Vacina bem-me-quer

Todos receamos o incógnito, mas tem sido assim nestes saltos para o desconhecido, que a Humanidade tem avançado

Tenho 46 anos e até há poucas semanas permaneci indecisa relativamente à toma (ou não), da vacina contra a COVID-19. Estive «em processo de tomada de decisão».

Em Portugal, o procedimento da vacinação teve início a 27 de dezembro de 2020. Fui chamada em junho. Utilizei como desculpa para o adiamento desta decisão, a necessidade de uma consulta cardiológica. Nasci com um pequeno defeito no coração, nada de muito grave, mas o suficiente para hesitar em sujeitar deliberadamente o meu corpo a algo desconhecido.

Encontrei um médico cortês, conversador (não estaremos todos carentes de dialogar?), que desmistificou algumas teorias da conspiração e explicou-me as vantagens da vacinação: a vacina diminui o risco de contrair a COVID-19 e permite proteger-nos contra a doença e as suas complicações. Uma pessoa com COVID-19 tanto pode sofrer uma doença grave que pode levar à morte como ser contagiado e não manifestar quaisquer sintomas.

Depois de ultrapassada a doença, as pessoas podem vir a precisar de fisioterapia para voltar a levantar as pernas, os braços, conseguir sentar-se sem ajuda, andar, ou até mesmo falar e engolir. Fadiga pós-viral, danos em vários órgãos, surgimento de outras infeções virais, danos cerebrais e na saúde mental, são alguns dos danos possíveis. E permanece a incógnita — que sequelas poderão surgir no futuro?

Posto isto, o benefício da vacinação pareceu-me bem maior do que risco.

Curiosamente, o argumento que mais encontro junto do meu círculo de amizades que recusa a vacina é parecido, mas num outro espectro: quais os efeitos a longo prazo da vacina?

Não mencionarei as variadas teorias da conspiração contra a vacinação, mas posso afirmar: até ao momento, não consigo fazer com que nenhuma moeda fique colada ao meu braço.

Pegando na dúvida (legítima) de algumas pessoas que receiam a vacinação tendo como base o desconhecimento: como reagirá o nosso corpo a estas vacinas de RNA mensageiro (usado nas vacinas da BioNTech/Pfizer e Moderna)?

E o que é isto do RNA?

De forma muito simples, os seres humanos têm ADN (ADN é uma molécula cuja principal função é armazenar toda a informação genética que compõe um ser vivo, escrita com uma combinação de quatro letras: G, A, T, C), e os vírus têm RNA (o RNA é uma cadeia simples com três das mesmas letras do DNA (G, A, C), e um U em lugar do T. É muito mais instável e frágil, mas, por outro lado, serve para quase tudo).

Estes fármacos fornecem ao organismo uma espécie de código genético para que as células possam produzir proteínas virais e levar o corpo a responder com vírus de anticorpos. Desta forma, o indivíduo vacinado está a desenvolver imunidade contra o vírus.

As vacinas de RNA mensageiro são um novo tipo de imunizante para proteger pessoas de doenças infeciosas. Tal como as vacinas comuns, o objetivo do RNA mensageiro é criar anticorpos contra um vírus que ameaça a saúde humana. Todavia, invés de inserir o vírus atenuado ou inativo no organismo de um indivíduo, este novo imunizante ensina as células a sintetizarem uma proteína que estimula a resposta imunológica do corpo.

Estranho? Muito à frente? Caro leitor, é a Ciência biomédica a avançar!

É verdade: está é a primeira vez que este tipo de vacina é usada, mas embora ainda não existam vacinas de RNA mensageiro licenciadas na Europa, há décadas que os investigadores estão estudando e trabalhando nesta tecnologia. A terapia génica é o futuro.

É verdade: as vacinas foram feitas em tempo recorde, mas não se saltaram passos. Tudo foi acelerado, com várias etapas a acontecer ao mesmo tempo: «O diálogo precoce e contínuo entre a indústria farmacêutica e um grupo de peritos em regulamentação da EMA foi importante para agilizar todo o processo».

Todos receamos o incógnito, mas tem sido assim nestes saltos para o desconhecido, que a Humanidade tem avançado. Nem sempre na melhor direção — também é verdade —, mas perante uma emergência pandémica como esta em que vivemos, este foi o caminho encontrado. Se é o melhor ninguém sabe, mas estamos juntos.

Perante a dúvida do que poderão ser os efeitos secundários a longo prazo da vacina — e por que, a existir, serão negativos? Porque não pensarmos, em efeitos secundários positivos? E o que sabemos, pois já aconteceu a pessoas que contraíram o vírus, optei pelo que hoje, é mais certo.

«A melhor maneira de nos prepararmos para o futuro é concentrar toda a imaginação e entusiasmo na execução perfeita do trabalho de hoje»
Dale Carnegie

Fontes que poderá consultar para ficar mais informado:

https://www.deco.proteste.pt/saude/doencas/noticias/vacinas-contra-covid-19-esclareca-duvidas
https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/e-depois-da-covid-19-eventuais-sequelas-vao-desde-fadiga-a-danos-cerebrais-12928748.html
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-12-18/rna-a-molecula-que-pode-nos-tirar-desta-pandemia.html

https://www.ema.europa.eu/en/documents/overview/comirnaty-epar-medicine-overview_pt.pdf
https://www.ema.europa.eu/en/documents/overview/vaxzevria-previously-covid-19-vaccine-astrazeneca-epar-medicine-overview_pt.pdf

 

 
 

 
 



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