Plutão de Verão apresentou trilogia de curtas-metragens na Algarve Film Week

No contexto da 9ª Monstrare – Mostra Internacional de Cinema Social

«A Internet matou o Chester Bennington», «Aunque es de noche» e «Sofia e o Gajo do Fogo» são os títulos das curtas-metragens produzidas pela Plutão de Verão – Associação Cultural e apresentadas durante a 9ª Monstrare – Mostra Internacional de Cinema Social, no passado mês de Janeiro.

Com realização de Diogo Simão e fotografia de Ana Monteiro, a trilogia foi apresentada nos dias 23 e 24 de Janeiro, durante a Algarve Film Week, no contexto da 9ª Monstrare – Mostra Internacional de Cinema Social. Produzidas entre 2018 e 2022, estas curtas-metragens permitiram a membros da associação cultural e a profissionais convidados, trabalhar com alunos de escolas secundárias de Loulé, Faro e Figueira da Foz.

Nos dias 23 e 24, o auditório da Escola Secundária de Loulé encheu-se de alunos, professores e convidados para participar num Q&A com alguns elementos das equipas técnicas e artísticas da trilogia, assim como com Gonçalo Almeida, realizador convidado que exibiu e falou da sua curta-metragem premiada «A Rapariga de Saturno».

Esta iniciativa foi articulada em conjunto com a Câmara Municipal de Loulé, através do Loulé Film Office e o Projeto Cultural da Escola, de forma a reforçar as atividades que estão a ser desenvolvidas no âmbito do Plano Nacional das Artes, do Plano Nacional de Cinema e da Bienal de Cultura e Educação 2023.

 

Diogo Simão

 

A Plutão de Verão – Associação Cultural, sediada na região algarvia, começou este projeto em 2018 com o concurso ShortWeek.

“Desafiámos alunos das escolas secundárias de Loulé, Faro e, mais tarde, da Figueira da Foz, a produzir e apresentar, em grupo, uma curta-metragem numa semana”, recorda Diogo Simão, diretor artístico da Plutão de Verão.

“Para provar que era possível, produzimos A Internet matou o Chester Bennington com os mesmos limites temporais e técnicos que os participantes. Foi uma aposta bem sucedida: no total, foram mais de 300 inscritos que, uma semana depois da cerimónia de abertura, apresentaram 50 curtas-metragens. Algumas destas curtas foram exibidas noutros festivais e muitos dos seus criadores seguiram formações superiores em cinema ou teatro, ainda que fora da região de origem”.

Com o apoio de várias entidades, incluindo dos três municípios participantes e do Instituto Português da Juventude e Desporto (IPDJ), foram atribuídos prémios nas várias categorias do concurso.

O júri juntou caras conhecidas do teatro e televisão (Salvador Nery, Anna Eremin, João de Brito, Catarina Perez, Igor Regalla, André Canário), realizadores premiados (Bernardo Lopes, Justin Amorim, Flávio Ferreira, Rafael Almeida) e representantes de algumas entidades que apoiaram o projecto (Manuel Baptista, Maria da Graça Lobo, Isa Mestre).

 

Margarida Lucas, Salomé Rita e Constança Melo

 

“A quantidade de jovens talentos que conhecemos e a sua vontade para continuar a fazer cinema foi contagiante”, admite Ana Monteiro, diretora de fotografia e co-fundadora da Plutão de Verão.

“O modelo de produção que adaptámos do concurso permitiu-nos estar livres de overthinking e aproximar o processo de criação cinematográfica da sua forma mais pura”., acrescenta.

«A Internet matou o Chester Bennington», protagonizada por Sara Mendes Vicente e com participação das jovens atrizes Alice Velez, Beatriz Gomes, da bailarina Beatriz Gonçalves e do músico Nuno “Kabula” Esmael, foi gravada entre os municípios de Olhão e Faro, tendo o seu processo criativo durado uma semana. Conta a história de uma estudante de fotografia desencantada, que volta à sua cidade natal para um projeto, apenas para encontrar uma realidade muito estranha, e diferente, da que conhecia.

«Aunque es de noche» foi co-criada por cinco jovens atores participantes do ShortWeek (Constança Melo, Gabriel Riley, Margarida Lucas, Salomé Rita e Tiago Leal), num processo que se arrastou ao longo de vários meses de confinamento.

“Quando tivemos confirmação do local das filmagens, ensaiámos toda a ação durante uma semana na Blackbox do LAMA Teatro. Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo, atores e diretores da companhia Janela Aberta Teatro, juntaram-se ao processo perto das datas de gravação e elevaram a fasquia durante os ensaios. Esta curta foi a primeira ficção a ser gravada totalmente na Mina de Sal Gema do município de Loulé, a 230 metros de profundidade”, confirma Diogo Simão.

O filme conta a história de um grupo de meninos e meninas que foi criado dentro de uma caverna. Este é o dia em que todos eles tomam decisões irreversíveis.

 

Exibição de «Aunque es de noche»

 

«Sofia e o Gajo do Fogo», o último filme da trilogia, foi rodado em duas semanas na Figueira da Foz, tendo uma equipa técnica e artística composta sobretudo por participantes do concurso ShortWeek.

A criação da narrativa foi repartida entre a jovem figueirense Sofia Mendes e o experiente ator Mauro Hermínio. «Quando os poderes de Sofia para controlar o fogo são revelados de uma maneira horrível, ela tenta encontrar o homem com as respostas que tanto procura», pode ler-se na sinopse desta curta.

Segundo a Plutão de Verão, “a conclusão desta trilogia de curtas-metragens não parece ditar o fim do projeto”.

Para o diretor artístico da Plutão de Verão, “o ShortWeek provou ser mais do que um sucesso do ponto de vista criativo e formativo. É também um exemplo de como estimular, nas gerações mais jovens, o diálogo crítico coletivo, a colaboração multidisciplinar, a utilização de técnicas e ferramentas artísticas que perpetuam a memória e divulgam o potencial humano, cultural e geográfico do território”.

“A gentrificação que tem alterado a cara da região e a fuga de cérebros (do ensino-secundário local para o ensino-superior fora da região/país) são realidades espelhadas quer nos cenários e narrativas da trilogia que apresentámos, quer no percurso dos jovens que participaram nestas produções. Todos os anos perdemos oportunidades para que se desenvolva uma linguagem artística regional que potencialize as nossas idiossincrasias”, afirma o realizador algarvio.

Por isso, salienta Diogo Simão, “a Plutão de Verão vai continuar a trabalhar com entidades, públicas e privadas, interessadas em inverter a situação. Mas se os decisores políticos, a nível nacional e a nível local, continuam a alienar os agentes culturais e a virar costas aos planos estratégicos que eles próprios definem, este tipo de iniciativas tornam-se mais que insustentáveis: tornam-se inúteis. Estamos sempre disponíveis para ouvir, mas é preciso que nos ouçam para que qualquer tipo de acção séria e sustentada seja possível. Felizmente em Loulé é possível e os resultados estão à vista”.

 

 

 



Comentários

pub