De há uns anos para cá que, na opinião publica, vai aumentando o interesse pela presença da vegetação na cidade, acompanhando os estudos que investigadores têm vindo a realizar, década após década. Mas poucos se manifestam.
Quer queiramos quer não, as alterações climáticas aí estão a mostrar em todo o mundo a força das reacções do planeta aos atentados que os seres humanos, inchados de sabedoria e arrogância, levaram a efeito, sobretudo depois da revolução industrial.
Segundo o IPCC, que continua a monitorizar, ano após ano, os parâmetros físico-químicos e biológicos da nossa Terra, a temperatura da superfície do planeta aumentou 1,09ºC desde a época pré-industrial.
O seu impacte revela-se nas condições da atmosfera, nos oceanos, na litosfera e na biosfera. O aumento das emissões de gases de estufa cria problemas cada vez mais sérios em todo o mundo, sem precedentes nos tempos de que o homem tem conhecimento.
“Cada aumento de 0,5% da temperatura global vai provocar aumentos graves na frequência e severidade de calores extremos, tempestades e seca”.
As acções dos Governos, até aqui, têm sido escassas e de pequena escala, e há regiões do planeta em que milhões de pessoas já vivem nas piores condições inimagináveis no nosso tempo tão cheio de cientistas e investigadores; há milhões de pessoas em situação de escassez severa de água e as altas temperaturas possibilitam a expansão de doenças graves como a malária, o vírus do Nilo e outras infecções.
A nossa região mediterrânica é uma das que mais ameaçada está pela seca, como revela o mapa anexo, publicado pelo IPCC.
Num livro partilhado comigo, em 1996, Gonçalo Ribeiro Telles escrevia: “As avenidas e alamedas, as faixas de protecção e integração das vias rodoviárias e das ferrovias, os sistemas costeiros e as linhas de água viabilizam, na cidade, a existência dum sistema verde continuo idêntico à estrutura permanente da paisagem rural”.
De então para cá, a presença da Natureza na cidade já não oferece dúvidas, excepto aos negacionistas e aos especuladores fundiários.
Uma das medidas mais eficazes para a redução do CO2 e para garantir condições de temperatura mais amenas é a reflorestação – e então no espaço urbano a sua função é fundamental.
As cidades, e particularmente no Sul, como o Algarve, exigem que cada vez mais se aposte no arvoredo. Mais do que jardins de dispendiosa manutenção e exigência em água, o que precisamos no nosso Sul é de arvoredo, de sombras, aproveitando todos os recantos e espaços mortos para instalar árvores capazes de satisfazerem as exigências climáticas e garantirem um ambiente urbano saudável e acolhedor.
Nem todas as autarquias têm correspondido a este requisito e tem que ser a opinião pública, os munícipes, a fazerem valer a sua vontade.
Pior ainda, em algumas autarquias (a maior parte…) continua a epidemia do vírus da “poda municipal”, que arrasa todos os anos as árvores das cidades. Este ano voltei a ver exemplos de bradar aos céus!
Para acrescentar preocupações, neste próximo Verão, é provável que vamos ter problemas de abastecimento de água, estamos no segundo ano consecutivo de baixas precipitações, os aquíferos estão a ficar exaustos e não se vê ninguém – mesmo ninguém! – a tomar medidas sobre o assunto.
Quando for o caso, se chegarmos a isso, de fechar as torneiras uma data de horas por dia, então vêm os entendidos do Governo e das Autarquias a dizerem para sermos conscientes – só que, deles, não temos provas de que estejam mesmo conscientes…
Autor: Fernando Santos Pessoa é arquiteto paisagista e engenheiro silvicultor. Foi fundador do Serviço Nacional de Parques… e escreve com a ortografia que aprendeu na escola
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