Costura, uma paixão que não cabe no coração de Fátima Palma

Foi por sua própria vontade que começou a aprender a costurar

“Adoro, gosto, gosto de criar! Gosto, gosto, gosto!”, diz a costureira Fátima com a fita métrica ao pescoço, entre sorrisos.

Fátima Palma tem 63 anos e vive nas Gambelas, na freguesia de Montenegro, em Faro. Desde muito nova que sente paixão por aquilo que faz, tendo começado a trabalhar como costureira há 40 anos.

“Temos uma peça, idealizo-a e, no final do trabalho, vejo o resultado daquilo que idealizei, com a minha criatividade”.

Fátima sabe fazer de tudo o que envolva costura, desde colchas, lençóis, cortinados, almofadas, fatos de homem, de senhora, de criança, entre outros.

 

 

No seu caso, não se trata de uma vocação de família, passada de geração em geração. Na sua família, não havia ninguém que fizesse costura, foi da sua livre vontade seguir esse caminho.

“Não tirei nenhum curso, porque, quando eu fui para a costura, não havia cursos no Algarve. Íamos para as costureiras, para os alfaiates e aprendíamos a trabalhar com eles”.

Ao longo destes anos, a costureira Fátima viveu algumas histórias engraçadas que ficaram gravadas na sua memória.

“Houve uma senhora, para quem eu não tive tempo de terminar o casaco, apesar de ela querer estreá-lo para ir a um baile. Mas, mesmo sem estar acabado, ela quis levar o casaco. No fim, andava dançando e ficou com as mangas saídas, porque se descoseram. Ela, como queria o casaco, ficou à sua responsabilidade”, contou, com um sorriso.

 

 

 

Recorda ainda outra história que não se passou consigo, mas “com a mestre onde eu andava trabalhando. Ela usava um aparelho de ouvir e antigamente as pessoas tinham um fio ligado aos aparelhos de ouvir. Só que ela estava cortando um decote e cortou também o fio do aparelho”.

A mestre estava a falar com a cliente, mas como o fio do seu aparelho estava cortado, ela não conseguia ouvir e a conversa entre ambas não fazia sentido.

No que toca aos clientes, as coisas agora são diferentes, explica Fátima. “Antigamente, trabalhávamos sobretudo duas vezes no ano, na altura do Natal e na Páscoa, que era quando as pessoas tinham dinheiro e compravam os tecidos para fazer as peças novas. Muitas vezes, eram roupas já feitas, para desmanchar e reformar.

Nos dias de hoje, salienta, “tenho mais variedade de clientes”.

 

 

Os atuais procuram a costureira Fátima para transformações de roupas, remendos, mas também para criações de raiz. Tudo o que se possa imaginar no mundo da costura passa pelas suas mãos.

Depois de anos a adquirir conhecimentos com todos os alfaiates e costureiras por onde passou, em 2004, inaugurou o seu próprio espaço de trabalho, localizado na Rua das Violetas, Lote P, Loja A, nas Gambelas.

Fátima não dá formações, mas se houver alguém interessado em aprender, ela está disponível para ensinar.

“Não dou formações porque é muito complexo! Para se dar uma formação como deve de ser, tem que começar por se aprender a conhecer a máquina, a fazer os pontos. Quem quer vir aprender a costura pensa que isto é instantâneo, que vai fazer logo uma peça sem conhecer e não pode ser. Não dou formações assim!”.

 

 

No entanto, existe uma jovem aprendiz, que se chama Mara Gonçalves, que é a sua sobrinha, e que tem curiosidade e paixão pela costura. Costuma aparecer no espaço de Fátima Palma para que esta lhe possa transmitir os seus conhecimentos.

“Eu gosto muito da maneira como ela explica! Entende-se bem!”, garante Mara, sobre a sua tia-professora.

Fátima considera que a sua profissão tem muita importância, apesar de as pessoas nem se aperceberem disso. “As pessoas vão à loja, compram uma peça e dizem: Ah, não me fica bem ou não gosto e deixam de lado. Não! Pode-se aproveitar essa peça para se fazer outra coisa ou adaptá-la mais ao gosto e ao corpo de cada um”, sublinha.

A sua paixão por este mundo é visível até para os mais distraídos. Depois de um longo caminho de aprendizagem até aos dias de hoje, não se arrepende pelo facto de a costura ter sido a sua escolha. “Gosto de tudo! Tenho mesmo paixão pela costura!”, garante com entusiasmo.

 

 

Texto e fotos de Sofia Orvalho, realizados no âmbito do curso de Fotografia Profissional 22|24 da ETIC_Algarve, Escola de Tecnologias, Inovação e Criação do Algarve.

 

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