T4: E10 – Aborim>>Ponte de Lima
Hoje acordei com uma meia dúzia de galos a cantar, uns ainda com voz de franguito, outros já com uma voz decente. No albergue, ofereceram-me um pequeno galo de Barcelos em cerâmica. Estou mesmo em terra de galos.
Esta parte do Caminho é muito bonita, mesmo quando apanha troços locais alcatroados, calçadas de paralelepípedos e empedrados, sempre no meio do verde das hortas e pastagens. E que inveja que eu tenho, água por todos os lados, a correr na beira da estrada, a sair das muitas bicas e fontes que vou encontrando.
Como a rota é feita pelo meio do campo, é ver milho e mais milho cultivado. Ontem, achei estranho o tal senhor que disse que andava a ver o milho. Hoje passou por mim um carro que parou mais à frente. O condutor saiu, foi para o meio do milheiral, cruzou os braços e ficou a olhar para o milho. Pelos vistos, há aqui qualquer coisa especial que eu não percebo.
Além do milho também há muito vinho. E parece que é altura de sulfatar as vinhas, pois tenho apanhado muitos tratores a espalhar a nuvem do produto – numa delas tive que parar e esperar, senão também era sulfatado.
Isto dos peregrinos parece que é por levas. Há dias em que há muitos, noutros não se encontra quase ninguém. Mas vamo-nos encontrando. Hoje é a terceira vez que vou dormir ao pé do americano.
Estou a dar por mim a valorizar muito os bancos junto ao caminho. Há alturas em que necessitamos de tirar a mochila e descansar – e sabe muito bem essa comodidade. Mas a expressão de maior felicidade que vi hoje foi uma estrangeira sentadinha na relva com os pezinhos dentro de água.
Durante os 24 quilómetros de hoje passei por lugarejos, lugares e aldeias com nomes como Vitorino dos Piães, vi alminhas, capelas, igrejas e solares e cheguei a Ponte de Lima, onde, há uns anos, tive uma epifania ao ver um peregrino atravessar a ponte romano-medieval e disse: “Vou fazer o Caminho de Santiago! “.
E cá estou!