Gato escondido com o rabo de fora

Esta semana assisti a uma das coisas mais estranhas que já pude presenciar enquanto jornalista: a «apresentação pública» do projeto […]

Esta semana assisti a uma das coisas mais estranhas que já pude presenciar enquanto jornalista: a «apresentação pública» do projeto do chamado Parque Ambiental da Praia Grande, por parte da Finalgarve, empresa proprietária dos terrenos para onde está aprovado um megaempreendimento turístico.

E coisa estranha porquê? Este megaempreendimento turístico, por se situar na única faixa ainda não construída do litoral de Silves e ao lado da Lagoa dos Salgados, tem sido muito contestado por associações de defesa do ambiente, vizinhos, empresas de turismo de natureza, gente que se preocupa com coisas que vão para além do seu bolso e dos seus interesses mais imediatos.

Ora, tendo em conta esta polémica, presumia-se que a apresentação pública, ou seja, ao público, às pessoas, de um projeto que se anuncia e autointitula como «Parque Ambiental» iria despertar muitas atenções e atrair muita gente interessada à Biblioteca de Silves, onde na segunda-feira decorreu a sessão.

E foi o que aconteceu: a sala estava cheia!

Está bem…dirão os leitores, mas e porquê «estranha»? É que, no fim da apresentação pública, depois de terem falado dois senhores ligados ao projeto da Finalgarve e quando o presidente da Câmara de Silves ainda mal tinha acabado a sua curta intervenção, esses senhores já estavam a levantar-se e a dar por terminada a sessão. O público que enchia a sala ficou estupefacto e houve quem perguntasse se, como é habitual nestas coisas, não havia um período de perguntas e respostas, para esclarecer dúvidas.

Ao que um dos senhores da Finalgarve, por sinal o seu presidente do Conselho de Administração, com o ar mais mal disposto que se pode imaginar, respondeu, lapidar: «Aqui não há perguntas!»

Não sei se este fim intempestivo estava previsto no guião desta apresentação pública, mas garanto que a senhora que lá estava da empresa de comunicação e assessoria de imprensa da Finalgarve tinha um ar atarantado…

É que a apresentação até tinha corrido bem – embora não trouxesse nada de verdadeiramente novo e de facto o tal Parque Ambiental pouco mais fosse que pegar em projetos e ideias de outras entidades, por sinal públicas, e voltar a apresentá-las como suas. Mas, para os menos atentos, aquilo parecia bonito e cheio de boas intenções.

Só que, com aquele fim abrupto e, porque não dizê-lo, mal educado, ficou tudo de boca aberta, incluindo alguns representantes de entidades públicas convidadas.

Se a ideia era passar a imagem de que a Finalgarve, embora anuncie que vai fazer ali «um dos maiores empreendimentos turísticos do país», até se preocupa muito com o ambiente e os passarinhos da Lagoa dos Salgados, o resultado foi desastroso. Toda a operação foi um verdadeiro fiasco de relações públicas! E não há empresa de imagem e comunicação que consiga agora limpar a má impressão com que ficaram todos quantos assistiram à sessão.

Os ecologistas que lá estavam aproveitaram logo para salientar que, se a empresa Finalgarve não queria responder a questões, é porque tem algo a esconder. Se estivesse de boa fé, argumentaram, não se importaria de gastar mais uma meia horita a esclarecer dúvidas.

Não estou aqui, sequer, a discutir os méritos do projeto do chamado Parque Ambiental da Praia Grande. Apenas estou a partilhar a minha perplexidade por tamanha falta de fair play democrático e de capacidade de diálogo.

Tais atitudes só nos podem levar a pensar que anda ali gato escondido com o rabo de fora…

 

Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e
que pode ser ouvida em podcast aqui.


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