Com a nova rede de transportes do Algarve, VAMUS entrar «no século XXI»

EVA Transportes, que ganhou a concessão através da sua subsidiária VIZUR, fez «um grande investimento» em autocarros novos

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Os transportes públicos rodoviários do Algarve vão entrar, definitivamente, «no século XXI» e até viagens a pedido em zonas de baixa densidade da região vão passar a existir, com a entrada em funcionamento da nova rede “VAMUS – Transportes do Algarve”, esta quarta-feira, dia 1 de Dezembro.

Esta nova rede foi concessionada pela AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, a autoridade regional de transportes, à empresa VIZUR, uma subsidiária da EVA Transportes (grupo Barraqueiro), na sequência de um concurso público lançado em 2019.

Cerca de dois anos depois, o novo serviço de carreiras interurbanas e regionais torna-se uma realidade, com novidades ao nível tecnológico, de horários, da cobertura, do tipo de oferta e da frota que disponibiliza, que conta com muitos autocarros novos.

Ricardo Afonso, administrador delegado da EVA Transportes, não tem dúvidas de que a criação do VAMUS, que responde a um caderno de encargos delineado pela entidade que junta os 16 municípios algarvios, vai permitir melhorar o serviço e torná-lo mais atrativo.

E um dos elementos que mais contribui para isso são as ferramentas informáticas, nomeadamente a aplicação e o site novos, que já começaram a revolucionar a interação com os clientes.

«O sistema vai ter várias melhorias. Uma delas é a aplicação para telemóveis e um site que permite às pessoas um acesso muito mais fácil à informação e à aquisição dos títulos de transporte, evitando, até, as tradicionais filas que temos no final do mês nas nossas bilheteiras», conta ao Sul Informação.

«A partir de agora, entrámos no século XXI e as pessoas em casa podem fazer o passe, comprá-lo e apresentar-se no autocarro apenas com o telemóvel», resumiu.

 

Ricardo Afonso

 

Outra novidade é o novo serviço de transporte a pedido nas zonas de baixa densidade, «algo que até agora não existia».

«Sabemos que há zonas que não têm qualquer tipo de viabilidade económica e, por isso, não têm oferta de transportes públicos, porque reside muito pouca gente. Assim, neste novo figurino, haverá transporte a pedido. Ou seja: as pessoas, mediante horários previamente definidos – não é um táxi – e com o valor do bilhete simples da carreira, podem ativar um serviço que os transportará da sua localidade até à sede do concelho», explicou Ricardo Afonso.

Se ninguém o solicitar, «o serviço não se realiza. Só é feito se uma pessoa, pelo menos, o solicitar».

O transporte a pedido terá um número de telefone a si dedicado, embora a ativação também possa ser feita através das aplicações informáticas.

«Mas sabemos que uma boa parte da população que vive em zonas de baixa densidade é infoexcluída, pelo que o telefone tradicional é o que melhor funciona», disse o administrador delegado da EVA, que já teve experiência profissional na implantação deste tipo de oferta noutras zonas do país.

«Será um processo simples: as pessoas sabem qual é o número de telefone, os horários que estão à sua disposição e o local onde pára o autocarro, telefonam para lá e ativam o transporte. Basta que o façam com uma antecedência de 12 horas. No fundo, no dia anterior à tarde, podem ativar para o dia seguinte de manhã», resumiu.

Esta e a intenção de apostar em novas carreiras de e para o Aeroporto de Faro, vindas de outros concelhos, são as grandes novidades no que toca à oferta.

«A nossa ideia é servir o Aeroporto a partir de outros pontos. E não só turisticamente. Algumas das linhas, nomeadamente para o Barlavento, pretendemos manter o ano todo», contou.

No fundo, trata-se de «criar nos algarvios esse hábito, que existe muito no Norte e com sucesso, de as pessoas deixarem de levar o carro para o aeroporto, sobretudo nas pequenas deslocações de negócios. Em que em vez de levarem o carro, já que têm aquele stress de arranjar lugar ou porque os parques nos aeroportos são caríssimos, as pessoas deslocam-se de autocarro. A ideia é essa: ter um serviço não só para turistas, mas também para a população residente».

A ideia é «fazer uma linha para Loulé e outra para Lagos [com passagem em Portimão e Albufeira]. Também iremos, como experiência, criar uma linha até Vila Real de Santo António, no ano que vem».

«O resto, basicamente, mantém-se», rematou.

 

 

«Sabemos que tudo isto é dinâmico. As linhas não se mantêm imutáveis, porque polos geradores de emprego e os destinos preferenciais vão-se alterando ao longo dos anos. Aliás, nós temos a questão de que, sempre que se iniciam as aulas, temos de reajustar os horários e, às vezes, as linhas, porque ou há um aluno que vem de uma localidade que antes não era servida ou porque sai mais cedo ou mais tarde. Será ajustado a todo o momento, sempre que necessário», disse.

Isto é também válido para os horários, que foram adaptados «para tentar acomodar as exigências dos passageiros».

E há, claro, uma nova imagem, que já está, de resto, “cá fora”.

«Já tínhamos comprado 40 autocarros novos e decidimos pô-los a trabalhar já, porque não fazia sentido estarem parados. A partir de 1 de Dezembro, todos terão insígnia do VAMUS. Ao todo, teremos uma frota com 130 a 140 autocarros», explicou Ricardo Afonso.

Estes veículos foram «um grande investimento» e são «mais cómodos, eficientes», para além de «contarem todos com wi-fi a bordo». E «até o transporte de bicicletas vai ser possível em algumas linhas».

Como a ideia é «aumentar o número de passageiros», a operadora de transportes rodoviários algarvia está a tentar sensibilizar as autarquias e demais entidades com responsabilidade na matéria a avançar com medidas que «facilitem a vida ao transporte público, como os corredores bus dedicados», algo que neste momento, «é inexistente», na região.

«Nós sofremos muitos atrasos, principalmente no Verão, na EN125. Portanto, seria desejável que se facilitasse a vida ao transporte público, até para que as pessoas o utilizem mais. Se eu estiver parado no trânsito e vir um autocarro passar, às tantas começo a pensar: “o que é que eu faço aqui num carro parado, se o autocarro me deixa lá mais rápido”. Agora, enquanto partilharem o mesmo espaço, chegam ambos ao mesmo tempo e num carro até vou mais confortável», concluiu.

A AMAL, que concessionou esta rede, salienta, por seu lado, que a implementação da rede VAMUS – Transportes do Algarve «traz à região uma oferta mais vasta, com novas linhas regulares, um novo serviço de transporte a pedido – em locais com mais de 40 habitantes sem paragem a 800 metros».

«O serviço de transporte público rodoviário interurbano no Algarve passará agora a funcionar em pleno. Refira-se que os transportes urbanos de Lagos, Portimão, Albufeira, Loulé, Faro, Olhão e Tavira continuarão a ser geridos pelos respetivos municípios», rematou a Comunidade Intermunicipal do Algarve.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 



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