», acrescentou, ao que a visada anui, meio envergonhada por causa do elogio. «Tenho feito muitas coisas da minha cabeça», disse.

A pequena oficina de empreita de palma da artesã, situada num anexo da sua casa, tem sido o local onde os jovens têm gasto boa parte dos seus dia. Também é aqui que têm enfrentado os desafios colocados pela tarefa que têm em mãos, já que, confessam, a parte mais complicada é a criação em conjunto.

«A parte que é mais difícil e interessante é o facto de sermos dois designers a pensar o produto. Temos contado com a ajuda de Dona Cremilde, para que o produto seja possível de executar, pois nós estamos habituados a ter um pensamento mais voltado para a indústria», confessam os jovens.

No sítio dos Palmeiros, a obra em curso é uma Bolsa do Caminhante, um produto que será feito «exclusivamente de materiais naturais, até mesmo o botão», que será de madeira. Esta é, de resto, uma das premissas do «Ligações», que pretende que se façam produtos usando matéria-prima e técnicas tradicionais do Algarve.

 

Artesanato a pensar no futuro

No CECAL, há mais equipas a trabalhar afincadamente. Aqui, pensam-se outros produtos, nomeadamente uma mala de computador amovível para bicicleta, feita maioritariamente em madeira e cortiça e um recipiente de fabrico artesanal, em barro e cortiça, que permita tirar da equação a caixa de cartão do vinho embalado em sacos alumínio.

As jovens designers, que formam duas das quatro equipas que estão desenvolver produtos no âmbito da residência artística, estão a trabalhar na componente imaterial, uma vez que ainda esperam que os seus produtos acabem de ser fabricados por diferentes artesãos.

Wanda, designer eslovaca que vive há dois anos em Lisboa, não esconde o nervosismo e confessa que gostaria de ter tido mais tempo. «Gostava que a residência fosse mais longa, pois tenho interesse em conhecer as técnicas», disse. Foi isso que a levou a inscrever-se nesta iniciativa, da qual soube através das redes sociais. «O TASA, já conhecia», referiu.

Também Rita e Sandra, que desesperam com os problemas que um programa informático lhes está a dar, dizem que gostavam de ter tido mais tempo. Sandra, algarvia, já está habituada a este tipo de realizações, uma vez que já participou num evento com objetivos semelhantes, embora com uma metodologia bem distinta, o «Design&Ofícios». «Ambos funcionam bem», considerou.

Noutro ponto da Serra do caldeirão, a quarta equipa, composta por uma designer portuguesa e outra do Cazaquistão, desenvolvem um Espanta-Pombos. Todos os produtos desenvolvidos têm o denominador comum de ser úteis e atuais, com um olhar para o futuro.

Assim, nada melhor do que servirem de “entrada” para o seminário «Perspetivas para as artes tradicionais». Nesta conversa estarão presentes designers, artesãos e entidades relacionadas com a formação, entre as quais a diretora do Sul Informação Elisabete Rodrigues, para discutir o futuro do artesanato e o artesanato como profissão de futuro.

A residência também acaba hoje, mas os seus frutos continuarão. Até porque o TASA, projeto lançado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, entrou numa nova fase, em que a empresa ProActive Tur desempenha uma papel fundamental. A ideia é dinamizar mais a parte comercial, para criar uma dinâmica económica interessante em torno dos produtos que foram inventados.

O «Ligações» foi promovido pela Câmara Municipal de Loulé e a organização está a cargo da ProActive Tur. Conta com a CCDR Algarve como parceira e organizadora e tem o apoio da Casa da Cultura de Loulé e do Cria (UALG).

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