GNR de Loulé anda pela serra a distribuir alimentos e carinho a idosos isolados

Iniciativa vai continuar até ao final de Junho

Mal os dois carros chegam, o senhor António abre a porta de sua casa e sai para a rua de sorriso no rosto. Para ele, que passa os dias praticamente sozinho, na localidade do Tavilhão, junto ao Rio Vascão, esta é muito mais do que uma simples visita. A GNR de Loulé está a distribuir alimentos à população idosa e isolada do concelho de Loulé, numa iniciativa solidária em tempos de pandemia da Covid-19. «Há proximidade nestas pequenas coisas e nestes pequenos gestos». 

Todas as quintas-feiras, a rotina tem sido a mesma. Há sete semanas que, do posto da GNR de Loulé, sai um carro destacado para as freguesias do interior do concelho (Alte, Ameixial, Salir e a União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim).

O objetivo é tanto entregar bens alimentares, como dar uma palavra amiga a quem vive isolado.

Nuno Policarpo tem sido, ao longo destas semanas, um dos militares da Guarda escolhidos. «Quando chegamos aos locais, já há pessoas que me reconhecem», diz, entre risos.

O Sul Informação acompanhou uma destas iniciativas, na passada quinta-feira, 14 de Maio. Nesse dia, a freguesia escolhida foi o Ameixial, tendo sido distribuídos 17 cabazes.

Normalmente, a comida tem sido dada pelo Mar Shopping, mas, daquela vez, foi a Fundação Benfica quem enviou estes alimentos para serem distribuídos.

 

 

A casa da dona Natividade dos Santos, de 82 anos, na Corte d’Ouro, foi uma das primeiras a ser visitadas por Nuno Policarpo e José Fernando Carrusca, presidente da Junta de Freguesia do Ameixial.

«Muito obrigado! Esta ajuda é muito importante para mim. Faz-me muita falta», diz a idosa, depois de receber o cabaz com massas, leite em pó e enlatados.

A dona Natividade mora sozinha e, mesmo na vizinhança, há pouca gente.

Nesta visita, Nuno Policarpo e José Fernando Carrusca aproveitam para também deixar alertas devido à Covid-19, recordando a necessidade de usar máscara. «Eu sei, eu sei, costumo ver na televisão», responde prontamente a octogenária, já com as máscaras que lhe foram dadas pelo presidente da Junta, na mão.

Entre a população da freguesia do Ameixial, há dois denominadores comuns: a velhice e o isolamento.

«Diria que talvez 70% da nossa população tem mais de 70 anos. Depois, como a maior parte da gente nova não permanece por cá, os idosos acabam por ficar isolados», explica o presidente da Junta.

 

 

Também é o que se passa com António Ferreira. Tem 83 anos e mora há 60 sozinho no Tavilhão, uma pequena localidade junto à fronteira entre o Algarve e o Alentejo. Mesmo durante a pandemia da Covid-19, a filha costuma ir visitá-lo e, garante o senhor António, «segue todos os cuidados».

Desta vez, também ele foi um dos contemplados com um cabaz alimentar que recebe com todo o gosto. «Sou eu que faço as minhas comidas. E olhe que ficam sempre boas!», atira, para gargalhada geral.

Durante a visita da GNR e do presidente da Junta, o senhor António, que ainda cuida de cinco ovelhas, aproveita para conviver um pouco.

Conta histórias de quando vivia mais gente no Tavilhão, vai dizendo a quem pertencem os terrenos à volta da sua casa e faz estimativas de quantos pessoas ainda ali moram: «umas 7 ou 8».

«Nós notamos que as pessoas também gostam de meter conversa, de ouvir uma palavra amiga. É normal, porque vivem isoladas», diz José Fernando Carrusca.

O guarda Nuno Policarpo não podia estar mais de acordo. «Há aquela alegria, visível, durante estas visitas», complementa.

 

 

Para a dona Maria José, habitante no Azinhal dos Mouros, outra das localidades visitadas, a solidão «é algo muito triste». Viúva, mora sozinha, mas conta, por vezes, com a companhia de alguns vizinhos. Só que nem isso basta: «há dias em que não vejo ninguém», lamenta.

Sem possibilidades de se deslocar, o cabaz com alimentos que recebe «é uma grande ajuda», diz. «A minha reforma é baixinha e só posso agradecer este gesto», acrescenta.

O próprio presidente da Junta de Freguesia vê a ajuda como sendo «muito importante». «O comércio local está fechado e as pessoas, para se deslocarem destes sítios isolados… bem, há cada vez menos alternativas. Por isso, digo que há proximidade nestas pequenas coisas, nestes pequenos gestos».

Em todas estas visitas, a presença de José Fernando Carrusca funciona como um elo de ligação. «Às vezes, se o presidente da Junta não estiver, eles nem a porta abrem», garante.

Já para a GNR, um das forças de segurança na linha da frente do combate à Covid-19, este trabalho é descrito como «uma alegria».

«Tem sido muito gratificante. É uma alegria para nós vermos a alegria das pessoas. Esta é também a nossa missão e tentamos fazer o nosso melhor. Com a ajuda que recebem, sempre é mais algum tempo em que também não sentem necessidade de pedir ajuda», realça Nuno Policarpo.

Até ao final do Junho, esta entrega vai continuar, sempre às quintas-feiras, no interior do concelho de Loulé, para distribuir alimentos e, acima de tudo, uma palavra amiga.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

 

 

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