Polémico mega empreendimento da Cidade Lacustre de Vilamoura travado por valores naturais

Projeto de construção da Cidade Lacustre de Vilamoura recebeu Declaração de Impacte Ambiental desfavorável, após consulta pública que desencadeou centenas de reações

O projeto de Loteamento e Obras de Urbanização da Cidade Lacustre de Vilamoura, que se arrasta desde o final dos anos 90, foi travado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve). Este organismo emitiu, no passado dia 18 de Novembro, uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) «desfavorável».

A Liga para a Proteção da Natureza (LPN), uma das associações que participaram ativamente na na denúncia do projeto da Cidade Lacustre, reage a esta DIA desfavorável salientando que se trata de «uma vitória para as organizações não- governamentais de defesa do ambiente que se opuseram ao empreendimento, mas também para a comunidade local, que se veria delapidada do seu património em prol de um apetite turístico insustentável».

A DIA, a que o Sul Informação teve acesso, é assinada por José Pacheco, vice presidente da CCDRA Algarve e conclui que «atendendo a que os impactes negativos identificados são nalguns fatores muito significativos, não minimizáveis e impeditivos ao desenvolvimento do projeto, emite-se parecer desfavorável ao EIA do “Projeto do Loteamento e Obras de Urbanização da Cidade Lacustre”».

Já em Julho, na fundamentação da proposta de decisão emitida antes da derradeira audiência dos interessados, a CCDR Algarve tinha concluído que «o projeto em apreço implicará impactes negativos, diretos e indiretos, de magnitude elevada, muito significativos, identificados sobretudo ao nível dos fatores Biodiversidade, Território, Património Arqueológico e Arquitetónico e Paisagem».

A LPN, no seu comunicado, chama, porém, a atenção para o facto esta Declaração de Impacte Ambiental dizer «apenas respeito a uma das duas componentes do projeto da Cidade Lacustre, o loteamento, ficando ainda em aberto a decisão sobre a segunda componente, que prevê a construção de um conjunto de lagos e canais».

Este projeto passa pela construção de um conjunto de lagos interligados, com uma área global de cerca de 22,4 hectares, a ser alimentados por água salgada proveniente da Marina de Vilamoura. A consulta sobre esta componente do projeto já decorreu em 2017, mas não há ainda qualquer decisão, favorável ou desfavorável.

Para a LPN, esta «bipartição de um único projeto tenta prejudicar uma séria avaliação de impactes cumulativos sobre aspetos críticos como os recursos hídricos, os habitats naturais e espécies de fauna e flora selvagens».

 

Aquela ONG do ambiente acrescenta que a informação reunida durante a fase de discussão pública do projeto urbanístico da Cidade Lacustre «permitiu concluir que, independentemente das medidas propostas para a mitigação, prevenção e compensação dos impactes que o projeto implicaria sobre os valores naturais da região, não reúne condições para ser viabilizado».

Para esta decisão contribuíram diversos pareceres setoriais e das entidades constituintes da Comissão de Avaliação do processo de Avaliação de Impacte Ambiental, incluindo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Câmara Municipal de Loulé.

A LPN sublinha ainda ter participado «ativamente na denúncia do projeto da Cidade Lacustre, mostrando-se sempre desfavorável», e tendo unido «a sua voz aos mais de 200 participantes do processo de consulta pública».

É que, explica a mais antiga associação ambientalista portuguesa, «este insólito mega empreendimento reflete a pressão turística e urbanística do litoral português», sendo «um resultado da combinação de fortes interesses económicos em áreas de elevado valor paisagístico, ambiental e cultural, com a permissividade legislativa nacional».

Apesar de se congratular com a DIA desfavorável, a LPN alerta que «a não resolução das fragilidades que levaram à possibilidade de proposta deste projeto naquele local de grande valor ecológico, designadamente relativas às políticas de ordenamento do território, mantém a porta aberta para a submissão de novos projetos urbanísticos».

Trata-se, aliás, de um problema «comum a outras áreas do litoral português e bastante patente no Algarve».

Por isso, defende, «para eliminar de forma definitiva esta ameaça, deve ser seriamente ponderada a classificação deste espaço como Área Protegida de Âmbito Local, valorizando não só a sua elevada riqueza ecológica e paisagística, tão importante para o turismo na região, como o bem-estar das populações».

O projeto da Cidade Lacustre, com uma forte componente imobiliária, é promovido pelo Vilamoura Lusotur SA.

 

Clique aqui para conhecer o teor da Declaração de Impacte Ambiental desfavorável (PDF)

Clique aqui para conhecer o Parecer da Comissão de Avaliação (PDF)

Clique aqui para conhecer o Relatório da Consulta Pública (PDF)

 

Antevisão da cidade lacustre

 

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