Trabalhadores essenciais do Aeroporto de Faro recusam-se a “pagar para trabalhar”

A Ana – Aeroportos de Portugal quer cobrar 40 euros de estacionamento por mês aos elementos da PSP, do SEF, da GNR, da Autoridade Tributária e do IPMA que desempenham funções essenciais

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

“Não vamos pagar para trabalhar!”, lia-se na única faixa empunhada por trabalhadores essenciais do Aeroporto de Faro, no protesto que realizaram esta manhã junto a esta infraestrutura, contra a intenção da ANA – Aeroportos de Portugal/Vinci de lhes passar a cobrar estacionamento a partir 30 de Junho.

E, bem vistas as coisas, mais não seria necessário, porque esta é a mensagem, simples e direta, que os elementos da PSP, do SEF, da GNR e da Autoridade Tributária, que hoje se manifestaram em Faro, querem dirigir à empresa Vinci, que tem a concessão dos aeroportos nacionais.

«Até agora, todos os funcionários que trabalham aqui, dos organismos públicos, tinham direito a estacionar gratuitamente no parque que é reservado aos funcionários. Entretanto, a ANA notificou todos os organismos públicos que a partir do dia 1 de Março deverá ser efetuado um pagamento por cada elemento de 40 euros», disse esta manhã aos jornalistas José Rosado, dirigente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP).

«Esse prazo já foi prorrogado até 30 de Junho, segundo consta, por contactos feitos através do Ministério da Administração Interna e da PSP e de outros organismos. Mas eles estão intransigentes e querem que a partir de 30 de Junho comece a ser pago e cada elemento terá que disponibilizar 40 euros por mês», acrescentou.

 

José Rosado ASPP – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Estas mulheres e homens, que sempre tiveram um lugar onde poder deixar o seu carro nas imediações do Aeroporto, sem nada lhes ser cobrado, desempenham todos eles funções essenciais, que são condição básica para que um aeroporto possa receber voos comerciais e ser certificado a nível internacional.

Trata-se de agentes da autoridade, das diferentes forças policiais, mas também de agentes da alfândega e até funcionários do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (meteorologia).

Isso significa que, mesmo quando o Aeroporto não recebe voos, tem que haver elementos destes serviços presentes. Os restantes têm de estar sempre de prontidão, em caso de necessidade.

«As autoridades que aqui trabalham, estão cá 365 dias por ano, 24 sobre 24 horas.  Portanto, é óbvio que a utilização de automóvel particular não é uma opção, é uma obrigação, porque não temos outra forma de poder vir trabalhar», disse, por seu lado, Nuno Santos, membro da direção nacional e delegado regional do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF.

«Nós estamos aqui em exercício de funções públicas, de interesse público, e a exercer a autoridade do Estado. O que a Vinci está a fazer é a potenciar os seus lucros à custa de funcionários que, para cumprir a lei e o interesse público, serão, literalmente, obrigados a pagar para trabalhar», ilustrou o mesmo responsável.

 

Nuno Santos – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«A nossa missão é de carácter permanente. E temos uma exigência de um grau de prontidão que não é exigida a mais ninguém. Imagine que acontece aqui uma situação qualquer, uma catástrofe – Deus queira que não. Todo o efetivo vai ser mobilizado, mesmo a malta que estiver de folga, pessoas que estiverem de férias, como já aconteceu. Quando o avião da Martinair caiu em 1992 , houve elementos da PSP que estavam de folga e tiveram que vir trabalhar no dia a seguir, outros que estavam de férias e tiveram que vir trabalhar», recordou José Rosado.

Mas porque não usar transportes públicos ou estacionar fora do Aeroporto, em locais gratuitos?

«O estacionamento na envolvência do aeroporto é proibido. Os transportes públicos são praticamente inexistentes. Não temos hipótese, temos de estacionar num parque limítrofe ao Aeroporto. É uma obrigação que a Vinci tem, a de proporcionar aos trabalhadores que aqui exercem funções as condições necessárias», ilustrou Nuno Santos.

«Não há qualquer hipótese. Ainda por cima, na altura em que há mais movimento, para além dos residentes, as pessoas que não querem estacionar aqui nos parques também estacionam lá fora e bloqueiam, totalmente, o acesso a qualquer tipo de parqueamento. Não existe estacionamento [gratuito] nenhum aqui à volta, no espaço de 2 ou 3 quilómetros não existe sítio nenhum para se estacionar», assegura José Rosado.

 

Alcides Carvalho – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Alcides Carvalho, trabalhador da alfândega, dá o seu exemplo pessoal.

«Sinto-me lesado porque moro no concelho de São Brás de Alportel. Eu, para cumprir os horários que me são impostos pela minha entidade patronal, que podem ser das 8h00 às 16h00, das 16h00 às 00h00 ou das 00h00 às 8h00 – isto 365 dias por ano -, não tenho transportes públicos que facultem a minha vinda e o meu regresso a casa. Tenho que utilizar o meu automóvel», disse.

«Trabalho na alfândega há 33 anos, grande parte dos quais aqui neste aeroporto, onde sempre nos foi facultado um parque de estacionamento. Porque razão é que, neste momento, a ANA/Vinci nos passa a querer cobrar o estacionamento?», questionou.

Esta é, aparentemente, uma pergunta sem resposta. «Pois, isso é o que causa a grande revolta nos elementos. É que não há uma justificação sobre o porquê de isto ir acontecer», disse José Rosado.

O dirigente da ASPP e representante regional da associação sindical lembrou que, em 2018 e em 2019, «houve um aumento exponencial dos passageiros aqui no aeroporto» e que os profissionais essenciais estiveram sempre disponíveis.

«Houve inúmeras alterações de escalas nas horas de pico, no Verão, Páscoas, Natais. Os elementos têm um percentual para marcar as férias, têm ali uma percentagem residual para marcar férias, porque é quando há o maior movimento. Nessa altura, deram-nos palmadinhas nas costas: “vocês fazem um excelente trabalho, estão sempre disponíveis, isto só corre bem por causa de vocês”. (…) Agora, existe esta crise devido à pandemia, e, à primeira situação, obrigam a gente a ter que pagar, também, a crise. Daí o slogan “Não vamos pagar para trabalhar”», rematou.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Quanto ao valor pago, «é um exagero», mas, mesmo que fosse menos, não seria aceite por estes trabalhadores. «Qualquer que fosse o valor, obviamente que é errado que seja cobrado», acredita Nuno Santos.

«Se eu tiver um estacionamento como o que há, por exemplo, na Pontinha, em Faro, que é coberto, tem segurança e tem todas as condições, é natural que tenha de pagar. Agora, o parque que nos querem cobrar tem duas cancelas: uma à entrada, outra à saída. Toda a gente sabe quais são as temperaturas no Verão, aqui no Algarve, e o que é um carro estar 8 horas ao sol», disse, por seu lado, Alcides Carvalho.

«No Inverno, a mesma coisa. Quantas vezes não saímos do carro, está a chover torrencialmente e chegamos aqui ao Aeroporto completamente encharcados? 40 euros por mês para ter um carro balizado por duas cancelas? Acho que é, pura simplesmente, demasiado mau», afirmou o funcionário da alfândega do Aeroporto de Faro.

Neste momento, continuam as conversações com a ANA Aeroportos, que envolvem as direções nacionais dos diferentes organismos, tendo em conta que esta é uma questão que afeta não só os funcionários de Faro, mas também os dos outros aeroportos nacionais.

«Eu espero que a questão seja resolvida, quer pelo MAI, quer pela própria direção do SEF e de outras forças, porque isso terá mesmo de acontecer», afirmou Nuno Santos, do SEF.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

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