Navegação à vista

Hoje governam-nos com políticas de terra à vista, sem alma nem garra

Secretário de Estado e ministro do Ambiente no Algarve – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul informação

Os portugueses fizeram alguma coisa por esse mundo fora quando sabiam navegar a médio e longo prazo, desenvolvendo as ciências e as técnicas que permitiam um certo domínio sobre a governação das viagens e a política a elas relativa.

Mas, como disse o poeta, que pensava mais e melhor que todos os nossos políticos e intelectuais encartados, os portugueses ficaram demasiado cansados depois da descoberta do caminho marítimo para a Índia.

Hoje governam-nos com políticas de terra à vista, sem alma nem garra, o dia-a-dia dos cêntimos amealhados que se prometem com grande espavento, mas que depois não se entregam para uso nas rubricas mais exigentes, sempre à socapa, para as contas serem excedentárias e fazermos figura na União Europeia, onde alguém espera arranjar um lugarzito para uma gloriosa reforma dourada.

O Ministério do Ambiente já nos habituou, desde o anterior titular, a fazer de conta que temos uma política ambiental e muito melhor agora do que era antes, quando estava tudo mal.

Tão boa que se trocam até velhos e honrados sobreiros por torres eólicas – e isso é dito desta forma com tanta desfaçatez porque julgam que o povão é pateta e aguenta, mas… não será, prosaicamente, apenas mais um negócio da EDP?

Finalmente, decidiram que temos um problema com a seca.

Para não alarmar o País, o Ministro começou por dizer que este ano, em termos de seca, estávamos melhor que o ano passado; só que há dois países, um a norte do Tejo e outro a sul.

Então lembrou-se disso e lá deixou escapar que, afinal, aqui pelo Sul… estamos pior do que no ano passado.

E vamos continuar a agravar as nossas condições de vida a não ser que o Ministério tenha uma combinação qualquer com os deuses e saiba que este Outono vai chover a potes. Porque, se não chover a potes, cá estaremos para ver como viveremos.

Se não estivéssemos a ser governados por navegadores à vista (e vista curta), há mais de uma década que deviam estar em construção não uma, mas várias estações de dessalinização da água do mar – a única garantia que permite assegurar a água potável. É que os milhões de portugueses que habitam ao longo da faixa litoral estão a usar água obtida e armazenada no interior, cujas populações não têm outra alternativa.

A nível do Mediterrâneo – e há décadas já o Prof. Gomes Guerreiro proclamava que somos uma região mediterrânica banhada pelo Atlântico – somos o país mais atrasado em recorrer a esse meio de obter a água; e até um país atlântico de economia difícil, mas exemplarmente bem governado, Cabo Verde, tem toda a sua população servida por esse método de obter água de qualidade.

Aqui, com grande aparato ( e grande investimento em euros) vai utilizar-se o caudal morto das barragens, que é uma medida extrema, pois todos sabemos que se trata de águas residuais do fundo, altamente poluídas, que  obrigam a tratamento exigente para serem utilizadas. Não vão lançar aquela água directamente nas redes ou vão?

A tal estação dessalinizadora virá para as calendas…

Porque não vão aprender a fazer política a médio e longo prazo, para já, neste domínio, como fizeram a Espanha, Marrocos, a Argélia, etc? Porque não vão aprender a deixar de governar à vista em termos de ambiente (e em termos de toda as políticas, como é gritante para o sector agro-florestal?

Já começam a acreditar que as consequências das alterações climáticas estão mesmo a cair sobre as nossas cabeças ou ainda se está naquela de ser apenas um ciclo e tudo voltará ao normal?

E o sector agro-florestal?… É melhor ficar por aqui.

 

Autor: Fernando Santos Pessoa é arquiteto paisagista e engenheiro silvicultor…e escreve com a ortografia que aprendeu na escola

 

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub