Desafios económicos e financeiros para 2024

O ano de 2024 será particularmente desafiante e exigente para Portugal e para a Europa

Durante 2023, vários acontecimentos impactaram a economia portuguesa e europeia, causando significativas alterações económicas e sociais, como o aumento da inflação, das taxas de juro e a guerra no Médio Oriente.

Contudo, desde o início de 2020 que têm ocorrido acontecimentos inesperados e disruptivos, como a pandemia COVID-19 e a guerra na Ucrânia.

Esta sequência de acontecimentos provocou quebras na produção, dificuldades na obtenção e transporte de matérias-primas, disrupção nas cadeias de abastecimento ou oscilações de preços, o que conduziu, neste período, a aumento do desemprego (pelo menos temporário), desigualdades sociais, inflação, fricções no mercado de trabalho, abrandamento económico e consequente recessão económica, apesar das medidas governamentais de apoio a vários setores.

Neste contexto de acontecimentos, vários desafios económicos e financeiros em Portugal e na Europa emergem para 2024, dos quais destaco:

o incerteza na inflação: apesar da taxa de inflação na zona Euro tender para se aproximar do objetivo pretendido pelo Banco Central Europeu (BCE) de 2%, subsiste ainda alguma incerteza aquando se alcançará essa meta.
O Banco de Portugal (BdP) prevê para 2023 uma taxa de inflação de 5.3% para Portugal e 5.4% para a Zona Euro, decorrente de uma descida significativa nos preços da energia (em 2022 registou 8.1% e 8.4%, respetivamente).
Para 2024, a previsão é de 2.9% para Portugal e 2.7% para a Zona Euro, embora exista alguma incerteza relacionada com os preços da energia e com a guerra no Médio Oriente, entre outros fatores.
Nos dois anos seguintes, o valor andará em torno dos 2%. Para atenuar as pressões inflacionistas não é expectável que o BCE diminua drasticamente a taxa de refinanciamento, atualmente em 4.5%, mas de forma gradual.

o impacto das alterações nas taxas de juro: sendo a maioria dos créditos a particulares e empresas em Portugal concedidos a taxa variável, o valor do indexante é determinante no valor da prestação.
As taxas Euribor de diferentes prazos tiveram aumentos significativos em 2023, depois de um longo período de taxas 0% ou negativas, devido ao aumento da taxa de refinanciamento do BCE ao longo de 2023.
Uma vez que a maioria dos créditos fazem revisão de taxa de juro a cada 6 ou 12 meses uma eventual descida da taxa do BCE (e dos indexantes) apenas se repercutirá ao longo de 2024 e não no momento da alteração, o que não trará uma folga imediata no valor das prestações.
Terá, assim, impacto no consumo dos particulares e investimento das empresas no próximo ano.

o diminuição da liquidez disponível: o ano de 2024 ficará marcado por uma diminuição da liquidez disponível nos mercados financeiros.
Com a retirada dos estímulos financeiros do BCE, que duraram vários anos com o objetivo de promover o crescimento económico, os bancos terão que procurar fontes de financiamento alternativas, que serão mais escassas e mais caras.
Durante 2024, irão vencer 491 biliões de Euros de empréstimos TLTRO (operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas) do BCE a bancos europeus, incluindo portugueses.
Desta forma, os bancos terão menor liquidez disponível e mais cara, o que implicará uma otimização e maior escrutínio na concessão de crédito por parte dos bancos, refletindo-se na obtenção de crédito pelos clientes.

o alterações e choques geopolíticos: a guerra na Ucrânia gerou impactos substanciais nas economias europeias, nomeadamente no fornecimento de matérias-primas, produtos alimentares e mercados energéticos.
Com o recente conflito no Médio Oriente, e a possibilidade de alargamento a outros países próximos, o risco de disrupção nos preços e fornecimento de energia emerge novamente, podendo conduzir a aumento nos preços de energia e, consequentemente, na produção e no nível geral de preços.
Uma possível nova tendência inflacionista paira no ar e será certamente acompanhada de perto pelo BCE em 2024 que, ao verificar-se, não hesitará em promover novo aumento na taxa de juro.

o performance da economia: a economia europeia registou um surpreendente crescimento negativo do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2023 de duas das maiores economias, França e Alemanha. O Eurostat prevê um débil crescimento do PIB em 2023 na Zona Euro, de 0.6%.
Em 2024, a previsão é de 0.8% e nos dois anos seguintes de 1.5%. Já para Portugal, o BdP prevê um crescimento da economia de 2.1% em 2023, 1.2% em 2024 e 2.2% e 2.0% nos dois anos seguintes.
O fraco crescimento de Portugal, ainda que superior ao do conjunto de países da Zona Euro, não é imune aos efeitos da inflação, do menor rendimento disponível das famílias e da baixa performance dos principais parceiros económicos do país, refletindo essencialmente a diminuição das exportações portuguesas nos próximos anos.

O ano de 2024 será particularmente desafiante e exigente para Portugal e para a Europa. O nosso país crescerá acima da Europa, mas, ainda assim, relativamente pouco.

A performance das economias dependerá de diversos fatores exógenos aos países e terá um nível de incerteza significativo, seja na inflação, taxa de juro, geopolítico ou mercados financeiros.

 

Autor: Hugo S. Gonçalves é licenciado em Economia e mestre em Economia do Turismo e Desenvolvimento Regional, pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve.
Co-autor de artigos sobre impactos económicos do turismo, publicados nas revistas científicas Tourism Management e Tourism Economics.
Membro efetivo da Ordem dos Economistas, do colégio de especialidade de Economia Política.
Desenvolve a sua atividade profissional na banca há mais de uma década, em diversas áreas, nos últimos anos com particular incidência no risco de liquidez.

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economista

 

 

 

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