As Carpideiras choram em Milreu os escravos que serviram na villa romana

Projeto de criação na área das Artes Performativas que investiga uma figura da cultura popular: a carpideira

O espetáculo de artes performativas «As Carpideiras», criado e protagonizado por Marta Gorgulho (Teatro), Neusa Dias (Teatro) e Sara Martins (Dança), vai ser apresentado nas Ruínas Romanas de Milreu (Estoi), no sábado, 17 de Junho, às 16h30.

«As Carpideiras» é um projeto de criação na área das Artes Performativas que investiga uma figura da cultura popular: a carpideira – profissional do pranto, das rezas e canções, presente em diferentes épocas e geografias, paga para dramatizar publicamente a convulsão de emoções sentidas perante a morte (por quem falece e por quem vive).

Imaginando que a eficácia do rito de carpir um morto depende de uma postura física, de uma expressão vocal ou disposição emocional, adequadas à identidade do defunto, ao lugar onde decorre a lamentação e ao pagamento recebido pelo serviço prestado, as artistas Marta Gorgulho, Neusa Dias e Sara Martins, co-criadoras e protagonistas de «As Carpideiras», concebem performances teatrais em que um espaço ou problemática definem a direção da dramaturgia, sem que isso constranja as ideias artísticas, mas antes as provoque.

A participação no programa cultural DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos, promovido pela Direção Regional de Cultura do Algarve, este ano com o tema Patrimónios (des)confortáveis, leva agora as três artistas algarvias às Ruínas Romanas de Milreu, onde «As Carpideiras» prestam culto a Daphinus, Acté e Daphine, três servos (escravos ou libertos) que trabalharam e morreram na villa romana (em condições que a arqueologia forense poderá no futuro esclarecer), para que, perante a opulência do lugar, não sejam deixados nas margens da memória coletiva todos aqueles que foram essenciais para a produtividade e manutenção desta grandiosa propriedade senhorial rural.

A performance é promovida pela Co.N125 – Companhia Nacional 125 e pela Panapaná – Associação Cultural e Recreativa.

A entrada é livre, mas sujeita a inscrições através do email [email protected] ou do telefone 966 668 032.

 

As carpideiras, mulheres experientes em chorar e honrar mortos, são chamadas às Ruínas Romanas de Milreu, um dos mais importantes sítios arqueológicos do período romano em Portugal.
Uma funcionária da área da Cultura, preocupada em tornar este monumento nacional inclusivo e confortável para todxs, pede a três carpideiras que mostrem devoção aos escravos que, em tempo antigo, serviram os proprietários do que então era uma majestosa villa romana, com hortas, pomares, celeiros, lagares, termas, templo, e uma rica casa de habitação.
A funcionária da Cultura espera que o rito das carpideiras garanta que as almas dos escravos não abandonam os túmulos, invadindo o lugar, por vingança contra o esquecimento dos que cá andam hoje a usufruir do que resta da pequena cidade romana no meio do campo.
A funcionária da Cultura preferia que as lágrimas fossem romanas, caídas das faces de carpideiras vindas de Roma, mas a carência de verba obriga-a a recorrer a três mulheres que choram habitualmente na região do Algarve.

 

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Direção Artística: Neusa Dias
Dramaturgia: Marta Gorgulho, Neusa Dias e Sara Martins
Interpretação: Marta Gorgulho, Neusa Dias, Raquel Ançã e Sara Martins
Registo fotográfico: KameraEskura
Registo vídeo: Diego Medeiros
Grafismo: LipaX
Organização: Co.N125 – Companhia Nacional 125 / Panapaná – Associação Cultural e Recreativa
Apoio logístico: Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira

Projeto financiado por: Direção Regional de Cultura do Algarve| DiVam – Dinamização e Valorização dos Monumentos

 



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