T4: E6 – Grijó>>Porto
Estava eu muito bem no Algarve, a conversar com a malta amiga quando, de repente, me lembrei: “Eh pá, tenho que ir fazer o Caminho!!! E agora??!!”. Nesta altura, acordei de repente, aflito com o sonho, e preguei mais uma (das várias) cabeçadas no beliche de cima.
Mas ainda não contei as peripécias do resto do dia de ontem, no Albergue de Grijó, uma velha casa que foi doada à Confraria de Santiago. O hospitaleiro era muito comunicativo e tivemos uma longa conversa sobre as dificuldades de manter o albergue e das necessárias obras que ele precisa.
Havia três quartos, ocupados pelos peregrinos que chegaram primeiro, e uma grande camarata, onde ficaram três italianos, rondando os cinquenta anos. Aliás, os maiores fregueses do albergue são italianos.
No meio da conversa, apareceu um argentino a oferecer mate, servido numa pequena caneca com duas asas e bebido através de uma palhinha de metal com uns furinhos para não deixar entrar as ervas. Eu gosto destas experiências e, enquanto bebia, fui ouvindo-o a falar entusiasticamente do modo de preparação e do solene aviso de que NÃO se pode mexer, como se faz com o chá. O sabor é estranho, mas bebe-se.
A malta nova, rondando os trinta, mais eu, tipo avô, resolvemos ir jantar fora. Então tínhamos uma brasileira de Ribeirão Preto, a tal mexicana com quem me vou descruzando, que mora em Dallas, Texas, e o argentino, que mora em Barcelona.
Neste grupo, havia quem já tivesse feito um Caminho, quem tivesse feito dois e o argentino já tinha feito três. Uma das impressões com que ficámos é que há muito poucos peregrinos na rota, mas mesmo assim as mulheres, que vão sozinhas, sentem que não há perigo nenhum. A uma delas, umas senhoras mandaram-na parar para lhe oferecer pão.
E já têm tudo combinado para que, quando chegarem a Santiago de Compostela, os respetivos maridos e filhos lá estejam à espera.
O argentino não, é um espírito livre que anda ao sabor da aventura, nem se interessa por futebol (estava a dar um jogo para o Europeu). Assim, o Ronaldo teve uma vitória esmagadora.
A brasileira tem o sonho de ir ao Evereste e já andou a treinar com uma máscara que simula as condições da falta de ar em altitude. Por isso, diz que, se conseguir ir, fica pelo acampamento base.
Foi um bom jantar de “velhos” amigos que, provavelmente, já não se vão voltar a encontrar. A conversa foi toda em português e espanhol, mas, quando alguém perguntou qual era o mais difícil de entender, todos olharam para mim…
Contrariamente ao que eu esperava, a etapa de hoje até foi agradável durante uma grande parte do tempo, com a chuva a querer aparecer. Foi um põe impermeável, tira impermeável, gozado pelo argentino que comentou que tínhamos que ter pensamento positivo, era só água, imagina se fosse ácido. Mas, para um algarvio, meia dúzia de pingos de chuva já transtornam.
No que diz respeito aos jardins, hoje tivemos um projeto minimalista de uma urbanização de cogumelos, mas havia outras opções.
Entretanto, em Canelas voltou a aparecer a minha amiga EN1. Já em Gaia, na Avenida da República, cheia de movimento, oiço um “bom caminho” gritado de um carro que ia passando.
Se vocês acham que há muitos turistas no Algarve, deviam vir ao Porto para ver como é que é. Na ponte D. Luís, mal se podia romper, por todo o lado eram tuk tuks, línguas estrangeiras, visitas guiadas, uma barafunda terrível. E, se não fosse a app, nunca conseguiria chegar ao Albergue, onde fui o número 4 de uma fila com mais de uma vintena de peregrinos.
Hoje foram 22,5 quilómetros porque tive que fazer um desvio até uma loja de artigos desportivos, porque achava que tinha umas meias que não prestavam. Quando lá cheguei, aconselharam-me precisamente essas. Pelo sim, pelo não, comprei outras diferentes.