Capital Europeia da Cultura 2027 em Faro é trabalho para o Algarve todo

«Isto não é fácil, mas vale a pena o esforço»

O que é mais importante, à partida, é fazer com que o caminho também conte. Para isso, há que envolver todos e não ir contra ninguém. Esta é a premissa por detrás dos vários acordos assinados ontem, que oficializaram a Universidade do Algarve, a Região de Turismo e AMAL, que junta os 16 municípios do Algarve, como co-promotores da candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2027, juntamente com a Câmara da capital algarvia.

O Teatro das Figuras, a principal sala de espetáculos do concelho e a maior da região, uma das marcas que ficaram da Faro Capital Nacional da Cultura 2005, acolheu uma cerimónia que serviu não só para que os promotores da candidatura oficializassem a sua condição, mas também para que outras entidades, nomeadamente a CCDR e as direções regionais de Cultura e do Instituto Português do Desporto e Juventude, assinassem acordos de colaboração com a autarquia farense, que será quem vai dar a cara pela proposta, junto de Bruxelas.

«Hoje conseguimos reunir aqui os principais agentes do Algarve, políticos, decisores culturais e outros, e há muito trabalho para fazer. Eu acho que as diferenças têm de ser assumidas, porque também é isso que nos faz progredir, mas há coisas que nos devem unir e este projeto é uma dessas coisas», resumiu Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro.

 

 

«Não estamos aqui a trabalhar para nós, estamos a trabalhar para o desenvolvimento do concelho e da região. Certamente que já não estarei aqui, nestas funções, em 2027. Mas, se conseguirmos chegar lá com a Capital Europeia da Cultura ou com um caminho percorrido e um trabalho transformador, para ter uma região melhor e uma população mais feliz, então, já ganhámos todos», afirmou.

Este momento culmina um trabalho que já vinha sendo desenvolvido, não só a nível regional, mas também no âmbito nacional e até internacional. A equipa que vem preparando a candidatura desde há cerca de um ano, liderada por Bruno Inácio, tem tentado beber o máximo de informação possível, bem como criar redes e pontes.

Uma ligação que Faro já garantiu – e que começou bem antes de haver a intenção de se candidatar a CEC, através do já falecido Joaquim Guerreiro, o pai desta ideia – foi a com Carlos Martins, antigo diretor executivo da Guimarães 2012, que esteve ontem na capital algarvia para dar algumas dicas sobre o que é, afinal, esta coisa de se fazer uma Capital Europeia da Cultura, mas, principalmente, sobre «o que não se deve fazer».

E o que uma Câmara de uma cidade que queira ser Capital Europeia da Cultura não deve, de forma nenhuma, fazer, é apresentar uma candidatura preparada à revelia da população e das forças vivas locais.

 

 

«Esta não pode ser uma candidatura do município, tem de ser um projeto da cidade e dos cidadãos. Ou é de todos e de cada um que queira dar o seu contributo, ou não faz sentido», considerou.

Também não pode ser «um projeto só da malta da cultura. Tem de envolver as escolas, as empresas, as associações, etc.».

No caso de Faro, esta «partilha do processo por todos» significa, para já, ir além das fronteiras do município e avançar em conjunto com entidades de âmbito regional e com os demais concelhos do Algarve.

Carlos Martins alertou, ainda, para a necessidade de avançar com algo diferente, original e que seja genuíno. O importante, diz, é «não reproduzir o passado, e sim olhar para o futuro». Ou seja, para o júri que escolhe as Capitais Europeias da Cultura, o que já existe numa cidade, nomeadamente o seu património cultural, não é muito relevante. O que importa é aquilo que o evento poderá deixar e as melhorias que trará».

É aqui que entra o Plano Estratégico para a Cultura, um documento fundamental da candidatura. E esta estratégia deverá «ser construída a muitas cabeças e ser um projeto com o qual muitos se comprometam, pois este não é um projeto para um mandato. 2027 não está no horizonte imediato de nenhum dos atuais agentes políticos, pelo que é importante que haja convergência e não divisão», disse Carlos Martins.

Ou seja, este não pode ser um projeto de um determinado partido, tem de ultrapassar a dimensão partidária. «Já houve candidaturas que caíram por causa disto», avisou.

No caso de Faro, esta última mensagem parece ter sido bem interiorizada. É que a declaração inicial por parte do executivo camarário, liderado pelo social-democrata Rogério Bacalhau, eleito por uma coligação PSD/CDS-PP/MPT/PPM, em maioria na Câmara, foi feita por Miguel Sengo Costa, um vereador da oposição minoritária, «algo que não é comum», como o próprio admitiu.

 

Também António Miguel Pina, presidente da AMAL e da Câmara de Olhão, eleito pelo PS, salientou esta dimensão de colocar para trás das costas rivalidades, partidárias e territoriais.

«Vem o moço de Olhão aqui pedir para que Faro seja Capital Europeia da Cultura. É preciso dizer mais alguma coisa?», brincou. Num registo mais a sério, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve garantiu que o empenho dos 16 municípios é total, o que pareceu ser confirmado pela presença de muitos presidentes de Câmara, do PS, do PSD e da CDU.

«Este processo exige uma grande humildade de todos, desde logo do município que lidera a candidatura, mas também de todos os parceiros. Eu espero que isto seja visto como uma Algarve Capital Europeia da Cultura. O que nós quisemos mostrar hoje aqui é que nós somos Algarve e não apenas a cidade ou o concelho de Faro. Nunca será um projeto de Faro para Faro. Nasce para a região e com ela será realizado», assegurou Bruno Inácio.

«A mensagem principal que queremos passar é que um investimento com esta dimensão, com o envolvimento de diversos organismos e com as dificuldades que significam para uma Câmara Municipal dedicar-se a um projeto desta natureza, se estivéssemos apenas focados no objetivo final e não percebêssemos que o caminho que nos pode levar lá deve ser estruturante e transformador, não faria sentido fazer o esforço», acrescentou.

Quanto à verba necessária para levar a cabo o evento, Bruno Inácio estima que andará entre os 30 e os 40 milhões de euros. Para os conseguir, o Algarve terá de encontrar fontes de financiamento, públicas, mas também privadas.

É que, assegurou Carlos Martins, da Guimarães 2012, uma Capital Europeia da Cultura «é cara», mas o retorno financeiro é enorme. «Em Guimarães, o investimento rondou os 25 milhões de euros. Mas o retorno, em termos macroeconómicos, foi de 167 milhões. É um exercício difícil, mas que acaba por compensar».

Ou seja, resumiu o mesmo responsável, «isto não é fácil, mas vale a pena o esforço».

A cerimónia contou com dois momentos musicais, protagonizados por artistas locais, nomeadamente o acordeonista Nelson Conceição e o barítono Rui Baeta.

 

Veja o vídeo de Rui Baeta a interpretar Plaisir d’Amour, música que ficou mais conhecida na versão Can’t help falling in love, de Elvis Presley:

 

 

Veja as fotos da cerimónia:

 

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

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