O livro está morto, vida longa ao livro!

Devemos contribuir com os nossos hábitos de leitura para transformar o livro num bem essencial em Portugal, tão importante como o pão nosso de cada dia

A venda de livros em supermercados, hipermercados, FNAC, CTT e papelarias foi permitida a partir de 15 de fevereiro, depois de quase um mês de proibição.

O acesso da população aos livros deixou de estar limitado às plataformas online, mas o problema do setor livreiro mantém-se: as grandes livrarias e as livrarias independentes continuam fechadas e estes são os locais preferências para a aquisição de livros.

Nada melhor do que um livreiro para nos aconselhar o melhor escritor, o melhor livro, em jeito de biblioterapia.

É difícil perceber o porquê desta decisão. De acordo com um artigo publicado no Observador, «fechado 2020, as grandes superfícies representaram 26,1% do valor total de livros vendidos, enquanto as livrarias tiveram uma quota de 73,9%».

À luz desta informação, a resolução de manter as livrarias fechadas não faz qualquer sentido. O lobby dos grandes retalhistas deve ter falado mais alto perante a proibição do acesso a mais essa fatia de lucro, mas tudo se resolveria, com benefícios para todos, mediante a possibilidade da venda ou entrega ao postigo nas livrarias como acontece com o setor alimentar. Todos ficariam a ganhar principalmente, os leitores. Todos os livros merecem ser desconfinados.

Em Itália e na Bélgica, as livrarias foram consideradas bens essenciais e mantiveram-se abertas no segundo confinamento; nos países nórdicos, as livrarias nunca fecharam e, nos países em que as livrarias estão fechadas, estas podem vender ao postigo.

O que poderemos nós fazer?

Devemos contribuir com os nossos hábitos de leitura para transformar o livro num bem essencial em Portugal, tão importante como o pão nosso de cada dia. A alma também precisa de alimento.

Talvez seja impressão minha — já diz o velho ditado, “quem anda com martelos, só vê pregos” — mas, parece-me que os livros estão cada vez mais presentes na vida dos portugueses.

No Instagram com os bookstagramers, no GoodReads, uma das redes sociais dedicadas a livros mais utilizada no mundo, e cada vez mais popular em Portugal, no Facebook com os clubes de leitura online, no ClubHouse do iPhone, com os booktubers, como Francisco Geraldes, um jovem jogador do Rio Ave Futebol Clube, que encontrou nos livros e na leitura uma das suas paixões. O livro está vivo!

Ao folhear recentemente o jornal Público, deparei-me com uma estatística da Porto Business School na promoção de um curso online a ser organizado com o Público, em que partilhava «os outros números da pandemia», indicando que 33% dos portugueses gostaram de ler mais durante o confinamento. Números bem mais animadores do que a contagem diária de óbitos e infetados.

Em Lisboa, as bibliotecas começaram a entregar livros ao domicílio, iniciativa que conta com grande adesão. No Algarve, a Biblioteca Municipal de Lagoa reativou o empréstimo de livros e também faz entregas a casa, a venda dos ebooks também aumentou, para mencionar apenas alguns indicadores positivos.

Todas estas dinâmicas devem obrigar-nos a olhar para os livros de forma diferente, dar-lhes, definitivamente, a importância que merecem. Se nós fizermos isso, o Estado também o fará.

Para quem ainda tem dúvidas sobre a importância dos livros e da leitura, aqui ficam cinco boas razões:

1) A leitura ajuda-nos a estimular a criatividade, a imaginação e a curiosidade despertando novos interesses, essenciais na infância e durante toda a nossa vida.

2) A leitura ajuda-nos a despertar a empatia, a solidariedade, o afeto e o respeito. Ao conseguirmos estar connosco, parados, na companhia de um livro, desenvolvemos o foco e a atenção plena para o mundo que nos rodeia e para o Outro.

3) A leitura ajuda-nos a enriquecer o nosso vocabulário, a falar com mais desenvoltura e a escrever ainda melhor.

4) A leitura ajuda-nos a desenvolver o espírito crítico, a estarmos despertos, a questionarmos o que nos rodeia e a permanecermos agentes ativos na nossa vida.

5) A leitura leva-nos a viajar, a descobrir lugares distantes autênticos ou imaginários e a conhecer personagens inesquecíveis reais ou fictícias, tudo enquanto estamos sossegados, concentrados, a folhear as páginas inocentes de um livro.

Como afirma Antonio Basanta, no seu livro Leer contra la nada, «ler é sempre uma mudança, uma viagem, partir para se encontrar. Ler, mesmo sendo um ato comummente sedentário, devolve-nos à nossa condição de nómadas».

Haverá melhor conselho para estes tempos de confinamento? Leia. Leia muito. E se ainda não experimentou integrar um clube de leitura online, deixo-lhe o convite para aderir ao «Encontros Literários O Prazer da Escrita». O acesso é gratuito e pode ser feito aqui.

Os meses de março, abril e maio serão dedicados à Literatura de Viagens, começando com a obra de Italo Calvino, «As Cidades Invisíveis», seguido de «Pés na Terra», de Raquel Ochoa (que estará presente na sessão ao vivo dos encontros literários no dia 1 de maio, às 21h30) e finalizaremos este ciclo, com «Nos Passos de Magalhães», de Gonçalo Cadilhe, que estará com os seus leitores no dia 3 de junho, às 21h30.

O livro está morto, vida longa ao livro!

 

 

 

 

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