Plano de Recuperação e Resiliência: a bazuca sem pólvora

A esmagadora maioria dos fundos do PRR até agora disponibilizados à economia portuguesa apenas visam financiar iniciativas em prol da “economia verde”

Durante a pandemia, o PRR – Plano de Recuperação e Resiliência foi apelidado de “Bazuca” por diversos atores da esfera política portuguesa.

Durante 2020, a Bazuca foi apregoada em jeito de veículo de salvação da economia portuguesa, trazendo uma “carga potente” de 16.644 milhões de euros de financiamento. Feita então a analogia em relação ao material bélico, apraz constatar, agora em Janeiro de 2022, que afinal a pólvora estava seca ou húmida.

De facto, de tanta “humidade”, a Bazuca ficou verde (será musgo?), sendo que a esmagadora maioria dos fundos do PRR até agora disponibilizados à economia portuguesa apenas visam financiar iniciativas em prol da “economia verde”, sendo uma outra grande parte para financiar iniciativas de estruturas da Administração Pública.

Contudo, o âmago da necessidade de investimento em Portugal, e em especial no Algarve, diverge do vetor até à data tomado pela “Bazuca”. A pandemia que proliferou em 2020 e que ainda perdura à presente data provocou efeitos dramaticamente destruidores do núcleo da economia portuguesa, instigando graves fissuras a nível socioeconómico, devido à perda dos meios de subsistência das famílias portuguesas.

Reconhecendo alguma nobreza na ideia de reconstruir melhor (leia-se mais “verde”), por forma a erigir o tecido empresarial segundo os vetores delineados pela União Europeia, em prol da sua visão de futuro a longo prazo (de notar que estes foram idealizados num cenário pré-pandemia) mais amiga do ambiente e privilegiando o investimento em Investigação e Desenvolvimento, temos de reconhecer obrigatoriamente a necessidade inalienável de que, a curto prazo, a economia precisa de investimento no seu crescimento, necessitando de apoios para iniciativas que privilegiem o empreendedorismo (para colmatar a destruição de empresas) e para incentivar a expansão, modernização e a contratação de recursos humanos das empresas existentes (para estancar destruição de empresas e potenciar a saúde e crescimento das empresas existentes).

Neste sentido, é de primordial importância serem disponibilizados apoios, em especial, segundo as componentes C5.Capitalização e Inovação Empresarial, C6.Qualificações e Competências, C10.Mar e C16.Empresas 4.0 do PRR.

No meu entender, serão estas as componentes com maior impacto na economia portuguesa. Todavia, analisando o planeamento de abertura de candidaturas até ao segundo trimestre de 2022, estas não estão verdadeiramente contempladas, pelo que é importante apelar à estrutura de missão “Recuperar Portugal”, a qual é responsável pela “Bazuca”, para bombardear a economia com fundos nas áreas que as empresas e as famílias tanto precisam e anseiam.

A “Bazuca” tem potencial para ser um instrumento importante na retoma da economia, pelo que aguardamos com serenidade e esperança que a estrutura de missão consiga canalizar verbas para as áreas mais pertinentes da nossa economia, permitindo a criação de novas empresas e o fortalecimento das existentes, de maneira a promover a criação de postos de trabalho e assim contornar o “cabo das tormentas” protagonizado pela destruição causada pela pandemia.

 

Autor: Luis da Ponte é membro efetivo da Ordem dos Economistas.
É licenciado em Gestão de Empresas e Pós-Graduado em Finanças Empresariais pela Universidade do Algarve e licenciado em Administração Pública pela Universidade do Minho.
Profissionalmente, é proprietário das empresas “VDP – Consultoria | Seguros”e “TSE Industrial”.

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

 

 



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