Investimento de 228 milhões de euros permite ao Algarve poupar muita água a «curto médio prazo»

Volume de água a poupar representa mais de um quarto da capacidade total da barragem de Odeleite

As 53 medidas de curto e médio previstas no Plano Regional de Eficiência Hídrica (PREH) do Algarve, ontem apresentado em Faro, vão permitir à região poupar muita água, no futuro.

Os projetos, com um valor global de 228 milhões de euros, vão desde a melhoria das redes de abastecimento público e de rega até campanhas de sensibilização, e resultarão numa poupança estimada de 33 hectómetros cúbicos (hm3), ou 33 milhões de metros cúbicos,  por ano, volume de água que representa mais de um quarto da capacidade total da barragem de Odeleite, uma das duas maiores da região.

Em paralelo, estão a ser estudadas diversas soluções para aumentar as disponibilidades hídricas. Em cima da mesa, estão projetos como a dessalinização, a ligação entre o Pomarão e a barragem de Odeleite (transvase do Guadiana), o aproveitamento de águas residuais tratadas e a construção de uma ou mais barragens (Foupana e ribeira de Alportel).

Ainda assim, pensar medidas que permitissem poupar água a curto e médio prazo foi uma das principais tarefas dos autores do PREH, cuja elaboração foi coordenada pela Agência Portuguesa do Ambiente e pela Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Regional, mas que envolveu muitas mais entidades, como as Câmaras algarvias, a empresa Águas do Algarve, a Direção Regional de Agricultura e Pescas e o Turismo do Algarve, entre outras.

Os 228 milhões de euros a investir serão distribuídos por 13 medidas urbanas (122 milhões de euros), 22 no setor agrícola (79 milhões), quatro relacionadas com o turismo, mais precisamente com campos de golfes (23 milhões).

As restantes medidas são na área administrativa e da gestão (14) e infraestruturais (4).

 

Barragem do Beliche – Foto: Flávio Costa|Sul Informação

 

A maioria dos investimentos (21 projetos, 40% do total) visam melhorar a eficiência: introdução de rega gota a gota, reabilitação de infraestruturas e de redes, bem como monitorização.

Também haverá uma forte aposta na adaptação (18 projetos, 34%), com projetos que vão desde o aproveitamento de águas residuais à redução das áreas regadas.

Há, ainda, oito projetos na área ambiental (15%), ligados ao coeficiente de escassez e à fiscalização, entre outros, e seis projetos no campo da articulação: campanhas de sensibilização e reuniões.

Esta componente de poupança é um ponto de honra de um compromisso assumido pelo Governo com o Algarve, disse João Matos Fernandes, ministro do Ambiente, que presidiu à sessão de apresentação, em conjunto com a Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura.

«Quisemos encontrar um equilíbrio entre poupar água e garantir soluções que façam com que no Algarve não exista menos água», referiu o membro do Governo, à margem da sessão.

«Os nossos técnicos estimam que podemos poupar 33 hm3, através de um uso mais eficiente e, ao mesmo tempo, aumentar a reserva em 60 hm3», acrescentou.

Ou seja, por cada héctometro cúbico poupado, serão garantidos mais dois na reserva da região.

«Isso, obviamente, tem um custo ambiental, mas também garante mais água para o futuro», concluiu João Matos Fernandes.

 

João Matos Fernandes | Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

O trabalho realizado partiu de um diagnóstico prévio, que dá conta de «uma situação muito preocupante» no Algarve, com uma escassez de água que apenas é superada pelo ano hidrológico de 2004/05, historicamente o mais seco de sempre, na região.

No entanto, a situação em 2019/20 não anda muito longe da que se viveu então e não há grandes esperanças de que melhore substancialmente, o que leva os autores do plano a afirmar que «a seca é estrutural e não circunstancial».

Atualmente, o volume útil de todas as barragens do Algarve está nos 122,3 hm3, o que «corresponde a 32% do volume máximo útil», revelou Pimenta Machado, vice-presidente da APA, que apresentou o Plano Regional de Eficiência Hídrica, na sessão que decorreu no Grande Auditório da Universidade do Algarve.

Para comparação, recorde-se que as cinco grandes barragens existentes na região têm uma capacidade de carga útil a rondar os 400 hm3.

Quanto às disponibilidades hídricas subterrâneas, isto é, a água existente nos aquíferos do Algarve, estima-se que, em anos normais, seja, no total, de 151 hm3. Atualmente, e tendo como referência o ano hidrológico de 2004/05, a quantidade de água no subsolo da região rondará os 60 hm3.

Uma situação grave, à qual já se começou a responder.

«Já estamos a usar o Funcho para o abastecimento público, através da barragem de Odelouca», revelou Pimenta Machado.

Por outro lado, foi suspensa a emissão de títulos para novos furos para uso particular e concluído o reforço da capacidade da Estação de Tratamento de Água de Alcantarilha, que permitiu aumentar para 7 hm3 anuais a capacidade de transferência de água entre a rede poente e nascente do sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água.

Neste último caso, isto significa, na prática, que é possível enviar água do Barlavento, onde há atualmente mais água disponível, para o Sotavento, onde a escassez é maior.

Também já em curso estão as obras que vão permitir reativar a captação de água subterrânea no aquífero da Luz de Tavira, para uso agrícola.

Ainda no setor agrícola, serão feitos investimentos avultados na remodelação e modernização de redes de rega, bem como no aumento da eficiência da rega nas parcelas.

 

 

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