Estágios hospitalares dos estudantes de Medicina do Algarve

A colocação dos alunos fora do Algarve contraria um dos princípios fundamentais e básicos da criação do curso de Medicina na Universidade do Algarve

No dia 19 de Agosto, foi publicado um artigo de opinião de José Ponte sobre o assunto referido no título, os estágios hospitalares dos estudantes de Medicina do Algarve.

Independentemente de toda a consideração e respeito que tenho pelo Prof. José Ponte, pela sua combatividade e tenacidade, e da sua equipa, em conseguirem a implementação de um curso de Medicina na Universidade do Algarve, “contra ventos e marés”, há alguns aspetos do artigo que gostaria de comentar.

Sou presidente da Sub-Região do Algarve da Ordem dos Médicos e diretor do Serviço de Pneumologia do CHUA – Faro (Centro Hospitalar e Universitário do Algarve). No exercício destas funções, sempre me empenhei em defender a implementação do curso de Medicina e, nos dois primeiros anos, dei aulas como professor convidado.

Segundo o autor, os serviços hospitalares dos hospitais do Algarve não têm qualidade para formar os alunos de Medicina, nomeadamente acreditação por agências internacionais com o King’s Fund, JCI e ACSA/DGS .

Gostaria de lançar um repto à Direção do Curso de Medicina e ao Prof. José Ponte para que nos dêm uma listagem dos Serviços hospitalares acreditados por qualquer destas agências a nível nacional. Segundo sei, muito poucos serviços têm esta acreditação e seguramente que os serviços dos hospitais da zona de Lisboa e margem sul para onde os alunos vão estagiar também não têm esta acreditação.

E os Centros de Saúde onde os alunos estagiam, algum tem acreditação? Tenho a certeza que não.

Então, só agora, ao fim de mais de 10 anos de existência do curso de Medicina no Algarve, é que estão preocupados com a acreditação dos serviços, e que se lembraram da sua importância ?

Convém também referir que este tipo de acreditação não abrange a qualidade dos atos médicos, mas sim essencialmente, aspetos de organização dos serviços, como sinalização, segurança dos doentes, condições de trabalho, documentação, etc.

Já que a Universidade tem dinheiro para pagar as deslocações dos estudantes para fora do Algarve, seria mais útil investir no apoio à acreditação dos serviços hospitalares e assim resolver-se-ia o problema duma forma mais sólida e justa.

Continua o autor dizendo que “recentemente alguns serviços deixaram de ter a qualidade mínima para os estágios dos estudantes”. Pasmo com esta afirmação. A grande maioria dos serviços do CHUA e os Centros de Saúde têm idoneidade formativa reconhecida pelos Colégios de especialidade e pela Ordem dos Médicos para formar novos especialistas nas diversas áreas médicas. Então a formação dos estudantes é mais avançada e exigente tecnicamente do que a dos futuros especialistas, já médicos?

Penso que a colocação dos alunos fora do Algarve contraria um dos princípios fundamentais e básicos da criação do curso de Medicina na Universidade do Algarve – formar novos médicos no Algarve para tentar suprir as necessidades de médicos na região.

Os estudantes, ao serem formados fora da região, não criarão laços locais fortes que os façam desejar continuar no Algarve. Além disso, duvido que encontrem melhores condições de formação fora da região. Os alunos serem foram bem recebidos e acarinhados nos hospitais e centros de saúde da região.

Termina José Ponte dizendo que “não há manobras obscuras”. Será? Penso que há. Toda esta polémica foi desencadeada por um conflito existente entre o Conselho de Administração do CHUA e o presidente do ABC (Algarve Biomedical Center), também médico e professor no curso de Medicina. Não me vou pronunciar sobre esse assunto, só considero lamentável que se utilizem os alunos como arma de arremesso.

 

Autor: Ulisses Brito é Pneumologista, diretor do Serviço de Pneumologia de Faro do CHUA e presidente da Sub-região de Faro da Ordem dos Médicos.

 

 

 



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