Bruno, o caçador de tornados, lança vídeo em timelapse para mostrar como são «épicas» as supercélulas

A supercélula que se formou em Imperial, no Nebraska, é a estrela do vídeo produzido pelo caçador de tornados algarvio

 

Foram 18 mil fotos feitas de propósito para este fim, que agora, após centenas de horas de trabalho de escolha, edição e produção, dão origem a um vídeo de 3 minutos e 54 segundos em timelapse, mostrando como se formam e evoluem os tornados e as outras tempestades que atormentam a famosa Tornado Alley, nos Estados Unidos da América.

O vídeo, com o título «Atmós» (do grego ἀτμός, que quer dizer vapor de água, gás…), acaba de ser lançado no site da Extrematmosfera, sendo o resultado do trabalho de Bruno Gonçalves, o jovem caçador de tornados algarvio, que este ano, de 27 de Maio a 5 de Junho, foi pela terceira vez aos Estados Unidos…e finalmente viu e fotografou tornados.

«A técnica de timelapse permite o registo fotográfico da evolução dos vários fenómenos meteorológicos ao longo do tempo e depois juntar todas essas centenas ou milhares de fotografias num pequeno clip de vídeo, acelerando “o tempo” e dando para perceber todos os pequenos pormenores do crescimento das nuvens, do desenvolvimento de uma tempestade, do poder de uma trovoada», explica Bruno Gonçalves.

Esta não é a primeira vez que, das viagens e atividades dos membros da Extrematmosfera, resultam clips de timelapse. Mas nunca até agora as imagens tinham sido tão espetaculares, nem o trabalho de produção do pequeno vídeo tão gigantesco. «Só em exportação dos planos, gastei 150 horas de computador. Fora as horas do trabalho de edição. E agora tudo se resume a 4 minutos de vídeo», disse Bruno, em entrevista ao Sul Informação.

 

Sete paparazzi e uma supercélula, em Fleming, Colorado (27 de Maio de 2019) – Crédito da foto: Bruno Gonçalves

 

Depois de já ter estado na Tornado Alley, uma vasta zona no centro dos Estados Unidos da América, duas vezes antes (em 2015 e em 2018), sempre com um grupo de outros stormchasers (caçadores de tempestades) portugueses, membros da Troposfera, o engenheiro de Ambiente da Câmara de Lagoa resolveu viajar em moldes diferentes, em Maio e Junho passados.

«Este ano, surgiu a oportunidade de integrar um grupo, com um caçador de tornados famoso (Brett Wright) e com o Mike Olbinski, um dos melhores timelapsers de tempestades dos Estados Unidos. Surgiu a oportunidade e eu joguei-me para a frente», contou Bruno Gonçalves ao nosso jornal. E viveu dez dias muito, muito intensos, «de grande aprendizagem».

«Desta vez, quis aprender mais, para perceber melhor todo o processo, de modo a fazer melhores previsões. Também quis aprender mais sobre fotografia deste tipo de fenómenos meteorológicos e sobre timelapse».

«Quis conhecer o dia a dia dos caçadores de tornados americanos, conhecer os seus procedimentos. E até verifiquei que o que eles fazem é o que nós fazíamos, quando lá estivemos. Só que eles têm muito mais experiência!»

O ponto de partida foi Denver, no estado norte-americano do Colorado, mas depois o grupo de caçadores de tornados passou pelo Kansas, Oklahoma, Texas, Nebraska, Novo México. «Andámos esses dez dias sempre sem rumo, ao sabor dos ventos». Literalmente.

 

Céu magnífico, da tempestade que se aproxima, em Ulysses, Kansas, no dia 3 de Junho de 2019 – Crédito da foto: Bruno Gonçalves

 

Logo no dia de chegada, quando foi colocar as malas no hotel, «saímos e, meia hora depois, tínhamos um tornado à nossa frente».

No primeiro dia efetivo, a 27 de Maio, Bruno foi caçar supercélulas a seguir à hora do almoço, com Mike Olbinski e o resto do grupo. «Vimos cinco ou seis, consecutivas». De máquinas em punho (uma fotográfica, uma de vídeo e uma gopro), o jovem meteorologista amador português registou o máximo de imagens que conseguiu.

Mas o melhor estava ainda para vir. Nesse mesmo dia, no Nebraska, num local chamado Imperial, surgiu-lhes pela frente uma supercélula. «Estavam lá caçadores com muitos anos de experiência e disseram que esta de Imperial estava no top3 do que já tinham visto! E era mesmo uma supercélula fantástica».

«O primeiro dia da tour foi absolutamente magnífico e, após algumas horas a caçar outras supercélulas igualmente belas, chegamos à zona de Imperial, no Nebraska, onde esta supercélula se desenvolvia e nos presenteava com esta imagem fantástica, minutos antes de se tornar ainda mais épica», explica Bruno Gonçalves, no álbum de fotografias que tem vindo a publicar no seu mural de Facebook.

E qual é a sensação de ver uma estrutura como a de Imperial, assim tão de perto? «É indescritível. Estava ali com pessoas com enorme experiência, como o Mike Olbinski, e todos eles diziam “épico!”, “maravilhoso!”. Fiquei de boca aberta, maravilhado com aquela estrutura, que mais não é que vapor de água a subir na atmosfera», contou Bruno Gonçalves.

Esta supercélula originou vários tornados, embora pouco visíveis, por se terem formado dentro de zonas de precipitação intensa.

O objetivo do grupo era registar em imagens o fenómeno, por isso mantiveram-se sempre «mais afastados das supercélulas, para conseguir perceber as estruturas, ao invés de ir lá mais para perto. É mais seguro, mas o objetivo é ver e registar todas as dinâmicas, não é sermos levados pelos tornados», resume.

Depois de já ter estado por duas vezes nos Estados Unidos para caçar tornados, sem ter visto grande coisa, desta vez Bruno voltou com a barriga cheia. «Este ano foi um ano acima da média» em termos de fenómenos meteorológicos extremos lá para as bandas das terras do Tio Sam. «No ano passado, foi dos piores, não houve quase nada…quer dizer, dos piores para nós, caçadores de tornados. Para a população, foi cinco estrelas», corrige Bruno, com uma gargalhada.

Agora que já tem mais experiência, Bruno revela que «gostava que pudesse resultar mais qualquer coisa desta atividade. Para além de eu próprio poder ir lá e vivenciar isto, no próximo ano estou a pensar organizar uma viagem para fotógrafos portugueses e outros interessados, para os levar lá à Tornado Alley». Para já é apenas uma ideia…mas quando Bruno mete uma ideia na cabeça…

 

Bruno Gonçalves, o caçador de tornados algarvio – Foto: Fabiana Saboya | Sul Informação

 

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