A demolição de casas ilegais nas ilhas-barreira foi alvo de campanhas e de muitas críticas, em geral porque se sentiram atacados alguns interesses que nada tinham a ver com primeira habitação de utentes da Ria Formosa e que ali tivessem mesmo que morar.
E houve muita especulação e posições indesculpáveis de autarcas que, em vez de promoverem a defesa da qualidade ambiental duma zona lagunar tão preciosa em termos de ecologia do território, preferiram ganhar simpatias eleitorais, apelando à não demolição dessas casas abarracadas.
O Parque Natural da Ria Formosa, (PNRF) área de interesse europeu, foi criado para que a qualidade ambiental fosse melhorada e não sacrificada.
O certo é que, mesmo não tendo sido concluído o programa de demolições, hoje já se notam os benefícios resultantes das que foram executadas e estamos a assistir a uma notável recuperação das dunas e da sua vegetação.
Nesta altura, as dunas são um verdadeiro jardim florido e os goivos da praia estão a instalar-se com toda a força.
Em termos de Conservação da Natureza a situação é patente: com os últimos temporais deste Inverno, nas áreas onde as dunas estão fixadas, estas pouco sofreram; os maiores estragos foram ao longo da estrada, onde havia uma faixa de pequena duna que, em tempo, esteve também trabalhada pelo PNRF.
Mas a quadrícula de painéis de contenção foi destruída pelos utentes da praia e ninguém se importou em reparar – nem o Parque, nem a Câmara Municipal, nem as Autoridades Marítimas. Parece que é preferível andarem todos os anos a limpar as toneladas de areia que vêm cair na via…
O passadiço que, em tempos, foi construído, melhoramento típico de quem sabe o que é a conservação da duna, está hoje bastante degradado e nenhuma entidade pública o repara.
O mesmo se passa com as casas de madeira que o PNRF promoveu, para tentar educar as pessoas e permitir que acabassem a pouco e pouco as barracas de tijolo, latas e plástico. Muitas delas também já estão em ruínas.
As fotografias abaixo mostram zonas da duna que já tiveram casas e estão a recuperar bem e zonas em que a vegetação é pujante e onde não se verificam movimentos significativos de areias levadas pelos ventos.
Em contraste com estas situações de Conservação da Natureza, vê-se o estado de caos em que se transformou a zona lagunar, que hoje, na maré baixa, apenas é um extenso areal sem fim à vista.
Fotos: Fernando S. Pessoa
Autor: Fernando Pessoa, arquiteto paisagista
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