No 11º F, não há génios. Ou haverá? Ao Benedito, à Patrícia, ao André ou à Ana pouco interessa aquela aula de história, dada por uma professora cansada, com «olheiras e o cabelo mal arranjado». Tampouco querem saber daquele vídeo que, certo dia, o Presidente da República, após comer meia torrada, lhes pediu para fazer. A “Batalha” mais importante não vem nos livros: faz-se de diálogo e da História onde não se esquece o “h” pequeno.
O convite do Teatro Nacional Dona Maria II apanhou João de Brito logo com uma ideia. Falou com o escritor Sandro William Junqueira que lhe deu forma.
«Eu tive esta ideia de colocar o Presidente da República a sortear, numa tômbola, uma turma do Secundário para contar a História de Portugal para o mundo», explica João de Brito, ao Sul Informação, minutos depois de terminar mais um ensaio no Teatro das Figuras, em Faro.
Essa primeira inspiração daria lugar a “Batalha”, uma peça de teatro que se estreia hoje, 4 de Novembro, às 19h00, no teatro farense, e nos deixa agarrados à cadeira, expectantes para perceber como é que uma turma descrente conseguirá cumprir esse desígnio nacional.
Ao Benedito, pouco mais interessa do que os seus phones e telemóvel. A batalha de «Alcácer do Sal», como diz, é longe demais no tempo.

As amigas Ana e Patrícia preferem a Zara a um qualquer D. Afonso Henriques e o André quer ser PT (personal trainer), indiferente às façanhas de D. Nuno Álvares Pereira.
Ao longo de grande parte da trama, há um conflito evidente entre a turma e a professora Fátima que, apesar dos atrasos, das olheiras e do cabelo mal arranjado, tenta remar contra a maré.
Mas, como diz uma das alunas, «calhou cocó» e o 11ºF tem mesmo de fazer o vídeo.
Sem sucesso algum, ainda são encenados dois momentos da História de Portugal: a batalha de Alcácer-Quibir e o amor de D. Pedro e Inês de Castro.
«Quis brincar com esta questão da recriação porque há aquela tendência natural para vestir uns fatos e fazer umas coisas. Nós brincamos com isso de uma forma naïf – as pessoas têm essa tendência automática de recriar e aqui não é isso que verão», diz João de Brito, olhos ainda no palco e no cenário de sala de aula, criado por Henrique Ralheta.
O espectador fica com a ideia de que não há solução possível, mas, de repente, professora e alunos chegam a um lugar de fala.
Ambos dizem o que lhes vai na alma. O cansaço de seguir as metas estipuladas pelo Ministério da Educação. A revolta dos jovens por se esconder o “h” pequeno na História de Portugal.

A battle (batalha) de rap começa assim: «eu quero que me contes quais são as tuas fontes para poder perceber e unir todos os pontos porque a história é uma caixa de pandora: onde é que eu me encaixo explica lá isso agora».
E prossegue: «desde Inês de Castro a Luísa de Gusmão, desde a independência à Guerra da Restauração: Portugal, Espanha, as invasões francesas, Nuno Álvares Pereira, toda aquela proeza. Brasil, Angola, Moçambique, Goa, Macau e os mouros, escravos em Lisboa».
O tal vídeo, que um certo dia um Presidente da República pediu àquela turma, torna-se numa batalha de rap que junta professores e alunos. Tudo gravado pelo contínuo Zé Carlos, interpretado por João de Brito, que é também uma espécie de narrador da peça.
«Acho que a História de Portugal muitas vezes, até em teatro, é contada de forma meio comercial: pega-se num manual e conta-se de forma demasiada heróica até. Aqui, interessa-me, mais do que contar a História de Portugal, o discurso dos jovens», diz.
Ah e quanto ao filme? Perdeu-se «nos serviços informáticos», mas isso pouco importa para a mensagem que esta “Batalha” quer transmitir.
A peça estreia-se este sábado, 4 de Novembro, às 19h00, no Teatro das Figuras (bilhetes aqui), e segue depois para Portel (10 e 11 de Novembro), Sines (23 de Novembro) e Ponte de Sor (24 e 25 de Novembro).
Sempre com o “h” pequeno como inspiração.
Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação
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