Vila Vita foi palco para apresentar programa de combate à sazonalidade do emprego

«Bom exemplo» do resort situado no litoral do concelho de Lagoa devia ser «replicado»

O resort de luxo Vila Vita, em Alporchinhos, no litoral do concelho de Lagoa, emprega em permanência 900 pessoas, número que, no Verão passado, subiu para 1157. Ou seja, apenas 257 trabalhadores são contratados de forma temporária, para ajudar no pico de maior azáfama no complexo.

Ao contrário de muitos hotéis e resorts no Algarve, o Vila Vita nunca fecha e encontra sempre forma de manter ocupados os seus 900 trabalhadores permanentes, nem que seja com ações de formação, além de lhes oferecer salários acima da média, outras regalias como seguro de saúde, transporte, alojamento para quem vem de longe ou mesmo equipamentos topo de gama para facilitar o trabalho.

Foi por tudo isso que o Vila Vita foi o local do Algarve escolhido para ser visitado, na passada sexta-feira, pelo secretário de Estado do Trabalho. O governante aproveitou para apresentar o novo programa 365 ON, com o qual se pretende combater a sazonalidade do emprego no setor da hotelaria e turismo. A apresentação foi feita perante elementos da administração e direção do Vila Vita, as vice-presidentes da Câmara de Lagoa e da Região de Turismo do Algarve, o vice presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), a diretora regional do IEFP e a diretora do Centro de Emprego do Barlavento, bem como representantes da CCDR Algarve, da Universidade do Algarve e da AHETA.

«A minha vinda cá hoje não é inocente. Conhecendo eu o vosso trabalho e a vossa experiência, entendo que deveria ser usada como exemplo de uma boa prática e mesmo generalizada, tanto quanto possível», sobretudo «numa região onde sabemos que o tema da sazonalidade é forte», sublinhou Miguel Fontes.

«Quando foi pedido à dra. Madalena Feu, diretora regional do IEFP, que identificasse quem é que, no Algarve, poderia ser um bom cartão de visita para apresentar o novo programa 365 ON, imediatamente ela nos sugeriu o vosso grupo», continuou o secretário de Estado. «Se alguém ficar enciumado, tem bom remédio, é fazer o mesmo, e eu amanhã estarei lá a dizer exatamente as mesmas palavras».

 

No restaurante “Ocean”, durante a visita – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

A indústria da hotelaria, acrescentou, sobretudo a de maior qualidade, passa por «proporcionar experiências e aí a componente humana é essencial». Tendo «trabalhadores motivados, comprometidos com o projeto, isso é garante de excelência do serviço».

Miguel Fontes acrescentou que não há nenhuma dicotomia entre «a agenda sindical» e a «agenda da competitividade». Numa altura em que o mundo «se caracteriza, essencialmente, por uma economia assente nas pessoas e em que todos andamos a disputar talento, a querer atraí-lo, valorizá-lo e retê-lo, se isso é verdade à escala entre países, entre regiões, entre setores de atividade, entre empresas, o que a história nos ensina é que quem não o fizer é penalizado».

Ainda recentemente, com a pandemia, o turismo teve essa experiência: «Quem não cuidou bem dos seus, teve muita dificuldade, quando quis retomar a atividade, em fazer que os seus voltassem a ser seus», salientou. No entanto, admitiu o secretário de Estado, «ainda há muitas lideranças empresariais e organizações a quem falta perceber que serão mais fortes se apostarem mais nas pessoas».

Ora, o objetivo do novo Programa 365 ON é, revelou Miguel Fontes, «apoiar as empresas para que possam, mantendo os postos de trabalho durante todo o ano, nos períodos em que haja menor necessidade de ter uma força de trabalho tão expressiva, combinar, na percentagem que entenderem, a componente de trabalho com a componente de formativa».

E não será o IEFP a dizer qual a componente formativa, será o contrário. «O IEFP é que se põe à disposição das empresas, para que, se estas tiverem necessidade de recorrer a programas formativos, os possa proporcionar». O objetivo será «usar o tempo e os recursos de uma forma mais inteligente». A formação poderá passar por «melhorar competências linguísticas ou níveis de serviço, aproveitar para fazer formação em novas tecnologias, introduzir novos processos de trabalho», entre muitas outras áreas.

 

Rui Nunes, apresentando o grupo – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Rui Nunes, diretor executivo de Recursos Humanos da Vila Vita, disse ao Sul Informação que, muito provavelmente, o grupo não irá recorrer de forma significativa ao novo programa anunciado pelo secretário de Estado Miguel Fontes. Mas considerou-o «muito útil» para outras empresas.

É que, na Vila Vita, a formação é uma constante, até usando os recursos internos do grupo, «através de cross-training, visitas a produtores, apoio na qualificação». Ainda na semana passada a equipa de cozinha, todos os chefs e subschefs, visitaram a quinta dos azeites Monterrosa, bem como um produtor de flor de sal, ambos fornecedores dos restaurantes do grupo.

«Qual é a empresa que liberta os seus colaboradores em tempo de trabalho para ir fazer uma visita ao produtor? É uma constante preocupação nossa proporcionar conhecimento aos nossos colaboradores. Se nós queremos que eles desempenhem melhor as suas funções, nada melhor do que ajudar as pessoas no desenvolvimento das suas competências», sublinhou Rui Nunes.

Depois de uma visita ao complexo Vila Vita, situado mesmo à beira mar, junto à praia, o secretário de Estado do Trabalho explicou em mais detalhe, ao Sul Informação, o novo Programa 365 ON.

O programa, recordou, «procurará responder a um problema há muito identificado na indústria da hospitalidade e do turismo, e aqui na região do Algarve, com particular expressão, que é o problema da sazonalidade».

 

O secretário de Estado Miguel Fontes com Kurt Gillig, diretor-geral do Vila Vita – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

«Estamos em plena época baixa e, apesar do esforço da diversificação do produto turístico no Algarve, de modo a não ficar tão dependente apenas do produto sol e mar, a verdade é que ainda há muita atividade turística que é marcada por uma enorme sazonalidade. E isso é um problema grave para os trabalhadores e para a nossa economia. O que nós queremos é convidar as empresas a fazerem aquilo que os bons grupos, nomeadamente este que eu tive a oportunidade de visitar e que é uma referência na indústria do turismo, há muito percebeu: a importância de investir na formação, investir na qualificação e usar os tempos de menos utilização intensiva do trabalho, para recorrer à formação».

«É isso que nós queremos fazer, disponibilizando às empresas apoio para que possam financiar parte dos custos salariais dos seus trabalhadores nessa altura, combinando uma componente de trabalho com uma componente de formação e o Estado apoiando a componente da formação profissional».

O único problema do novo Programa 365 ON é que ele corre o risco de nunca ver a luz do dia, pelo menos com este Governo, que está apenas em gestão até tomar posse um novo executivo que saia das Eleições Legislativas de Março próximo. Para mais porque, segundo revelou o secretário de Estado, a medida terá ainda de ser discutida no seio da concertação social, o que deverá acontecer ainda este mês.

Questionado pelo Sul Informação sobre esse aspeto, Miguel Fontes respondeu que «no nosso entendimento, isto é um programa que não conflitua com a situação do Governo estar em gestão, porque não se trata propriamente de nenhuma nova medida, trata-se de um programa de apoio à atividade empresarial que se insere numa estratégia que é anterior e que o Instituto de Emprego e Formação Profissional terá condições de implementar».

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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