Em greve, solidários

Atacar o jornalismo é atacar um dos principais pilares da nossa Democracia

Hoje, dia 10 de Janeiro, entre as 14 e as 15h00, e correspondendo ao pré-aviso lançado pelo Sindicato dos Jornalistas, o Sul Informação adere à greve de solidariedade para com os colegas do Global Media Group e, também, de modo a alertar o poder político e a sociedade civil para a situação do setor dos media.

Os três jornalistas que fundaram o Sul Informação – Hugo Rodrigues, Nuno Costa e Elisabete Rodrigues – conhecem bem demais, infelizmente, a situação de salários em atraso ou de recibos verdes não pagos. Foi precisamente uma situação dessas que, em Agosto de 2011, nos fez sair do jornal onde então trabalhávamos. Deixámos para trás meses e meses de salários e subsídios em atraso e, no caso do Nuno, um ano de recibos verdes (falsos recibos verdes…) por pagar.

Por isso (mas não só!), manifestamos a nossa inteira solidariedade para com os nossos colegas do Jornal de Notícias, do Diário de Notícias, da Rádio TSF (em especial, para com a Maria Augusta Casaca, jornalista multi premiada que é a voz da TSF no Algarve desde a fundação dessa rádio), e de todos os outros títulos do Grupo.

O que se está a passar no Grupo Global Media é um verdadeiro caso de polícia, mas é também um reflexo de uma longa crise com a qual os órgãos de comunicação social se debatem em Portugal. Destes fala-se mais, porque se trata de meios nacionais.

Mas há anos que a imprensa regional agoniza, como o provam os sucessivos fechos de títulos por esse país fora ou o fim de edições impressas deficitárias para se concentrarem em edições online, com as quais os responsáveis pelos jornais não sabem muito bem o que fazer, porque lhes falta formação e cultura online.

Os estudos sobre os “desertos noticiosos” em que extensas partes do território nacional se transformaram confirmam esta lenta agonia.

O atual ministro da Cultura Pedro Adão e Silva, que até já foi comentador na comunicação social, nunca mexeu uma palha para debater com os media – nacionais, regionais, locais – formas contemporâneas e transparentes de apoio, tendo como modelo o que existe há muitos anos em países desenvolvidos da Europa, como a Suécia ou a Alemanha.

Eu própria perguntei uma vez ao ministro da Cultura, numa deslocação que ele fez a Marmelete, quando pretendia discutir com a imprensa regional eventuais medidas de apoio, mas o que ele me respondeu foi…nada!

Há cerca de um ano que estou ligada à organização do 5º Congresso dos Jornalistas, que vai decorrer em Lisboa, de 18 a 21 de Janeiro, já na próxima semana. Eu própria, em representação dos meus camaradas do Sul Informação, sou convidada para falar no painel sobre “Jornalismo de Proximidade”.

A situação catastrófica da maior parte da comunicação social em Portugal será, sem dúvida, o tema dominante neste Congresso, que até se realiza no ano em que se comemora meio século de Democracia em Portugal. Triste ironia, não é?

Há um princípio que diz que o jornalista nunca deve ser a notícia. Neste caso da Global Media, por todas as razões e mais algumas, os jornalistas devem ser a notícia! Têm mesmo de o ser!

Para o comum dos cidadãos, falar dos salários em atraso dos jornalistas poderá ser como falar dos salários em atraso numa empresa de calçado do Norte ou de construção do Sul. Algo que é chato, mas que não afeta o seu dia a dia.

No entanto, a verdade é que estas situações graves que fragilizam – e de que maneira! – a comunicação social fragilizam também a nossa Democracia, que este ano, como já recordei acima, até comemora a data redonda dos 50 anos.

Enquanto cidadãos, é bom que percebamos que estes ataques cada vez mais frequentes à comunicação social põem em causa a Democracia que tanto nos custou a conquistar. Porque o jornalismo, pela sua missão de vigilância, de denúncia, de levantar as pedras para espreitar o que está lá por baixo, de dar as notícias doa a quem doer, é um dos pilares da Democracia. Hoje e sempre!

Como ontem escreveu o Sindicato dos Jornalistas, num email enviado a todos os seus sócios, «nós, jornalistas, estamos na linha da frente contra o totalitarismo, a intolerância, a mentira, o boato, a manipulação, a ignorância».

«Não é por acaso que o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres referiu recentemente que “a capacidade para criar desinformação a uma escala global e minar factos estabelecidos cientificamente constitui um risco existencial da própria humanidade”.  Não é por acaso, também, que o artigo 19.º da  Declaração Universal dos Direitos do Homem faz referência à liberdade de informação como um direito fundamental e o n.º 2 do artigo 11.º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia refere expressamente que “a liberdade e o pluralismo dos media têm de ser respeitados”. Não é por acaso que a Constituição da República Portuguesa, Artigo 37.º, consagra a Liberdade de expressão e informação, e o Artigo 38.º a Liberdade de imprensa e meios de comunicação social», acrescentou o SJ.

«A insegurança no emprego, a par com os salários baixos praticados no setor, representa um obstáculo grave ao desenvolvimento da profissão e constitui um entrave ao próprio direito dos cidadãos de serem informados livremente: um jornalista que não consegue pagar as contas ou ter um mínimo de estabilidade no emprego está mais exposto às pressões de administrações menos escrupulosas e do poder em geral. Isso fere de morte a Liberdade de Imprensa, um dos mais determinantes pilares da nossa democracia», disse ainda o Sindicato dos Jornalistas.

Por tudo isto que escrevi (e transcrevi) acima e muito mais que se poderia dizer, esta quarta-feira, dia 10 de Janeiro, entre as 14 e as 15h00, os jornalistas (e todos os trabalhadores) do Sul Informação estarão em greve, em solidariedade com os nossos camaradas da Global Media.

Há princípios dos quais não podemos abdicar!

 

 

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