Festa das Chouriças de Querença: «Uma tradição que não queremos que se perca»

Festa em Honra de São Luís, conhecida como Festa das Chouriças, realiza-se este domingo, 22 de Janeiro

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Três centenas de chouriças caseiras já estão prontas para este domingo, 22 de Janeiro, viajarem até ao largo de Querença, onde, após dois anos de interregno devido à pandemia, regressa a Festa em Honra de São Luís, mais conhecida como Festa das Chouriças.

É uma tradição bem antiga que, ao longo do tempo, foi mudando a sua estrutura, mas que mantém a essência.

Noite de fados, a 21 de Janeiro, o conhecido leilão das chouriças, no domingo, bancas de comida, artesanato, produtos locais e várias cerimónias religiosas compõem o cartaz desta festa que todos os anos leva centenas de pessoas a esta localidade do interior do concelho de Loulé.

«É uma tradição que não queremos que se perca», frisa Margarida Correia, presidente da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, que desde pequena assiste a esta festa.

«Daquilo que me foi sendo transmitido, no passado, todas as pessoas engordavam o seu porco, que fazia parte do sustento da família. Depois, a forma de agradecerem a boa forma do porco era oferecerem à festa a chouriça feita com esse mesmo porco. A festa foi-se mantendo, mas sofrendo algumas alterações que têm a ver com as alterações da sociedade atual. Hoje em dia, as pessoas já não vivem do campo como viviam no passado, a nossa alimentação também mudou drasticamente. Já não se vive do que se produz. Antes não se ia buscar nada fora, a carne era um alimento que só se comia em dias de festa e não com a regularidade de agora. Hoje em dia, estamos completamente descaracterizados a esse nível, mas ainda há quem tente manter esta tradição», conta a presidente.

 

Margarida Correia, presidente da União de Freguesias Querença, Tôr e Benafim – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Apesar da idade já avançada, Aldina é uma das pessoas da freguesia que não quer deixar a essência da festa morrer e que, por isso, continua a ser uma das grandes dinamizadoras da Comissão de Festas da Paróquia.

«Neste momento, seremos umas sete pessoas na comissão. Gostava que esta tradição não se perdesse e é isso que nos dá força para continuar. É um esforço enorme, porque já estamos velhotes e cansados, mas não desanimamos», garante.

Ao Sul Informação, diz que tem na família quem mostre vontade de continuar, mas confessa que não vê essa vontade na maioria dos jovens.

Margarida Correia refere que muito também se deve «à mudança nas questões legais».

«Hoje em dia, já não é permitido matar o porco da forma como se matava, fazer as chouriças como se fazia e, por isso, atualmente, é mais pelo ato simbólico que a Comissão de Festas da Paróquia ainda faz o esforço de levar para a frente a confeção, para ter alguma quantidade de chouriças para o leilão e vender nesse dia».

E qual o segredo das chouriças de Querença? Aldina não esconde: «A ciência está nos produtos que lá acrescentamos, que têm de ser de muita qualidade».

Calda de pimenta, pimentão, sal e alhos são os ingredientes que, durante quatro a cinco dias, ficam a temperar a carne. O passo seguinte é encher as chouriças, que depois são penduradas ao fumeiro, durante cerca de 10 a 15 dias.

 

Aldina e Fátima são duas das pessoas que mantêm viva a tradição – Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Isto dá trabalho, mas o convívio também é muito bom», assume, enquanto, ao lado de Fátima, mostra o trabalho de dias que já está pronto para colocar em caixas e ir a leilão na festa.

São cerca de 300 chouriças caseiras, às quais depois de juntam outras tantas encomendadas. «Os visitantes são muitos e por isso temos de garantir que há produto para todos, devidamente identificado, claro», explica Margarida Correia.

«Todos os anos há largas centenas de pessoas que vêm a Querença neste dia para estarem presentes na festa. Há grupos desportivos que se juntam para que os seus passeios de domingo terminem aqui, e até caravanistas que programam as férias para esta data», conta a presidente da Junta, revelando que, em 2019, havia dezenas de caravanas a assistir à Noite de Fados – caracterizada como «o pontapé de saída para a festa».

Com início às 21h00 deste sábado, dia 21, o cartaz conta com os fadistas Isa Brito, Adriana Marques e André Catarino, acompanhados pelos guitarristas Valentim Filipe (guitarra) e Nuno Martins (viola).

No domingo, a festa começa às 10h00, com mostra e venda de artesanato e produtos locais. Das 11h00 às 13h00, há animação de rua com o grupo “Al-Fanfare”, às 14h30 realiza-se a eucaristia, que este ano será transmitida para o exterior, e às 16h00 começa o leilão das chouriças. Por fim, às 19h00, a Festa termina com baile na Casa do Povo de Querença, animado pelo músico Rúben Filipe.

Segundo Margarida Correia, esta é «a maior festa de Querença e a que traz mais pessoas», mas representa também «uma grande valia económica para a comunidade local».

 

A Festa realiza-se no Largo da Igreja de Querença. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«Todos os estabelecimentos da Freguesia, nesse dia, uns aqui localizados no largo, outros nos seus próprios estabelecimentos, acabam por atrair pessoas, que trazem essa mais valia financeira», que se foi intensificando com a introdução do mercadinho, «que atrai pessoas e dá uma dinâmica diferente à festa».

Após dois anos de interregno devido à pandemia, a presidente da Junta de Freguesia de Querença espera que este seja «um ano de regresso, com muitas pessoas e alegria».

A Festa em Honra de São Luís é organizada pela Comissão de Festas da Paróquia de Querença e pela União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim e conta com o apoio da Câmara Municipal de Loulé.

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

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