São Brás de Alportel quer pôr todos a produzir “ouro negro” no seus quintais

Estão a ser entregues compostores domésticos às famílias são-brasenses que queiram aderir ao projeto

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

Chegou o momento de entregar mais um compostor doméstico a uma família. Marisa Garcia e o marido, que se mudaram há pouco tempo com os filhos para o sítio de São Romão, em São Brás de Alportel, esperam já ansiosos, junto ao portão da sua vivenda, pela chegada ao seu lar do projeto “Da terra à terra!” , que lhes permitirá transformar resíduos orgânicos «em “ouro negro”».

Depois de atravessar um jardim cheio de árvores, arbustos e flores, chegamos ao local onde será colocado o compostor doméstico. Ainda não está preparado, mas a vontade em fazer algo pelo ambiente e o respeito pelo planeta, faz com que esta família tenha aderido ao projeto desde o seu início.

«Tendo em conta que tenho um pouco de experiência com a compostagem, aderi a esta proposta da autarquia, um pouco influenciada pela minha vizinha, que também aderiu e me falou do projeto», diz Marisa Garcia, investigadora e integrante da iniciativa, ao Sul Informação.

Formada em Biologia, a investigadora já faz compostagem há vários anos, com a ajuda da sua família, não só pela curiosidade que tem em ver todo o processo a ser feito, mas também por outros motivos.

«Fazer compostagem não passa só pela paixão, mas também por outros fatores. Se não tivermos pressa nenhuma em ter o composto pronto para ser utilizado, acaba por nos dar até um pouco de paz de espírito», conta.

Habituada a fazer compostagem pela técnica da vermicompostagem (utilizando minhocas na transformação dos desperdícios orgânicos em composto), Marisa Garcia decidiu agora «experimentar uma nova maneira de fazer a mesma coisa, mas por outros métodos».

«Um dos desafios de conseguir fazer compostagem da forma correta é que as condições sejam as adequadas. Além de utilizar resíduos orgânicos, os denominados verdes, também são necessárias várias camadas de castanhos, como folhas secas, para que não cheire mal nem atraia animais indesejados», explica a investigadora, enquanto mostra as suas experiências de vermicompostagem.

Prepara-se o espaço, alisa-se a terra, coloca-se o compostor debaixo de uma árvore autóctone e o equipamento está pronto para ser utilizado pela família. Mas claro, há regras que devem ser cumpridas.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

O projeto “Da terra à terra!” tem como objetivo «promover a valorização dos resíduos urbanos biodegradáveis na origem» sendo, para isso, disponibilizado um compostor doméstico, com a capacidade para 300 litros, a «todos os residentes do concelho de São Brás de Alportel interessados que tenham uma moradia com jardim ou logradouro», explica Cristina Matias, responsável pelo serviço de Educação Ambiental da autarquia são-brasense.

Com a entrega de cada compostor doméstico é também disponibilizado um kit de compostagem com uma forquilha, um termómetro de solo e um manual prático de compostagem, bem como o acompanhamento, sempre que necessário, de um técnico da autarquia.

«Começámos a fazer as entregas de compostores domésticos há uma semana [12 de Janeiro] e até agora as pessoas têm estado a aderir à iniciativa», sublinha Cristina Matias.

A responsável pelo serviço de Educação Ambiental da autarquia realça ainda que «esta é uma alternativa para a gestão dos resíduos orgânicos dos são-brasenses, que permite produzir fertilizante, ao mesmo tempo que reduz a quantidade de resíduos biodegradáveis encaminhados para aterro».

É também esta uma das razões que levou Marisa Garcia a fazer compostagem: «Faço-o também pelo ambiente, para tentar minimizar um pouco a nossa presença no planeta Terra. Desde que comecei a fazer, noto que não necessito de ir tantas vezes ao lixo».

«A brincar, temos aqui este bocadinho de resíduos sólidos e vamos colocá-los no lixo. Pensamos que é só um bocadinho, mas multiplicando-o por milhões de pessoas, ao longo de todo o ano, acabam por se tornar em toneladas e toneladas de desperdício orgânico que vão parar às lixeiras e que nós podemos transformar em “ouro negro”».

O objetivo de colocar menos resíduos em aterro, «diminuindo a fatura do município para o seu tratamento», é um dos desafios apontados por Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, para este projeto.

«Tudo o que conseguirmos valorizar, estamos a poupar, estamos a proteger o ambiente, que é fundamental, e estamos a dar aqui um valor acrescido àquilo que muitos pensam que já não tem valor».

«Os bioresíduos têm um potencial muito grande no nosso concelho, que conta com uma vasta área rural. Ao instalar os compostores, estamos a aproveitar para criar um composto que é extremamente rico».

Este projeto, que «vai ao encontro das indicações a nível nacional e as da União Europeia», resulta de uma candidatura na ordem dos 40 mil euros ao Fundo Ambiental, que foi aprovada e será comparticipada a 85%.

«O nosso orçamento é limitado e estas são formas de aproveitarmos as verbas disponibilizadas ao serviço da população e do ambiente», explica Vítor Guerreiro.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Numa perspetiva de educação, serão colocados compostores com uma carga maior (400 litros) nas escolas, em espaços públicos e em instituições de solidariedade social do concelho, de modo «a potenciar, junto das crianças e das famílias, a valorização daquilo que produzimos e que pensamos que, por vezes, não tem qualquer utilidade».

Estes compostores poderão ser utilizados pelos moradores das zonas mais urbanas da vila, sendo para isso necessário a sua adesão ao projeto “Da terra para a terra!”, e serão geridos pela secção de Ambiente da autarquia.

Se pretender aderir ao projeto, poderá dirigir-se aos serviços de Ambiente da Câmara de São Brás de Alportel e manifestar o seu interesse em participar.  A ficha de inscrição que é entregue pelos serviços da autarquia pode ser enviada para o e-mail [email protected] ou por correio.

«Já temos cerca de 150 pessoas a quem a autarquia está a entregar os compostores e vamos monitorizando o bom funcionamento destes, dando formação, a informação e os utensílios para que os são-brasenses possam trabalhar no seu composto orgânico»,  que podem melhorar se seguirem «todos os passos deste rigoroso processo», explica o autarca de São Brás de Alportel.

Apesar de serem entregues aos munícipes, os compostores são propriedade da autarquia e, passado um ano, mediante avaliação da sua utilização, o período de cedência poderá ser renovado.

Ainda por definir está o prémio de incentivo à participação no projeto, que será entregue no final do primeiro ano, caso se verifique a correta utilização do compostor.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 

 



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