Carvalho-de-Monchique é o foco da nova fase do programa Renature na serra

Depois de já ter financiado as anteriores fases com um milhão de euros, a Ryanair garante agora mais 400 mil euros. A serra de Monchique agradece!

Ramo de carvalho-de-monchique plantado há alguns anos no início do projeto – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

O carvalho-de-monchique (Quercus canariensis) está “criticamente em perigo” e, por isso mesmo, será agora uma das espécies a usar na nova fase do programa Renature Monchique, que prevê a plantação de mais 125 mil árvores até Abril de 2024.

É que, devido aos incêndios frequentes, à expansão de novas espécies florestais e a outras ameaças, já só restavam 250 carvalhos-de-monchique tanto na zona serrana, como na bacia do Mira. Por isso, replantar novas árvores desta espécie é agora apontado como «um dos principais desígnios do projeto».

A apresentação da nova fase do Renature Monchique teve lugar na quinta-feira, dia 23, na Portela das Eiras, numa zona de socalcos antes tapados por silvas e mato, depois de a atividade agrícola ter sido abandonada há anos. Este é precisamente um dos locais onde, nos últimos quatro anos, e tal como o Sul Informação reportou no início, têm estado a ser plantadas árvores de várias espécies – castanheiros, sobreiros, medronheiros e alguns carvalhos-de-monchique -, parte dos quais sobreviveu à seca e às ondas de calor.

O projeto foi lançado em 2019, na sequência do grande incêndio do ano anterior, e resulta de uma parceria entre a Ryanair (que financia), o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), a Região de Turismo do Algarve (RTA), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Câmara Municipal de Monchique.

Destina-se a recuperar ecologicamente a serra de Monchique e ajudar a comunidade local a gerir a floresta de forma sustentável, tornando-a mais resiliente aos incêndios no futuro.

 

Apresentação da nova fase do Renature Monchique – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Desde então e com esta nova fase, a companhia aérea irlandesa Ryanair, que é a grande financiadora, terá permitido o investimento de 1,4 milhões de euros. Desde 2019, como recordou Judite Fernandes, vice presidente do GEOTA, já foram plantadas 260 mil árvores. E agora haverá mais 125 mil.

«Trabalhamos de forma muito próxima com os proprietários para que sejam capazes, com o nosso apoio, de proteger o valor ecológico e económico da sua região através de uma floresta autóctone. As espécies mais plantadas são o sobreiro e medronheiro, por serem aquelas que ocupam maior área na serra de Monchique e as que maior interesse económico têm para os proprietários. Acreditamos que esta é uma das vias de que dispomos para aumentar a resiliência da floresta não só em Monchique, mas em todo o país», acrescentou Judite Fernandes.

Por seu lado, André Gomes, presidente da Região de Turismo do Algarve, frisou que o «Renature Monchique é um exemplo de sucesso de parceria público-privada em prol da preservação e da valorização dos ativos naturais de Monchique. E é também um exemplo de política ambiental responsável por parte da Ryanair, cujo programa de compensação de carbono permite apoiar iniciativas tão meritórias como esta».

O projeto, acrescentou André Gomes, «conseguiu converter uma tragédia numa oportunidade de gestão sustentável da floresta e de proteção da riqueza da paisagem do interior, e por isso esperamos que o projeto se prolongue por mais anos. O Turismo do Algarve tudo fará nesse sentido».

Miguel Jerónimo, responsável pelo projeto Renature Monchique, explicou que as 125 mil árvores da nova fase já começaram a ser plantadas, aproveitando o tempo outonal. Aliás, cinco delas foram plantadas na quinta-feira, pelos presidentes da Câmara de Monchique, da RTA e do GEOTA, entre outras pessoas.

«A campanha de plantações começou em Setembro e dura até Fevereiro. Depois, até Maio, há ações de gestão e de controlo da biomassa. No Verão, como não é possível fazer trabalhos, há apenas monitorização», explicou.

 

A zona de socalcos na Portela das Eiras – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

A reflorestação com espécies adaptadas e mais resilientes tem estado a ser feita sobretudo em terrenos de proprietários privados. De início, não foi fácil convencer as pessoas de que este não era apenas mais um projeto para plantar umas árvores, tirar umas fotos e depois esquecer.

Mas agora, revelou Miguel Jerónimo, «todos os anos temos proprietários novos a querer integrar o projeto e temos de fazer uma seleção».

É que, como sublinhou António Miranda, do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), «as pessoas verem o exemplo do vizinho ajuda muito».

No sul, a taxa de sobrevivência normal dos medronheiros e sobreiros plantados é de 50%. Aliás, Miguel Jerónimo adiantou que este mês, «alguns produtores já fizeram colheita de medronhos nas árvores que foram plantadas no início do projeto, há quatro anos».

Mas outras espécies têm taxas de sobrevivência bem mais baixas, à volta dos 15 ou 20%. É o caso dos carvalhos-de-Monchique, dos quais já foram plantados cerca de 1500 espécimes e mais serão agora. Se, depois deste programa, o número de espécimes tiver subido de 250 para o dobro, já será um assinalável sucesso.

Ao todo, nos quatro anos anteriores, foram intervencionados 1000 hectares, de 60 proprietários e produtores. Com a nova campanha, a área subirá para 1200 hectares.

Paulo Alves, presidente da Câmara de Monchique, defendeu ser «necessário um trabalho consistente de suporte à gestão privada das áreas florestais que ocupam a maioria do território de Monchique».

Por isso mesmo, «o envolvimento da autarquia neste projeto visa incentivar a comunidade a recuperar as suas propriedades após o incêndio, tornando a floresta mais biodiversa, resiliente aos incêndios rurais e sustentável. Sabemos, por exemplo, que a plantação de medronheiros promove a resiliência da floresta, garante a matéria-prima para a produção da aguardente de medronho e, em simultâneo, gera a riqueza necessária para a gestão destes povoamentos».

O autarca acrescentou que «parte do sucesso do Renature se deve ao processo simples e sem burocracias que este projeto tem implementado com as pessoas».

António Miranda, do ICNF, sublinhou o facto de «o nosso espaço florestal ser fundamentalmente privado e muito repartido, pertencendo a muitas pessoas, o que dificulta uma intervenção em grande escala».

No entanto, o facto de os técnicos do GEOTA terem começado por ir para o terreno, falar com as pessoas, chamando-as a intervir e participar, permitiu ir mudando um pouco a situação. «É importante haver um parceiro como o GEOTA que vai para o terreno saber com as pessoas o que querem fazer».

«Não conseguiremos acabar de vez com os incêndios, mas se conseguirmos que não tenham efeitos tão catastróficos, será muito positivo», concluiu aquele responsável do ICNF.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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