A Humildade de perceber que à escala do Tempo, somos um efémero microssegundo

Será sempre a partir dos cidadãos que iremos transformar esta Região para ser pioneira e um exemplo na transição verde

A Humildade de perceber que à escala do Tempo, somos um efémero microssegundo e, perante a dimensão da Natureza, somos apenas um microrganismo.

Tive o prazer de coorganizar nos dias 26, 27 e 28 de Janeiro, o lançamento do Nature-Based Solutions HUB Portugal, do qual sou também o primeiro coordenador.

Estiveram presentes, no Museu de Portimão, mais de 40 especialistas mundiais de Soluções Baseadas na Natureza (NBS), uns porque participam em projetos financiados pela União Europeia, outros porque estão ligados a instituições como o IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza mediterrânico ou a NetworkNature EU – Rede de Projetos Europeus de NBS – que são referências nesta temática.

Foram três dias intensos, onde colocámos três desafios reais do território de Portimão a estes especialistas e aos quase oitenta participantes que acompanharam este evento, entre cidadãos, estudantes, técnicos municipais e outros interessados, que vieram inclusive de vários sítios de Portugal para aprender e partilhar conhecimento e a sua experiência.

Os três desafios colocados foram: a Zona Ribeirinha, o Porto e o Bairro Pontal.

O objetivo era cocriar a estratégia de como estes três espaços, e a ligação entre eles e o centro da cidade, podem e devem passar pela interação entre a Natureza e o Humano, seja colocando os cidadãos como o centro de qualquer processo de inovação e desenvolvimento territorial, seja pensando a regeneração urbana visando a preservação, potenciação e criação de valor “de e com” a natureza.

Tivemos o privilégio de visionar, em primeiríssima mão em Portugal, o documentário Biocêntricos que nos apresentou, entre outros, a visão da ecologista Janine Benyus, fundadora do Instituto de Biomimética, que nos deliciou com os exemplos do quanto podemos aprender com a Natureza, como ela nos pode inspirar na solução dos nossos problemas, replicando os seus sistemas, as suas relações, as suas mecânicas até a sua matemática.

Foi perante esta grandeza da Natureza que pedi à audiência, após o visionamento, que parássemos, respirássemos e agradecêssemos ao Criador, independentemente do nosso Credo ou da “não Crença”, pela imensidão, beleza e eterna fonte de grande inspiração que é o nosso planeta.

É perante essa realidade que cada um de nós deve refletir sobre o que está a fazer, qual o nosso contributo e como podemos e devemos agir, mesmo enquanto microrganismo que somos, para a sua valorização, preservação, regeneração e potenciação.

“Resíduos e recursos são a mesma coisa na natureza. O lixo é uma invenção humana” – Fred Gelli, da Tátil Design, documentário Biocentricos.

Foram várias as excelentes intervenções sobre a necessidade das cidades assumirem a participação e o envolvimento dos cidadãos como fator de autenticidade quando pensarmos o espaço que partilhamos em comunidade.

O nosso colega do NBS HUB Portugal, professor doutor Giovanni Allegretti, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, trouxe-nos o exemplo do Japão, onde grupos de cidadãos são chamados a desenvolver projetos de pensamento prospetivo, ou seja, pensar o futuro a sete gerações de distância.

Mensagem que foi reforçada pelo professor doutor José Mauro Nunes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Fundação Getúlio Vargas (Brasil), que nos trouxe a teoria de Roman Krznaric – o Bom Ancestral – para ajudar a visualizar os eixos de como devemos pensar a longo prazo a regeneração dos territórios, ou seja, o legado que queremos deixar, não aos nossos filhos ou netos, mas sim aos netos dos nossos netos.

Os eixos são: humildade em tempo profundo; mentalidade para o legado; justiça intergeracional; pensamento tipo Catedral; previsão holística, meta transformacional.

É perante esta visão quase intemporal que entendemos que à escala do tempo, somos na realidade um microssegundo.

Então como mudar? Cada Ser humano tem em si mesmo o kit de ferramentas à disposição para mudar este estado de coisas!

De acordo com três dimensões:

• Primeiro, num nível microssocial, precisamos de desenvolver comportamentos ambientalmente responsáveis.

• Em segundo lugar, num nível sociotécnico, precisamos de desenvolver estruturas teóricas e proposições tecnológicas que, não apenas prolonguem a vida útil dos produtos, mas também permitam que sejam reutilizados, indefinidamente, de forma circular.

• Em terceiro lugar, num nível macrossocial, precisamos de estimular incansavelmente o pensamento responsável e de compromisso como um “Bom Ancestral”, aquele que raciocina levando em consideração as sete gerações vindouras.

Como nos disse José Mauro Nunes, “precisamos disseminar esta mentalidade baseada na ativação do nosso kit individual para a Mudança, nas estruturas da nossa sociedade, sejam elas públicas ou privadas, regionais, nacionais e globais”.

Diria que o Algarve precisa desta mudança de mentalidade de cada um de nós, será sempre a partir dos cidadãos que iremos transformar esta Região para ser pioneira e um exemplo na transição verde!

 

Algumas fotos do evento em Portimão:

 

Autor: Américo Mateus é membro da Taskforce 6 da Comissão Europeia: co-creation of NBS; Responsável pelo NBS Hub Portugal da EU NetworkNature; Sócio e Investigador Sénior da GUDA – Design Transitions Agency; Docente Universitário no ISMAT; Diretor do TRIE – Centro de investigação transdisciplinar em Ecossistemas de Inovação do Ensino Lusófona; Diretor do Mestrado de Design para a Economia Circular do ISMAT.

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub