UAlg dá boas vindas aos novos alunos com festa e críticas à falta de alojamento

Reitor e presidente da Associação Académica em sintonia, na hora de pedir outras medidas aos poderes públicos para atenuar o problema do alojamento estudantil

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

O dia era de festa, mas nem por isso se deixou de falar do grande problema que enfrentam boa parte dos alunos da Universidade do Algarve que estiveram ontem, dia 18 de Setembro, no Pavilhão Municipal da Penha, em Faro: a dificuldade em encontrar alojamento a preço acessível.

O alojamento estudantil – neste caso, a falta dele -, foi um dos temas centrais da sessão de boas-vindas aos novos alunos da UAlg, que contou com discursos tanto de Paulo Águas, reitor da instituição, e de Fábio Zacarias, presidente da Associação Académica (AAUAlg), como de Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro.

E as consequências da falta de alojamento a preços acessíveis são bem resumidas pelo presidente da AAUAlg: «Todos os anos há alunos que são cá colocados e não se inscrevem, por não conseguirem arranjar casa».

Apesar desta ser uma problemática de âmbito nacional, admitida pelo próprio primeiro-ministro, a falta de alojamento estudantil «tem uma grande expressão no Algarve».

«Aqui na região encontramos uma grande pressão imobiliária, que tem dificultado bastante o acesso ao Ensino Superior, tornando-se, assim, na sua maior barreira», resumiu ao Sul Informação Fábio Zacarias, à margem da sessão.

«Em 2018, um quarto [em Faro] custava entre os 150 e os 200 euros. Hoje, o mesmo quarto custa, em média, 325 euros», ilustrou.

 

Fábio Zacarias – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

O reitor Paulo Águas, também em declarações ao nosso jornal, à margem da sessão, mostra-se igualmente preocupado com a situação.

«O que nós sentimos é que a oferta de alojamento não tem aumentado, até tem diminuído, enquanto o número de estudantes deslocados, por sua vez, não tem diminuído, mas sim aumentado», enquadra.

«O feedback que nós temos é que os preços estão a aumentar a níveis que não são comparáveis com o aumento da inflação e com os rendimentos das famílias. Isso significa que o esforço das famílias para ter os seus filhos deslocados é cada vez maior», disse.

«A cidade de Faro é a terceira mais cara do país para se estudar, de acordo com o Observatório Nacional de Alojamento Estudantil. Se a oferta não aumenta, mas há mais alunos, temos que garantir que conseguimos arranjar melhores condições, que temos melhores transportes para que os estudantes algarvios possam ficar na sua primeira habitação e libertar casas para os outros que estão deslocados», disse, por seu lado, Fábio Zacarias.

Da parte da UAlg, que conta atualmente com um pouco mais de 500 camas em residências universitárias próprias, está a ser feita uma aposta forte no aumento desta oferta, com o apoio do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

«É importante que haja mudanças. Nós temos financiamento ao nível do PRR, mas ainda irá demorar até termos camas novas. No caso da UAlg, está previsto que em 2025 tenhamos mais cerca de 300 camas [287], a juntar às atuais 500», revela.

Paulo Águas defende que, mesmo com esta nova oferta a caminho, o que é fundamental é que o mercado privado seja «regulado de outra forma e estou a referir-me ao Alojamento Local.

«Não tenha nada contra esta atividade, mas tomaram-se decisões que, se calhar, não se percebeu bem o alcance que poderiam ter. Acredito que se os decisores pudessem voltar atrás, não teriam decidido da mesma forma, porque isso tirou uma série de camas que eram destinadas aos estudantes, o que, naturalmente, fez aumentar o preço do alojamento», acredita.

Também Fábio Zacarias acha que será necessário ir além das novas camas em residências, uma vez «que o que vem no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, ao abrigo do Plano Nacional de Alojamento Estudantil do Ensino Superior, não é suficiente. As 739 camas que estarão prontas em 2026 não serão suficientes, porque apenas correspondem a 7,5% dos estudantes do Ensino Superior, no Algarve», disse.

«Temos de trabalhar noutras direções, temos de arranjar construção a custos controlados, para podermos alojar cada vez mais estudantes e para que isto não se torne um impedimento, porque, hoje, o alojamento é a maior barreira no acesso ao Ensino Superior», concluiu o presidente da AAUAlg.

 

 

Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, mostra-se bem consciente da necessidade de resolver os problemas de habitação no concelho, que, «infelizmente, não é um problema só dos estudantes, apesar de ser também um problema dos alunos da UAlg».

«Nós temos uma série de linhas para atacar o problema da habitação. É claro que quando esse problema estiver dirimido, os estudantes terão melhor condições. Não temos nenhuns planos específicos para isso [habitação destinada a estudantes], mas há dois grupos empresariais que estão a fazer projetos para construir duas residências universitárias privadas, ambas na cidade de Faro», contou.

«Os projetos estão a ser desenvolvidos e estamos a dar toda a atenção para que sejam aprovados o mais rapidamente possível. Estamos a trabalhar, para que haja cada vez mais habitação, porque este não é apenas um problema dos estudantes. Se houver casas em quantidade, é evidente que os preços baixam e torna-se mais fácil», rematou o presidente da Câmara de Faro.

Pouco antes, no seu discurso, Rogério Bacalhau dado as boas-vindas aos novos alunos.

«É com os alunos que a universidade vive e, para nós, é um orgulho ter esta universidade no Algarve, porque ela não é só de Faro, é de toda a região. É, seguramente, a instituição que mais contribui para o desenvolvimento do Algarve. Nem consigo imaginar como é que seria se não tivéssemos cá a UAlg», disse.

Também Fábio Zacarias disse estar «muito feliz» por a universidade continuar «a receber mais estudantes, ano após ano, e saber que a procura pela UAlg é cada vez maior.

«Isso é muito importante para o desenvolvimento da nossa região e para o que é o contributo do Algarve para a produtividade a nível nacional», considera.

«É um bom sinal para a UAlg, para a região, para o país e para os próprios jovens e suas famílias, que haja mais alunos a inscrever-se», diz, por seu lado, o reitor Paulo Águas, que revelou que, em 2023/24, «há mais de 3 mil estudantes que vão começar a sua formação na UAlg».

«É a renovação natural. Desses 3 mil, mais de mil dão continuidade aos seus estudos, em mestrados e doutoramentos. Os restantes, que são mais de dois mil, chegam pela primeira vez ao Ensino Superior, fundamentalmente no que chamamos a formação inicial do 1º ciclo ou dos mestrados integrados, mas também nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais», enumerou.

Depois de três anos atípicos, em que houve um número fora do comum de candidatos ao Ensino Superior, em Portugal, este ano «houve um ligeiro decréscimo das candidaturas, a nível nacional. Contudo, o número de colocados foi sensivelmente o mesmo do ano passado. Nós tivemos, na 1ª fase, menos 37 colocados do que no ano passado, mas acabámos por ter mais inscritos», concluiu Paulo Águas.

Além das intervenções dos três oradores, a sessão contou com atuações da Versus Tuna e da cantautora algarvia Marta Lima. Durante a sessão foram também entregues os certificados aos estudantes premiados com Bolsas de Mérito Desportivo em 2022/2023.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

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