Saúde e mobilidade aqueceram debate entre candidatos algarvios às Legislativas

Debate juntou Cristóvão Norte (PSD), Jamila Madeira (PS), Tiago Raposo (CDU), João Vasconcelos (BE), João Rebelo (CDS-PP) e Paulo Baptista (PAN)

O desafio lançado foi o de falar sobre a economia do Algarve e as ideias dos diferentes partidos nesta área. Mas foram a saúde e a mobilidade que aqueceram o debate entre os cabeças de lista pelo Algarve dos partidos com assento parlamentar, que a Ordem dos Economistas (OE) promoveu ontem em Faro.

A delegação regional da OE juntou no anfiteatro da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve Cristóvão Norte (PSD), Jamila Madeira (PS), Tiago Raposo (CDU), João Vasconcelos (BE), João Rebelo (CDS-PP) e Paulo Baptista (PAN).

Num debate a seis, falou-se muito do passado, mais e menos recente, e não tanto de propostas para o futuro. Pelo meio, não faltou a já tradicional troca de acusações entre os diferentes partidos.

A conversa foi claramente pautada pela intervenção inicial de Cristóvão Norte, 1º candidato do PSD, que entrou ao ataque e trouxe à discussão três dos temas em que vem insistindo, enquanto deputado do principal partido da oposição, na legislatura que está a terminar: o adiamento da construção do Hospital Central do Algarve, o impasse na requalificação da EN125, entre Faro e Vila Real de Santo António, e as portagens na Via do Infante.

 

Cristóvão Norte

 

O social-democrata foi o último a falar, na primeira ronda de intervenções, e aproveitou para pôr em cheque a atuação do Governo – e, de caminho, da Geringonça [PS/CDU/BE] – nos últimos quatro anos.

«O Algarve tem problemas crónicos no setor da saúde, que já vêm de trás. Mas a situação piorou com este Governo», atirou.

«Estavam previstos 19 milhões de euros de investimento no Centro Hospitalar do Algarve, foram realizados seis. O Hospital Central do Algarve ficou na gaveta», acrescentou Cristóvão Norte, que lembrou que num estudo técnico feito num Governo PS de José Sócrates, «o Algarve foi considerado a 2ª prioridade».

Agora, diz, «vão avançar cinco hospitais e nenhum é o do Algarve. Dos hospitais prioritários desse estudo, só o algarvio é que não irá avançar na próxima legislatura».

O cabeça de lista do PSD pelo Algarve falou, ainda, nas portagens na Via do Infante, nomeadamente da promessa do PS em baixar o seu valor «entre 30 e 50%», que acabou «por se ficar pelos 15%».

As críticas foram estendidas «a todos os outros partidos da Geringonça, que defendem a abolição de portagens, mas na hora de negociar a aprovação dos orçamentos não impuseram o fim da cobrança de taxas nesta e noutras ex-SCUT».

No que toca à EN125, Cristóvão Norte apontou baterias a um Governo PS, mas não ao de António Costa, e sim ao de José Sócrates, que fez a Parceria Público Privada para a requalificação da EN125. O deputado social-democrata acusa o antigo governante de ter «enganado o Tribunal de Contas», apresentando um contrato fictício, naquele que é «um caso que devia ter consequências judiciais» e que é a causa pela qual o TC não aprovou a renegociação do contrato feita pelo executivo de Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP).

 

Jamila Madeira

 

Jamila Madeira viu-se obrigada a defender o Governo PS, assegurando que a equipa de António Costa encontrou o SNS do Algarve «no osso, mas por objetivo político e não por falta de competência».

Quanto ao novo hospital, a candidata socialista disse ter «orgulho de concorrer pelo partido que vai construir cinco hospitais, em vez de um que não construiu hospital nenhum».

E, apesar de admitir que o Hospital Central do Algarve é necessário, Jamila Madeira afirmou que «de pouco serviria uma obra ostentativa quando estamos no osso».

O que foi feito, assegurou, foi um «grande esforço de contratação de recursos humanos», o que levou a que «o Algarve tenha hoje mais médicos do que há quatro anos».

Quanto à EN125, a 1ª candidata do PS ironiza com a «negociação heróica» feita pelo anterior Governo que, «afinal, permite ao empreiteiro pedir agora 400 milhões de euros».

No que toca às portagens, outro dos temas quentes da tarde, a candidata socialista diz que «não foi possível conseguir os 30 a 50% prometidos», mas salienta que, ainda assim, houve uma redução.

 

Tiago Raposo

 

Tiago Raposo, candidato da CDU, não tem dúvidas de que o Hospital Central do Algarve «é uma necessidade urgente», mas fez questão de apontar que «o PSD e o CDS tiveram a oportunidade de o lançar e não o fizeram».

«Nos últimos dez anos, foram entregues à banca 21 mil milhões de euros. Quantos hospitais é que dava para construir com este dinheiro?», questionou.

Quanto às portagens na Via do Infante, Tiago Raposo frisou que «foi o anterior Governo PSD/CDS-PP que colocou portagens», apesar de, pouco tempo antes, «ter feito campanha contra esta medida».

«Vamos voltar a propor a abolição de portagens na Via do Infante na Assembleia da República e lanço o desafio a todos para que votem a favor», acrescentou o cabeça de lista da CDU pelo círculo de Faro.

 

João Vasconcelos (à direita na foto)

 

As portagens na A22 são um tema particularmente caro ao candidato do Bloco de Esquerda e atual deputado João Vasconcelos, que durante anos foi o rosto principal da Comissão de Utentes da Via do Infante (CUVI).

Em resposta às acusações de Cristóvão Norte, o bloquista salientou que fez aquilo com que sempre se comprometeu, que foi levar à votação a abolição das portagens na AR, algo que fez e diz que continuará a fazer.

Já a requalificação da EN125 – ou melhor, a falta dela – «é uma trapalhada do Governo anterior e do atual», diz Vasconcelos, que defende «o resgate da concessão, custe o que custar».

No campo da saúde, João Vasconcelos acusa PSD e PS de fazer «um joguete de ping-pong» e lembra a criação do Centro Hospitalar do Algarve, que acusa de ter sido feita «à revelia dos técnicos e da população».

«Defendemos a construção do Hospital Central do Algarve e foi por nossa iniciativa que neste Orçamento de Estado está previsto o lançamento dos estudos necessários», acrescentou.

 

João Rebelo

 

Já João Rebelo defendeu que «ninguém pode dizer que, na área da saúde, as coisas correram bem. Está tudo pior».

Aqui, o cabeça de lista pelo CDS-PP no Algarve aproveitou para chamar a atenção para os tempos de espera por uma consulta, no CHUA, que ultrapassa os mil dias, no caso da Ortopedia, defendendo uma «parceria alargada» que envolva privados e o setor social, que deverão ser envolvidos sempre que o SNS não consiga dar resposta.

O centrista também focou a questão das portagens e disse que o CDS-PP irá propor «a abolição de portagens para os residentes no Algarve», justificando a medida como uma compensação pelo facto da medida dos passes sociais «quase não ter impacto no Algarve».

De resto, disse, «o facto de não conseguirem abolir as portagens nas ex-SCUT foi uma derrota para o Bloco de Esquerda e para a CDU».

 

Paulo Baptista

 

Paulo Baptista acabou por ter a abordagem mais original aos temas quentes do debate. No setor da saúde, o candidato do PAN propôs «mudar o paradigma», colocando a tónica «na prevenção da doença e na promoção da saúde», afirmando que o seu partido «não aceita que o Estado dê apoios financeiros a produtos que são prejudiciais à saúde».

Por outro lado, defendeu regime de exclusividade para quem trabalhe no SNS.

Quanto às questões ligadas à mobilidade, o cabeça de lista do PAN pelo círculo de Faro defendeu que «temos de alterar a forma como nos deslocamos».

Uma maior aposta na mobilidade suave, nomeadamente em ciclovias que permitam deslocações maiores, mas também «transportes escolares gratuitos» para todos os alunos, são algumas das medidas propostas, nesta área.

Também quente, mas consensual, foi o debate em volta da ferrovia e do investimento neste modo de transporte. Apesar de todos os partidos defenderem o avanço da eletrificação da linha e a ligação ao Aeroporto de Faro e à Universidade do Algarve – João Vasconcelos também mencionou a ligação à Andaluzia -, houve muitas críticas ao PS pela demora no avanço desta obra, há muito anunciada.

E, principalmente dos partidos da direita, surgiram fortes críticas à falta de investimento público na região, nos últimos quatro anos, mas também para a quase ausência do Algarve do plano de investimentos do Estado até 2030.

Como ilustrou Cristóvão Norte, quase não há obra prevista para o Algarve. «A percentagem destinada à região neste plano é de 0,5%, quando o contributo para o Produto Interno Bruto (PIB) é de 4,5%», disse.

 

João Guerreiro

 

Na realidade, este número peca por escasso – ainda que ligeiramente. João Guerreiro, antigo reitor da Universidade do Algarve e economista, convidado pela Ordem dos Economistas para fazer o enquadramento para o debate e lançar alguns desafios aos candidatos, tinha apontado, momentos antes, que o contributo do Algarve para o PIB representa, atualmente, 4,6%.

O professor catedrático da UAlg deixou no ar quatro desafios: estratégias para o setor do turismo, geração de energia, estratégia para o setor agroflorestal e a captação e qualificação de recursos humanos para a região.

Os seis candidatos acabaram por focar a sua atenção na estratégia de desenvolvimento económico da região, no seu todo, com a tónica a ser colocada, invariavelmente, na diversificação das atividades económicas, de modo a diminuir a exposição da região a fatores externos.

A sazonalidade, a gestão da água e a regionalização foram outro temas abordados durante o longo debate, que durou cerca de três horas.

 

 

Veja aqui o debate, na íntegra:

 

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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