Sri Lanka e Portugal – grave lacuna diplomática e cultural

Portugal não tem relações diplomáticas com o Sri Lanka, senão uma cônsul honorária que não sabe uma palavra de português

“Passaram ainda além da Taprobana”, assim começa Camões o seu poema, que canta as grandezas lusitanas. A Taprobana, depois Ceilão e hoje designada Sri Lanka, foi sempre uma terra mítica para os portugueses, que oficialmente ali chegaram em 1505, mas existe lá um penedo, como se pode ver na fotografia, que tem gravadas as armas portuguesas e a data de 1501.

Reza a lenda que Adão, expulso do Éden bíblico, terá ido viver para aquela ilha, cujo nome hoje quer dizer o Paraíso.

Os portugueses mantiveram-se por lá até os holandeses, que sempre foram uns piratas atrás das nossas possessões quando estávamos sob o jugo espanhol, nos terem expulsado em inícios do século XVII; mas, ao contrário desses novos ocupantes, que acabariam também por ser expulsos pelos britânicos no século XVIII, que pouco ou nada deixaram na memória dos locais, a herança portuguesa perdurou pelos séculos fora.

A tal ponto a nossa língua estava lá enraizada, que os próprios holandeses, para se entenderem com os diversos pequenos reinos locais, tiveram de adoptar a língua portuguesa como língua de contacto regional.

Calvinistas, destruíram igrejas e arruinaram fortalezas, eliminando umas e construindo outras como partes dos seus sistemas defensivos. No entanto, o Forte de Galle, impressionante construção portuguesa, está classificado como Património Mundial pela UNESCO.

Mas, para assegurarem a continuidade da sua presença, os holandeses têm investido na reconstrução de monumentos e até num Museu Marítimo em que se fala de tudo sem uma única palavra para a presença portuguesa que os antecedeu…

Portugal nunca lá investiu um escudo – e, no entanto, existe uma comunidade que se orgulha da herança portuguesa, que canta, dança e festeja essas suas tradições.

Quando, neste Dezembro de 23, um pequeno grupo de portugueses visitou a Taprobana, conviveu numa festa com a comunidade Portuguese Burgher na cidade de Batticaloa, a qual antecipou os festejos do seu Dia Nacional para manter esse convívio, memorável para todos.

Alguns nomes portugueses são muito usados entre os locais, como Maria, Fernando e outros; as mulheres são registadas no baptismo como “dona”- dona Maria, dona Fátima, etc; a indústria da panificação é uma herança lusitana, pois o paan é hoje um alimento indispensável e, numa padaria, até a proprietária tem Silva no seu nome. Pode-se almoçar ou jantar no Restaurante Cyriil Rodrigo.

Como ocupantes, também fizemos por lá algumas tropelias, destruindo templos budistas obedecendo a ordens da Inquisição e roubando a relíquia do “Dente de Buda” que era sagrada para os locais- mas os holandeses deixaram piores recordações nesses aspectos… Sirva de consolação.

É significativo o culto praticado na Igreja de Santo António, em Colombo, onde acorrem fiéis de outras confissões (fazendo lembrar o culto de S. Francisco Xavier, em Goa).

Pois Portugal não tem relações diplomáticas com o Sri Lanka, senão uma cônsul honorária que não sabe uma palavra de português, nem nunca sequer visitou a referida comunidade de cultura portuguesa…

Tirando algum pequeno trabalho da Fundação Oriente, Portugal não faz nada para manter e ampliar as relações culturais com uma terra mítica e onde o nosso passado é festejado- vieram a um Festival na Figueira da Foz, há uns anos.

É uma lacuna imperdoável.

 

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