Lavrar o Mar mostra que “Quando” é agora

Espetáculo terá «música, movimento, imagem, texto e até uma nova língua».

Foto: Lavrar o Mar

«O espetáculo tem o nome “Quando”, mas eu até acho que se devia chamar “Agora” porque os assuntos que tratamos são sobre este tempo que vivemos». A nova criação do “Lavrar o Mar” tem estreia está marcada para esta quinta-feira, 15 de Outubro, e até domingo, dia 18, o Lugar da Rocha, perto de Marmelete (Monchique), vai receber esta «instalação performativa e nómada que vai convidar as pessoas a andar de um sítio para o outro». 

Em entrevista ao Sul Informação, Madalena Victorino, a criadora deste “Quando”, explica que o espetáculo terá «música, movimento, imagem, texto e até uma nova língua».

«Haverá imensa música ao vivo, imensos corpos, movimento, o que, muitas vezes, também caracteriza os meus trabalhos. Para isso, contaremos com profissionais das artes do espetáculo», enquadra.

Quanto aos textos, serão «pequenos», mas cheios de significado. «Vão ser citações de filósofos, ativistas, artistas do mundo inteiro», acrescenta.

Este espetáculo tem ainda uma grande particularidade pois terá partes ditas e cantadas numa «nova língua» criada para o efeito.

«Há uma série de canções que acontecem nessa nova língua e que têm o significado das palavras escondido. É uma metáfora para o mundo em que vivemos: nós não percebemos nada do que se está a passar, mas a terra está a gritar e nós estamos a perceber que estamos num caminho errado», diz a programadora cultural.

 

Foto: Lavrar o Mar

 

De resto, a terra é mesmo a inspiração para todo o espetáculo, até porque este é o tema transversal à atual edição do “Lavrar o Mar”, programa que faz parte do 365Algarve.

«Quando se pensou que ia fazer uma criação com um coletivo, neste caso somos 19 pessoas, sabíamos que ia ser sobre a terra. E como a terra deu uma reviravolta grande, os assuntos que tratamos estão relacionado com o tempo em que vivemos», explica Madalena Victorino.

Assim, durante as três horas de espetáculo, que só começa às 18h00 e se vai prolongar já de noite, vai-se falar do «direito universal à respiração, uma ideia defendida por um filósofo camaronês, o Achille Mbembe, a reconfiguração da terra e de como é que nós, vendo esta destruição massiva, nos posicionamos, ou sobre as novas fronteiras, a maneira como o mundo se vai movendo com as migrações, relacionando isso ainda com o crescimento da extrema direita», elenca Madalena.

“Quando” também vai servir para falar da «questão da liberdade». «Onde é que ela começa, onde é que acaba, e como é que podemos lutar para termos uma voz que não se cala, que continua a defender valores essenciais que achávamos que já tínhamos conquistado», acrescenta.

Nestas novas fronteiras e na questão da liberdade, o coletivo, liderado por Madalena Victorino, aproveitou para trabalhar outra ideia. «Por vezes, pensamos que os problemas estão nos outros. A morte é sempre o outro, achamos sempre que as catástrofes estão lá longe, as problemáticas não estão aqui comigo e nós quisemos fazer isso ao contrário».

Por isso, neste espetáculo somos «chineses, árabes, africanos, russos, portugueses…A ideia é puxar para dentro da pele de cada um dos participantes essa força multicultural. Em vez de mandarmos as preocupações para lá, trazemo-las para cá».

 

Foto: Lavrar o Mar

 

“Quando” também terá a presença de duas pessoas «muito especiais»: o senhor Valentim, que é vaqueiro, e o senhor Arménio, o antigo carteiro de Aljezur. «Estão connosco como figuras centrais da peça porque, de alguma forma, ainda têm o milagre da terra dentro de si», explica Madalena.

O sítio escolhido para se desenrolar o “Quando” também não foi por acaso. O Lugar da Rocha situa-se na divisão entre os concelhos de Aljezur e Monchique, sendo «quase uma metáfora desta fronteira entre os municípios com quem trabalhamos. Queríamos um sítio que anulasse a fronteira e acabasse por os unir».

O ponto de encontro dos participantes será no cruzamento para a localidade de Abitureira, na Estrada Nacional 267. Dali, será feita uma caminhada de quatro quilómetros até ao local do espetáculo. Os bilhetes…já estão esgotados.

Apesar da entrada de Portugal no Estado de Calamidade, esta quinta-feira, dia 15, a organização do “Lavrar o Mar” não prevê alterações para este espetáculo que já segue as regras sanitárias em vigor, nomeadamente no que diz respeito ao uso de máscara.

Esperem, por isso, «um espetáculo muito bonito, forte, mas também um pouco perturbante nalguns momentos», conclui Madalena Victorino.

 

 

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