Culto a Santa Bárbara encontrou “casa” numa galeria da mina de sal gema de Loulé

Exposição pode ser visitada por todos

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Ali, a 230 metros de profundidade, numa galeria que nasceu da mineração de sal, há estátuas, pinturas, manuscritos, peças de artesanato e muito mais. Todos estes elementos remetem para Santa Bárbara, padroeira dos mineiros (e não só), e compõem a exposição que está patente nas minas de sal gema de Loulé desde o início do mês e que pode ser visitada por todos.

Uma coleção de arte sacra ligada a Santa Bárbara, «que ao longo de várias décadas foi pacientemente colecionada pelo engenheiro Fernando Mello Mendes», foi inaugurada no dia 30 de Setembro, nesta mina situada por baixo da cidade de Loulé.

A ocasião foi presenciada por quase duas centenas de pessoas, que desceram às profundezas da terra, para ali se encontrarem com o rico e impressionante espólio do colecionador, que foi «professor [no Instituto Superior Técnico] e colega de muitos dos que estão aqui presentes, e nos quais me incluo», segundo Carlos Caxaria, diretor executivo da Techsalt, a empresa que explora a mina de sal gema louletana, na inauguração da exposição.

«Se até ao presente, a exploração de sal gema foi quase a única atividade económica deste espaço, 2022 pretende ser o início de um novo paradigma, onde, para além da exploração de sal gema e da criação de espaços de arqueologia industrial, pretendemos evoluir de forma crescente em atividades culturais e artísticas, seja na forma de exposições, como esta, sejam na vivência de diversa ordem que se possa ajustar ao espaço e ao tempo da nossa atividade», explicou o mesmo responsável.

Esta exposição enquadra-se nesse desejo, revelou Carlos Caxaria ao Sul Informação, pouco depois, numa conversa que teve as paredes escavadas da mina como cenário.

 

Carlos Caxaria – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

«A ideia surgiu quando fui ao funeral do meu professor, há quase três anos. Sabia que ele tinha uma grande coleção dedicada a Santa Bárbara e lembrei-me de desafiar a família dele a colocá-la aqui na mina, em exposição», contou.

«Naturalmente, e uma vez que havia ali muito investimento, não era muito fácil para a família ceder este espólio gratuitamente», acrescentou.

A primeira ideia foi «fazer uma candidatura, onde incluíamos este património único, para exposição. Infelizmente esse proposta não foi aprovada».

No entanto, «a posteriori, o dr. Rui Batista disponibilizou-se a fazer um esforço financeiro pessoal e em ceder a coleção. Agora o espólio é dele. A família ficou com algumas peças para recordação».

Foi o «esforço pessoal» feito por Fernanda Leite e Rui Batista que possibilitou que «possamos ter esta coleção única na mina com carácter permanente».

«Ficou logo definido que era para estar em exposição permanente. Claro que se algum dia, por alguma razão, a mina for vendida ou algo assim, as peças são dele», precisou Carlos Caxaria.

Enquanto se mantiver a parceria, metade da coleção estará em mostra no fundo da mina. «A outra metade faz parte de uma exposição itinerante. Por exemplo, no Dia de Santa Bárbara estará na Arma de Artilharia de Vendas Novas. Depois irá a outros locais, como minas e igrejas».

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

A exposição recentemente inaugurada «vai ter um circuito diferenciado», mas pode ser «visitada por qualquer pessoa. Só têm de marcar uma visita que passe nesses locais».

Os preços «são variáveis» e «há uma diferenciação positiva para os residentes no concelho de Loulé, que pagam 15 euros».

Os adultos não residentes pagam 25 euros, os seniores, com 20% de desconto, pagam 20 euros e as crianças 15. Também há preços especiais para escolas.

«As pessoas usufruem de uma visita turística com guia, que dura uma hora e meia a duas horas, desde que entram até que saem», conta Carlos Caxaria.

A disponibilização de mais uma exposição – já há outra patente, de pintura, também dedicada a Santa Bárbara, noutra galeria da mina, do artista alemão Klaus Zylla -, é apenas mais um passo na tentativa de diversificação das atividades da mina, abrindo a porta ao turismo cultural.

«No início do próximo ano, eventualmente em Janeiro, espero ter aqui durante uns meses largos a exposição sobre os Oceanos que já esteve patente em Lisboa, esteve em Cabo Verde e está neste momento a vir do Brasil no NRP Sagres», antecipou.

«Também queremos ter aqui uma galeria de pintura aberta a artistas portugueses e estrangeiros, de mais 70 metros, só para mostrar quadros com um objetivo comercial, de venda», avançou o diretor executivo da Techsalt.

No futuro, a ideia é «que toda a gente que visite a mina passe na galeria».

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

A instalação da exposição de arte sacra dedicada a Santa Bárbara teve o apoio de Pedro Teotónio Pereira, curador do Museu de Santo António de Lisboa, e da sua equipa, que fizeram «o projeto da exposição».

Os irmãos Luís e Pedro Braga foram outros elementos fundamentais, uma vez que «foram os artífices da montagem da exposição, ao longo de mais de dois meses, seja nos móveis que tiveram de ser montados, os acabamentos e as soluções de iluminação», segundo Carlos Caxaria.

A inauguração da exposição contou com um momento musical assegurado pelo grupo coral dos Mineiros de Aljustrel.

A ocasião serviu ainda para inaugurar duas obras que o pintor Luís Vieira-Baptista ofereceu à mina de sal gema, que visam ser representações do universo e incluem fotografias captadas pelo telescópio Hubble, ao serviço da NASA.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

 

 

 



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