Luís Gomes: Desenvolvimento do Algarve só avança com a Regionalização

«Só é possível garantir a implementação» das propostas do PSD para o Algarve «se conseguirmos garantir as condições para implementar o processo de Regionalização»

Luís Gomes, 48 anos, licenciado em Engenharia do Território, atual professor auxiliar convidado da Universidade do Algarve, presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António durante 12 anos, entre Outubro de 2005 e Outubro de 2017, é o cabeça-de-lista do PSD às Eleições Legislativas de 30 de Janeiro, pelo círculo do Algarve.

Com Luís Gomes prossegue a série de entrevistas que o Sul Informação vai publicar, com todos os cabeças-de-lista de todas as forças políticas que se candidatam pelo círculo eleitoral do distrito de Faro.

A todos, e numa lógica de igualdade de oportunidades, foi enviado, atempadamente, um mesmo questionário com 12 perguntas.

As respostas são, naturalmente, diversas, como ficará claro ao longo dos próximos dias, com a publicação de todas as entrevistas.

Sul Informação – Quais são as prioridades da sua força política para a próxima legislatura para o Algarve?

Luís Gomes – As prioridades passam por assegurar o acesso a cuidados de saúde de qualidade em tempo útil a todos os que residem e visitam a região do Algarve;
Garantir uma rede de transportes públicos que chegue ao Aeroporto de Faro e ainda a requalificação da EN125 no troço entre Olhão e Vila Real de Santo António;
Promover a diversificação da base económica da região;
Criar uma estratégia regional de habitação de forma a resolver os problemas de acesso à habitação e ainda
Criar um instrumento de financiamento que permita melhorar as telecomunicações nesta zona do Algarve.
Estamos, porém, absolutamente convictos de que só é possível garantir a implementação destes pontos se conseguirmos garantir as condições para implementar o processo de Regionalização.

SI – O que levou a que aceitasse ser cabeça de lista pelo partido ou força política que representa?

LG – Durante a última legislatura, não exerci nenhum cargo político e, por isso, a análise que faço é, acima de tudo, enquanto cidadão interessado pela vida pública e pelo futuro do meu próprio país.
A legislatura, ainda assim, teve um conjunto de anúncios muito importantes para o Algarve, desde logo a oportunidade que o Plano de Recuperação e Resiliência representa para a região, ao contemplar 300 milhões de euros para o desenvolvimento regional.
Houve também anúncios que visam o investimento em recursos hídricos, de forma a combater os problemas da falta de água. Foi também anunciada a requalificação da EN125 e o suposto anúncio do calendário para a construção do Hospital Central do Algarve e de um conjunto de medidas para reduzir as listas de espera na saúde.
Contudo, os anúncios não passaram disso mesmo, anúncios! Nenhuma destas promessas se concretizou.
O Algarve não tem sequer um sinal positivo do Governo. Nada que se possa dizer: esta foi uma marca da governação socialista.
Não só as obras da EN125 não avançaram em toda a sua extensão, como não houve a prometida redução real de 50% das portagens na A22, não há sinal do PRR na região, nem do Hospital Central do Algarve.
E, no que respeita à saúde, as filas de espera continuam infindáveis e o número de cidadãos sem médico de família aumentou, de 2020 para 2021, quase 25%.
Perante este cenário, e com o convite endereçado pelo presidente do meu partido, só poderia aceitar este repto, para, assim, poder dar um contributo decisivo para que o Algarve tenha a dignidade e a atenção que merece.
Mas também sou claro: se o meu partido ganhar as eleições, como espero, e se, nessa circunstância, nos próximos quatro anos não houver indícios claros da alteração desta situação, não me candidatarei mais à Assembleia da República.

SI – Quais são as expetativas e objetivos da sua força política em relação a estas Eleições Legislativas?

LG – Queremos, naturalmente, melhorar o resultado de 2019 e, sobretudo, fazer passar a mensagem de que nós, Algarvios, temos de impedir que se continue a promover uma política de ilusões e de falsas promessas.
Temos de pensar no dia-a-dia e das dificuldades que temos na mobilidade, no acesso à saúde.
Queremos assegurar que o Algarve e os Algarvios estão presentes, com força, na Assembleia da República.
Este é o nosso propósito e esperamos que as pessoas reconheçam esta mensagem no dia das eleições.

SI – O que falta fazer no Algarve?

LG – Sem qualquer demagogia, falta fazer tudo!
Pergunto: o que está feito relativo ao combate às alterações climáticas? Estabeleceu-se alguma quota de produção sustentável de energia?
Como estamos relativamente aos transportes públicos? Existe porventura uma rede integrada de transportes na região? Como é possível a mesma não aceder a um aeroporto internacional que movimentava, antes da Covid-19, aproximadamente 8 milhões de passageiros?
Quanto aos cuidados de acesso à saúde, nem se fala. Batemos os recordes nacionais do tempo de espera para consultas e cirurgias.
O que é certo é que nestes últimos 26 anos, 19 foram governados pelo PS e, cada vez mais, quem não tem dinheiro não têm acesso à saúde com dignidade.
Depois, é ainda inaceitável que o melhor destino de praia de 2020 tenha sua principal infraestrutura de atravessamento e de distribuição de tráfego entre as principais áreas turísticas da região, a EN125, completamente degradada.
O Algarve precisa de um programa sério, com propostas sérias e com financiamento realmente assegurado para estimular a diversificação da base económica.
A dependência, de cerca de 60% do produto gerado pelo turismo, é absolutamente excessiva e faz-nos andar com o coração nas mãos, pois a economia regional está muito exposta. Temos de a tornar mais resiliente e diminuir a sua dependência do setor turístico.

SI – A Saúde é um setor deficitário no Algarve e no país. Que medidas preconiza para resolver os problemas da Saúde no Algarve?

LG – Nós defendemos as seguintes medidas para este setor: Assegurar o acesso a cuidados de saúde de qualidade em tempo útil a todos os que residem e visitam a região do Algarve.
Investimentos necessários: aumento da cobertura da rede de cuidados primários, construção do Hospital Central do Algarve, reforço do investimento em recursos humanos e materiais nos Hospitais de Portimão e Lagos e ligação com as unidades hospitalares privadas que existem no Algarve.
Alargar a rede de cuidados continuados da região do Algarve.
Criar uma resposta na área dos cuidados paliativos.

SI – E quanto ao Hospital Central do Algarve? Quando deve avançar e porquê?

LG – Quando deve avançar é a pergunta a colocar ao Partido Socialista. Em 2015, era a segunda prioridade do governo, em termos de construção de equipamentos hospitalares. Entretanto, já passaram alguns hospitais à frente, como o Hospital de Todos os Santos e o Hospital de Évora.
Foi a então secretária de Estado da Saúde Jamila Madeira que, em 2020, referiu que o “dossier do hospital Central do Algarve estava em cima da mesa e nas grandes opções do plano”.
Lamentavelmente, saiu a secretária de Estado do Governo e saiu, também, o Hospital dos planos do mesmo Governo.
Enfim, nestes 19 anos de gestão de governos PS, sempre em época eleitoral, atiram-nos à cara com promessas e com o “vai acontecer”. Nestes dias, a novidade foi o Centro Oncológico de Referência do Algarve. Foi o novo coelho da cartola das eleições de 2022.
Basta de demagogia e populismo! Temos de falar claro às pessoas, com ou sem Hospital Central do Algarve, o que temos de ter é acesso a cuidados de saúde de qualidade e deixarmos de ser recordistas nacionais das listas de espera.
Hoje, no Algarve, só tem acesso à saúde de qualidade quem tem dinheiro. Quem não tem dinheiro, entra na lotaria de poder ser chamado pelo hospital para uma consulta ou uma cirurgia.

SI – O Governo anterior avançou com a Descentralização de Competências para os Municípios. Que balanço faz desse processo?

LG – Esse processo ficou claramente aquém do esperado. Nas poucas áreas onde a descentralização aconteceu, o processo dependeu fundamentalmente de respostas sectoriais de determinados Ministérios. Tudo sem uma visão de conjunto, tudo sem uma alteração de paradigma de gestão do território.
O que é certo é que continuamos ainda com uma Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional que depende da tutela de Lisboa e continuamos com um conjunto de direções regionais que não articulam políticas e, em muitas ocasiões, até competem entre si.

SI – Um futuro Governo deverá avançar com a Regionalização? Porquê ou porque não?

LG – Pelas razões descritas anteriormente, estamos absolutamente convictos de que só é possível garantir a implementação de um conjunto de medidas fundamentais para o desenvolvimento do Algarve, quando conseguirmos assegurar as condições para implementar o processo de Regionalização.

SI – Na Assembleia da República, têm-se sucedido as resoluções para acabar com as portagens na Via do Infante ou, pelo menos, para introduzir descontos significativos. O que pensa deste tema e que soluções preconiza?

LG – Penso o que está em linha com o projeto de resolução apresentado em 2017 pelos deputado do PSD. Deve-se isentar as portagens, até à conclusão das obras da EN125.

SI – No início da atual crise da pandemia, o Governo anunciou um plano específico para o Algarve, que nunca chegou a ser concretizado. O que precisa o Turismo do Algarve para recuperar da pandemia?

LG – Os 300 milhões prometidos para o Algarve eram fundamentalmente para implementar um conjunto de medidas que tivessem um papel importante na diversificação da base económica. Atualmente, o produto da região tem uma dependência de aproximadamente 60% da atividade turística.
Temos de tornar a região mais resiliente e, para tal, temos de aumentar o peso de outros setores no produto da região.
Naturalmente que temos de continuar o esforço de qualificar a oferta turística, mas sobretudo temos que desenvolver outros setores da atividade económica, como as empresas de base tecnológica.
Temos de promover a dinamização do setor agrícola, a partir de uma forte base tecnológica e da I&D, de forma a suprir o essencial das nossas necessidades, e virado, também, para a exportação. Neste contexto, e em ligação estreita com a Universidade do Algarve (UAlg), importa otimizar a nossa produção tradicional (citrinos, alfarroba, figos, etc) com recurso a tecnologia de ponta e, ainda, o desenvolvimento de novas culturas como, por exemplo, a canábis.
Deve-se promover a criação de um cluster industrial ligado à economia azul, assente em conhecimento científico, que assegure o nosso futuro no longo-prazo.
Como referi anteriormente, a aposta nas novas tecnologias como alavanca para a mudança do paradigma económico da região é um desafio para a próxima década que temos de agarrar.
As áreas prioritárias são a fixação de nómadas digitais, a aceleração da construção do cluster TIC no Algarve (partindo do Algarve Tech Hub) e, sobretudo, a captação de players internacionais que acelerem (e credibilizem) este esforço de mudança na região.
Deve-se, ainda, promover a criação de um programa que permita a fixação de empresas e pessoas no interior do Algarve, de forma a minimizar as fortes assimetrias regionais que existem neste domínio.
É importante termos uma estratégia para o litoral, quer no sentido da sua conservação, quer no quadro da criação de um plano de novos portos de recreio e ancoradouros, ordenando o espaço marítimo e concretizando o investimento no Porto de Cruzeiros de Portimão, bem como a recuperação dos rios Arade e Guadiana.
Por fim, deve-se promover a criação de um programa que permita movimentos de fusão, de forma a reforçar a capacidade competitiva nacional e internacional das empresas da região.

SI – No caso de questões mais fraturantes, como a regionalização, as portagens na Via do Infante e a saúde, entre outras, se for eleito, votará na AR de acordo com a sua convicção, mesmo que vá contra as orientações do seu partido?

LG – Inicio esta campanha, e este processo, com total desprendimento e, caso o PSD ganhe as eleições e constitua Governo, se não houver avanços manifestos no que respeita a esses temas, creio que não terei mais condições para me candidatar, nessas circunstâncias, a novos mandatos na Assembleia da República.

SI – Quer acrescentar mais algum tema ou questão?

LG – Quero sublinhar que, nos últimos 26 anos de governação, 19 foram assegurados pelo PS. E o PS, reiteradamente, encheu-nos de compromissos à socialista.
O que é isso? É, na altura das eleições, dizerem que fazem tudo e depois não fazerem nada. Onde está a isenção das portagens? Onde está o Hospital Central do Algarve? Onde está a requalificação da EN125?
É o momento do algarvios virarem a página e apostarem numa mudança. Na região e no país.

 

 

 
 



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