«Somos povos irmãos»: jovens ucranianas e russas de Albufeira dizem não à guerra

Centenas de alunos participaram numa ação simbólica “Pela Paz”

Quatro jovens alunas a conviver no recreio de uma escola é banal, mas a conversa que Cecilia, Ekaterina, Liubov e Daria vão tendo mostra uma imagem de união pouca vista nestes tempos de guerra. Todas são alunas do Agrupamento de Escolas Albufeira Poente: duas nasceram na Ucrânia, outras duas na Rússia. Querem, acima de tudo, mostrar que este conflito «não faz sentido» porque Ucrânia e Rússia são «povos irmãos». 

No campo de jogos da Escola Básica da Guia, a azáfama é muita ao início da manhã desta quinta-feira, 10 de Março.

Centenas de alunos vão preparando uma ação simbólica “Pela Paz”, com o lançamento de pombas brancas, música e poemas alusivos à Ucrânia.

Há crianças do 1º ciclo, mas também alunos mais velhos. As amigas Cecilia, Ekaterina, Liubov e Daria, de mãos dadas, vão filmando e acompanhando tudo.

No braço de uma delas, junto ao pulso, vê-se um “U” e um “R”, escritos com uma caneta, acompanhados de um coração.

O U é de Ucrânia e o R de Rússia, dois países que estão em guerra e que lhes dizem tanto.

 

 

Cecilia nasceu na Ucrânia, numa cidade perto de Kiev, mas está em Portugal desde os 6 anos. A milhares de quilómetros de distância, tem acompanhado com preocupação o conflito.

«O meu avô é capitão de uma tropa», diz. Depois de dias difíceis, os relatos que tem ouvido é que «as coisas estão um pouco mais calmas».

«A minha família agora está refugiada numa quinta. Só espero que tudo fique bem», atira.

Ao seu lado, está Ekaterina, uma adolescente de 13 anos que nasceu na Rússia. Há uma cumplicidade evidente entre todas, tão bem expressada nas palavras desta aluna russa.

«Esta guerra não tem sentido. Nós estamos aqui a dar um exemplo de união, de como os dois povos estão unidos», diz.

Até agora, Ekaterina garante que não sentiu qualquer tipo de discriminação por ter nascido na Rússia, o país que deu início ao conflito.

«Eu sei de algumas famílias em que isso tem acontecido, mas não é o meu caso», conta.

Cecilia logo acrescenta: «eu não culpo os meus amigos russos porque não tenho nada contra eles. Somos irmãos. O problema é o Putin», diz.

 

 

Ekaterina tem falado com ambas as famílias, dos dois lados do conflito, e de todos tem ouvido o mesmo: «querem paz».

Tal como esta colega, Liubov nasceu na Rússia.

Tem 14 anos e também não tem ouvido nenhum comentário negativo por ser russa. «Tenho amigos ucranianos e não me apontam o dedo», conta.

Com o pai na Rússia e a mãe em Portugal, Liubov diz que a guerra «tem de parar».

«Estou feliz por não discutir com os meus amigos ucranianos e temos de estar assim mesmo», acrescenta.

Perto destas quatro amigas, há um cartaz grande com duas bandeiras – uma da Rússia, outra da Ucrânia. Em ambas as línguas, lê-se: «devemos ser sempre unidos».

Daria, natural da Ucrânia, tem dado o exemplo e, em sua casa, já recebeu quatro refugiados. «Estamos a tentar ajudar. Não tem sido nada complicado e sempre tenho companhia para falar», conta.

De resto, o próprio Agrupamento de Escolas Albufeira Poente está a preparar a chegada de vários alunos ucranianos. Dois – um jovem e uma criança – já estão integrados em duas turmas.

 

 

«Nas aulas, haverá um reforço do Português para que aprendam a nossa língua rapidamente. A nível psicológico, também vamos dar apoio e temos a provedora do aluno migrante, a assistente social e o apoio da Câmara de Albufeira e do Centro de Saúde», explica a diretora Sérgia Medeiros.

No total, há, neste Agrupamento de Escolas, «crianças de 38 nacionalidades».

«Temos 56 alunos ucranianos e 14 russos. Há aqui uma convivência sã, uma entreajuda grande e, desde que o conflito começou, têm sido muito salutares as iniciativas que estamos a realizar», considera.

Em relação aos dois alunos que já chegaram, o feedback tem sido «muito bom».

«Há um acolhimento muito grande. Neste primeiro impacto, temos também muita preocupação com a questão da saúde mental», explica.

Para Sérgia Medeiros, a escola tem «de estar de portas abertas» para todos.

É também esse o exemplo dado por estas quatro amigas – Cecilia, Ekaterina, Liubov e Daria -, enquanto, nas colunas montadas no recreio da Escola Básica da Guia, se ouve John Lennon.

«Imagine all the people / living life in peace».

 

 

 



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