Livre alerta para impactos negativos que o Monte Gordo Sand Experience terá no ambiente

Evento começa hoje e decorre até domingo

O areal da praia de Monte Gordo, em Vila Real de Santo António, vai receber, a partir de hoje, 17 de Novembro, e até domingo, dia 19, a Taça do Mundo FIM de Corridas em Areia, um evento que, alerta o partido Livre, terá vários «impactos negativos» no ambiente.

Numa nota enviada às redações, o Livre diz que «foi com muita apreensão» que viu aprovada em Reunião Ordinária da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António (VRSA), realizada no dia 7 de Setembro, um Festival Desportivo Motorizado, disputado no areal da praia de Monte Gordo.

A competição, promovida pela Câmara de VRSA e organizada pelo Automóvel Clube de Portugal (ACP), é destinada a motos e quads que circularão num circuito de 5 quilómetros no areal da praia e um passadiço ao longo do percurso.

Em nota, este partido alerta para o facto de que «as dunas e a praia representam ecossistemas que desempenham um papel fundamental na preservação da natureza, além de fornecerem uma série de serviços ecológicos, desde manutenção da faixa costeira, prevenção de inundações e a criação de habitats para várias espécies» e, por isso, «sendo um dos objetivos da autarquia fomentar e aumentar o grau de consciência ambiental da comunidade, não se compreende a aprovação deste evento tão lesivo para o ambiente».

Como impactos negativos mais relevantes, o Livre destaca que, durante a realização do evento, haverá «destruição superficial do cordão dunar, poluição atmosférica por emissão de gases com efeito estufa (GEE) e contaminação de solos por derrame de hidrocarbonetos».

Contactado pelo Sul Informação, Álvaro Araújo, presidente da Câmara de Vila Real de Santo António, afirmou que compreende as preocupações do Livre e que teve conhecimento desta nota, mas esclareceu que «essas preocupações não vão fazer sentido porque vamos tomar todas as precauções».

«A prova vai decorrer na areia, não nas dunas, e, por isso, o impacto será quase nulo. Depois da prova vamos provar que tudo vai ficar como estava e nenhum mal vai acontecer», além de que «a APA deu parecer favorável e nunca poderíamos avançar sem o parecer das entidades competentes», disse ainda o autarca.

 

 

Em nota, o Livre reforça também que a área onde decorre a prova «fora recentemente intervencionada com vista à renaturalização da zona costeira, para além de que a própria legislação nacional proíbe a “circulação de veículos motorizados nas praias” nos termos do nº 1 do artigo 17º dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira – Decreto-lei n.o 159/2012 de 24 de Julho».

«Num planeta de recursos finitos, este tipo de torneio está completamente fora dos objetivos e metas constantes em diferentes instrumentos políticos, como é exemplo o Plano Nacional de Energia e Clima e a Declaração de Glasgow “Por um turismo mais ecológico”, que estabelecem compromissos para alcançar a neutralidade carbónica até 2050 e um modelo económico menos poluente», escreve o partido.

Afirmando ser uma forma de «evitar qualquer impacto negativo da prova nos ecossistemas», a Câmara de Vila Real de Santo António criou uma equipa técnica responsável pela elaboração, implementação e monitorização de um Plano de Valorização Ambiental, mas, nas palavras do Livre, este plano «não garante a reversão nem reduz as situações de risco e de impactes ambientais previstos».

Nesse plano, disponível no site do evento, a autarquia de VRSA garante, entre outras coisas, «a reposição de todas as condições iniciais da praia», «que o atravessamento para a mesma seja efetuado através dos acessos devidamente balizados, sem interferir nas zonas dunares», «a não existência de danos ou interferências no passadiço longitudinal», «a monitorização das areias e da qualidade da água, antes, durante e após o evento», e «a implementação de ações que visem a redução da pegada ambiental do evento, tais como a plantação de pinheiros, a distribuição de informação relativa a boas práticas e o reforço dos equipamentos de recolha de resíduos indiferenciados e recicláveis». E reforça que «a realização da prova teve parecer positivo das entidades competentes».

 

 

Considerada uma competição inédita em Portugal, o Município de Vila Real de Santo António já havia destacado os milhares de visitantes que o evento traz à região, em época baixa, impulsionando o comércio e hotelaria.

«Estima-se que a hotelaria do concelho e das zonas limítrofes venha a registar, durante a corrida, níveis de ocupação máximos, funcionando como um estímulo para a retoma turística», avançou a autarquia em Setembro.

«É importante que existam eventos que contrariem a sazonalidade e que tragam mais atividades em épocas baixas, no entanto estes devem assegurar um equilíbrio entre aspetos ambientais, económicos, sociais, culturais e recreativos», considera o Livre.

Em nota, este partido considera que o concelho de VRSA, inserido em grandes áreas naturais, Sapal de Castro Marim e VRSA, Parque Natural da Ria Formosa, Mata Nacional, Praias, «deve, acima de tudo, pugnar por um turismo sustentável, que proteja o seu património natural, isento em emissões GEE e que se enquadre nos compromissos e metas dos vários instrumentos políticos nacionais e europeus».

O Sul Informação tentou contactar a Agência Portuguesa de Ambiente para perceber se esta entidade autorizou o evento, e em que moldes, mas não obteve qualquer resposta até à data de publicação desta notícia.

 

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