Algarve: região de trabalho ou (apenas) para fazer turismo?

O mercado de trabalho é cada vez menos interessante na região

O Algarve é o destino turístico mais importante do país, atividade que tem sido explorada com base no produto de sol e mar. Este, por sua vez, originou a situação de extrema dependência económica do turismo e teve como consequência uma elevada sazonalidade na região.

Segundo o INE, em 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) regional do Algarve cifrou-se em 9014,995 milhões de euros e o Valor Acrescentado Bruto (VAB) regional atingiu os 7812,127 milhões de euros. Em termos de riqueza gerada, em 2017, o Algarve representava 4,6% do PIB nacional e o PIB per capita cifrou-se em 20,463 milhares de euros. Em 2017, a produtividade do trabalho no Algarve atingiu os 36,914 milhares de euros.

Segundo o INE, em 2017, a população ativa no Algarve cifrava-se em 229 milhares de pessoas. Destas 211,5 correspondiam a população empregada e 17,6 milhares a população desempregada, o que gera uma taxa de desemprego no Algarve na casa dos 7,7%. Na região, 170,6 milhares de pessoas trabalhavam por conta de outrem (i.e., 80,7% do total de pessoas empregadas no Algarve) com 120,4 milhares a usufruírem de um contrato de trabalho sem termo (i.e., 70,6% do total de trabalhadores por conta de outrem). No Algarve, 39,2 milhares de pessoas trabalhavam por conta própria (i.e., 18,5% do total de pessoas empregadas na região).

Comparando com os valores para Portugal Continental, verifica-se que existem diferenças. Em 2017, a população ativa cifrava-se em 4964,6 milhares de pessoas. Destas, 4526,5 milhares estavam empregadas e 438 milhares desempregadas pelo que a taxa de desemprego em Portugal Continental cifrou-se em 8,8%. Das pessoas empregadas existiam 3756,4 milhares que trabalhavam por conta de outrem (i.e., 82,9%), sendo que 2930,8 milhares tinham um contrato de trabalho sem termo (i.e., 78%). Das pessoas com emprego, 749,7 milhares de pessoas trabalhavam por conta própria (i.e., 16.6%).

Constata-se ainda a existência de diferenças relevantes no nível dos rendimentos dos trabalhadores por conta de outrem no Algarve face ao resto do país. O ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem no Algarve, em 2017, cifrou-se em 942,73 euros e em Portugal Continental atingiu os 1107,86 euros, i.e., uma diferença pela negativa de 165,13 euros por mês.

O ganho médio mensal dos trabalhadores com o secundário no Algarve cifrou-se em 953,08 euros e em Portugal Continental atingiu os 1068,65 euros (menos 115,57 euros por mês). Os licenciados ganhavam 1415,76 euros, em média, no Algarve e em Portugal Continental ganhavam 1813,61 euros (menos 397,85 euros por mês).

O ganho médio mensal dos trabalhadores com mestrado cifrou-se em 1446,64 euros no Algarve e em Portugal Continental atingiu os 1764,07 euros (menos 317,43 euros por mês). Os doutorados ganhavam 2194 euros, em média, no Algarve e em Portugal Continental ganhavam 2573,30 euros (menos 379,30 euros por mês). Curiosamente o salário médio mensal dos trabalhadores não qualificados cifrou-se em 717,40 euros no Algarve e em Portugal Continental atingiu os 707,94 euros (mais 9,46 euros por mês).

As estatísticas são interessantes, mas ficam sempre aquém das histórias pessoais de cada um. De facto, sendo eu uma jovem que atingiu um nível de qualificação elevado, enfrento dificuldades em encontrar um desafio profissional na minha área de formação. Concluí a minha licenciatura no período mais complicado no acesso ao mercado de trabalho, o qual coincidiu com o pico da crise em Portugal.

No entanto, hoje, já mestre, continuo a não ter experiência profissional na área em que me formei. Tal é um grande obstáculo que enfrento. Vejo que tenho cada vez menos oportunidades para encontrar um desafio profissional do meu interesse num mercado de trabalho que se encontra cada vez mais globalizado e competitivo.

Infelizmente, vejo que o mercado de trabalho é cada vez menos interessante na região, o que leva a que muitos aceitem trabalhar em coisas sem interesse nenhum para quem se formou, aceitem ganhar pouco ou, pior ainda, se vejam na contingência de sair da região (e do País) para terem acesso ao que sempre sonharam.

Será este o futuro que queremos para o Algarve e para o País? Vale a pena refletir sobre o tema.

 

Autora: Ana Correia é uma algarvia de gema e com muito orgulho. É membro efetivo da Ordem dos Economistas.
É Licenciada em Economia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa e Mestre em Finanças Empresariais pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, e ambos valeram-lhe a sua inscrição na Ordem dos Economistas.
Considera-se uma apaixonada pela vida, pelo Algarve e por viagens. E, claro, é uma Sportinguista ferrenha.

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

 

 

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