O Km 0 do combate contra a desertificação foi traçado em Alcoutim

Centro de Competências da Luta Contra a Desertificação fez um balanço da sua atividade

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

É um território empobrecido, como muitos que existem no interior, mas, pelas suas caraterísticas específicas, é também uma espécie de laboratório, onde se procura desenvolver “curas” para a desertificação e para outros fenómenos que a acompanham, como o despovoamento. Alcoutim é o “Km 0 da Desertificação”, a partir do qual o Centro de Competências ali sediado quer começar a criar o caminho para combater este flagelo.

O conceito do quilómetro zero surge do trabalho já realizado pelo Centro de Competências da Luta Contra a Desertificação (CCDesert) e foi tema de um encontro que teve lugar na passada semana, em Alcoutim, onde foi feito um balanço do que o centro tem vindo a fazer, desde a sua criação, em 2019, e traçar o caminho futuro.

«Em vez de nos dispersar, vamos focar-nos neste Km 0 da Desertificação, que é um dos sítios onde os indicadores de desertificação são maiores e onde o despovoamento também é grande», com o objetivo de reverter estes fenómenos, explicou aos jornalistas Alice Teixeira, coordenadora do CCDesert à margem do encontro.

Para reverter a desertificação «temos de ter pessoas. Por isso, também vamos ter que fazer algo para cativar as pessoas a ficarem cá».

Isso consegue-se «nestas mudanças que nós queremos operar», que trarão com elas «muitos empregos»

«Se queremos ter mais árvores, temos que as plantar. Se queremos medir os parâmetros, tem que haver pessoas lá para as medir. Temos de associar o turismo à luta contra a desertificação. Temos de trabalhar com muitas coisas ao mesmo tempo», defendeu Alice Teixeira.

 

Alice Teixeira – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

A parte mais visível do que já está a ser feito é o Campo Experimental CCDesert Alcoutim&Mértola, onde se está a estudar a melhor forma de enriquecer os depauperados solos deste território, nomeadamente as zonas de pinhal intensivo que foram plantadas há duas décadas, com apoios da União Europeia.

Este foi o projeto que esteve mais em foco, na sessão, e motivou inclusivamente uma visita técnica, guiada pelo técnico Hugo Pinto, da Associação Cumeadas.

Neste campo experimental, está a ser feita «uma recolha de elementos, da biodiversidade, da humidade do sol», para encontrar estratégias para que os decisores saibam «o que é que podem fazer de diferente para que as coisas se alterem», enquadrou Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara de Alcoutim.

«No fundo, estamos a tentar perceber o que é que se pode fazer de diferente no solo, com as características que ele tem, com as condições que existem, com o clima que temos, para reverter a desertificação».

Quanto à sessão da semana passada, acaba por ser um esforço do CCDesert, da Câmara de Alcoutim, e da Cumeadas – Associação de Proprietários Florestais das Cumeadas do Baixo Guadiana para revelar o que tem sido feito pelo Centro de Competências e os seus parceiros na luta contra a desertificação.

«Nós penitenciamos-nos um pouco pela pouca divulgação do trabalho que temos vindo a fazer. E não é que o trabalho seja pouco», enquadrou Osvaldo Gonçalves.

«Nós trabalhamos estas matérias da desertificação, relacionadas com um problema que é tão visível e sobre o qual há tantos estudos já feitos, mas em que há tanta dificuldade em passar da teoria à prática e, sobretudo, conseguir ter resultados», acrescentou.

Dessa forma, tem havido alguma cautela, «porque também não queremos que a própria comunicação vulgarize o trabalho que se está a fazer».

 

Osvaldo Gonçalves – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Além do Campo Experimental Alcoutim&Mértola, já concluído, estão ainda em curso outros três projetos.

Um deles é o “Des100Des”, um projeto apoiado pelo PDR2020 descrito pelo CCDesert como um «observatório do potencial desenvolvimento rural associado a ações de combate à desertificação», assente numa ferramenta de georreferenciação de «apoio à decisão de agentes, atores e investidores de territórios suscetíveis».

Os outros dois são apoiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência.

O “Reaver – Mais Floresta” prevê a «modelação geográfica, para avaliar a suscetibilidade agroflorestal à desertificação, entre outros parâmetros».

O “Robotic 4 Farmers”, por seu lado, pretende colocar «a robotização ao serviço da agricultura», através da «recolha de dados (solo, vegetação e biodiversidade)» e a sua posterior interpretação, recorrendo à inteligência artificial.

Este projeto também inclui uma componente de «testes no controlo de infestantes, com laser concentrado solar».

Para que estes projetos possam vingar, Alice Teixeira fala em ir em busca do conhecimento que já existe sobre a desertificação, para se apropriar dele.

«Deram-nos o crachá Centro de Competências da Luta Contra a Desertificação. Deram-nos luvas de boxe. Então, vamos à luta! Mas, para isso, temos que ter a força, a técnica e temos de nos apropriar do conhecimento que já existe», rematou a coordenadora do CCDesert.

 

 

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