Sobre os estágios hospitalares dos estudantes de Medicina da Universidade do Algarve

O CHUA, neste momento, apenas tem um serviço acreditado (Medicina Física e de Reabilitação)

Têm surgido na comunicação social, em cartas anónimas com origem obscura e em artigos de opinião, insinuações sobre as colocações de estudantes de Medicina em estágios hospitalares fora da região do Algarve. É devido um esclarecimento sobre tais insinuações.

Fui o primeiro Diretor do Curso de Medicina da Universidade do Algarve, criado em 2008 e conhecido por Mestrado Integrado em Medicina (MIM), ministrado na Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve (FMCB-UAlg). Relato aqui factos decorrentes da experiência vivida como Diretor até 2013, quando fui jubilado, e posteriormente como Professor Emérito.

As colocações dos estudantes nos estágios clínicos hospitalares começaram em 2011, quando os estudantes da primeira edição do curso chegaram ao 5º ano. Essas colocações sempre obedeceram a critérios definidos pela FMCB e foram sujeitas a avaliações da qualidade dos serviços hospitalares.

A FMCB, desde 2011, que coloca estudantes dos 5º e 6ª anos em hospitais fora da região algarvia, em Almada, Setúbal, Santiago do Cacém, Évora, Beja, Loures e Lisboa. Essas colocações fora da região foram essenciais para assegurar a qualidade da formação e têm variado ao longo dos anos em resultado de avaliações contínuas, em parte contribuídas pelos próprios estudantes.

Contrariamente ao que foi insinuado na comunicação social, as colocações projetadas para o ano letivo 2022-23 nunca excluiram o CHUA, ocorrendo de facto um ajustamento resultante de alterações substanciais na qualidade de alguns serviços, e não só no CHUA.

Se mais estudantes vão ser colocados em hospitais fora do Algarve é porque não se encontram na região serviços hospitalares acreditados para satisfazer os critérios de qualidade. As unidades hospitalares em Portugal, com particular ênfase para os Hospitais Universitários, deverão submeter-se a uma das Agências de Acreditação de Qualidade reconhecidas (a ACSA/DGS, o King’s Fund ou a JCI), que avalia e acredita, ou não, cada serviço clínico.

Os critérios que a FMCB estabeleceu, desde a sua fundação, para avaliar os serviços clínicos hospitalares, foram, por um lado, inspirados nas exigências da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) e, por outro, informados pela Legislação vigente (DL 61/18) para os Hospitais Universitários, que incluem factores como a acreditação reconhecida pelas referidas entidades competentes.

Acontece que o CHUA, neste momento, apenas tem um serviço acreditado (Medicina Física e de Reabilitação), não tendo, nos últimos dois anos, concretizado o Plano de Acreditação de Qualidade que estava aprovado e iniciado pelo anterior Conselho de Administração, em resposta às necessidades identificadas pela FMCB e pelo facto de ser designado como “Hospital Universitário”.

Recentemente, alguns serviços deixaram de ter a qualidade mínima para os estágios dos estudantes da FMCB. Houve claramente uma deterioração em relação a anos anteriores, cuja causa é da responsabilidade do CA do CHUA e do Diretor Clínico investigarem.

Note-se que, ao ter sido afastado do CA o membro representante da Universidade, esta deixou de poder contribuir para decisões operacionais, tais como a implementação do Plano de Acreditação de Qualidade.

Deve-se apenas à deterioração na qualidade dos serviços optar-se por fazer mais colocações dos estudates da FMCB fora da região. O objetivo da FMCB é garantir a qualidade da aprendizagem que não pode ser afetada por conveniências pessoais dos estudantes que sabem, desde a entrada no curso, que podem ser colocados fora da região nos 5º e 6º anos. Não há “manobras obscuras”.

 

Autor: José Ponte é Professor Emérto da Universidade do Algarve

 

 

 

 

 



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