Parceiros europeus debateram desafios dos museus em Loulé

Reunião da NEMA, a associação independente de museus que agrega 40 países

Duas centenas de pessoas vindas de vários pontos da Europa e do mundo, ligadas a organizações do setor dos museus, entre as quais 50 representantes de instituições portuguesas, participaram na reunião internacional da NEMO – Network of European Museums Organizations, que decorreu de 9 a 11 de Outubro, em Loulé.

Os participantes tiveram a oportunidade de debater e refletir sobre os temas do presente e futuro dos museus, explorando também o território de Loulé e a oferta museológica do concelho.

“A inovação começa a partir de dentro: Museus resilientes em tempos de disrupção” foi o tema geral lançado nesta edição da reunião da NEMA, a associação independente de museus que agrega 40 países.

O tema inspirou oradores dos Estados Unidos, Holanda, Bélgica, Itália, Alemanha, Áustria, Noruega, Espanha, Suíça, Finlândia, Dinmarca, Portugal e Ucrânia a partilharem a sua experiência, num intercâmbio de ideias.

A inovação tecnológica, a crise energética e os problemas associados às alterações climáticas ou as mudanças sociais que se perspetivam numa Europa em Guerra estiveram no centro da discussão e são, no fundo, os principais desafios que os museus enfrentam. Foi precisamente desta osmose que o consultor norte-americano Michael Peter Edson falou na sua apresentação, uma nova realidade que marca o quotidiano dos museus, mas em que o caminho destas instituições requer um equilíbrio entre as inovações tecnológicas, a cultura e a mudança social global.

Algumas das mais emblemáticas organizações da Europa marcaram presença neste evento para partilhar as boas práticas que promovem, tornando-as exemplos a seguir, como é o caso da National Gallery of Denmark, através da voz de Merete Sanderhoff, ou o icónico Oodi Helsinki Central Library, da Finlândia, que teve numa apresentação por parte de Kari Lämsä, dedicada à divulgação do trabalho realizado naquela que é a Biblioteca Pública Central de Helsínquia.

 

 

Falou-se também de crise, desde logo com impacto da pandemia e do lockdown que obrigou ao encerramento dos museus e à necessidade de apostar no digital e alternativas criativas, como foi o caso do Museu de Lisboa, ou a inevitável e atual temática da Guerra da Ucrânia e de que forma as autoridades deste país estão a lidar com a preservação do seu património cultural num território que está a ser dizimado.

Mas este encontro fez-se também de atividades mais práticas como workshops temáticos e a criação de pequenos grupos que, numa proximidade maior entre os parceiros, permitiram aprofundar as diferentes abordagens e as boas práticas, onde a equipa de Loulé teve a oportunidade de partilhar a sua experiência com os colegas Europeus.

Por outro lado, as visitas a alguns espaços museológicos do concelho, com destaque para os Banhos Islâmicos e Casa Senhorial dos Barreto, elemento que é paradigmático do trabalho realizado neste concelho em matéria patrimonial, também fizeram parte do programa e entusiasmaram os participantes.

“Trata-se de um grande encontro dos museus, das organizações de museus, independentemente da sua estrutura, modelo de gestão ou organização, mas a riqueza da NEMO é precisamente essa, a vantagem de reunir representantes de todas as tipologias de organizações de museus em cada país membro”, sublinhou a secretária de Estado da Cultura Isabel Cordeiro, que se juntou aos conferencistas na cerimónia inaugural.

De acordo com esta responsável, esta constitui “uma oportunidade extraordinariamente importante de discutir os desafios que os museus hoje enfrentam, não só do ponto de vista da sua organização mas sobretudo da maneira como se relacionam com as audiências e como vão ao encontro de públicos cada vez mais exigentes, sem deixar de manter a essência daquilo que são enquanto instituição museológica”.

Depois de ter passado por Lisboa em 2000, numa altura em que esta era uma organização “ainda muito jovem” (nasceu em 1992), a presença da NEMO no Algarve, e em Loulé, vem premiar a proatividade da região nesta matéria: “O Algarve tem sido um exemplo e está absolutamente de parabéns pelo trabalho que tem feito e sobretudo pela visão que tem tido. Quando é bem cuidado o património cultural é efetivamente uma âncora para promover um turismo de qualidade, a criação de hábitos culturais e, sobretudo, uma responsabilidade, uma consciência por parte da comunidade de como é importante valorizar e preservar o património das suas terras. Isso é muito visível em muitas cidades do Algarve e em Loulé em particular” sublinhou Isabel Cordeiro.

 

 

David Vuillaume, responsável da NEMO, falou da importância das redes na partilha de conhecimentos. “Aqui em Loulé somos a comunidade dos profissionais dos museus que estão a pensar a uma escala europeia e isso é de sublinhar. Vamos discutir em conjunto e explorar como é que os museus se podem tornar mais inovadores e mais flexíveis num mundo em rápida transformação. A pandemia não só mudou a maneira como vivemos mas lançou desafios ao setor dos museus de forma a adaptar-se ao que aí vem. Temos que pensar fora da caixa e temos que admitir os erros e falhanços como uma oportunidade”, destacou o parceiro alemão.

Por seu turno, o vereador David Pimentel, em representação da Autarquia de Loulé, lançou aos participantes o desafio de conhecerem o território concelhio: “Para nós é também uma experiência fabulosa ter-vos aqui e mostrar o que Loulé tem para oferecer. Um concelho cheio de tradições, com um passado, uma história, uma cultura”.

Numa alusão ao distanciamento provocado pelo período pandémico, sublinhou a importância das relações interpessoais neste tipo de fóruns: “Podemos digitalizar muita coisa na vida mas não a experiência de falar olhos nos olhos, e coração para coração. Em tempos de disrupção as melhores soluções vêm de nos conectarmos e trocarmos experiências”, ressalvou.

Este responsável deixou ainda uma informação importante para os presentes no que respeita ao trabalho de valorização patrimonial do Município: a criação do Quarteirão Cultural que “vai juntar a história do território à história do homem”.

 



 

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