Serviço de Anestesiologia de Portimão está «na iminência de acabar»

Idade dos (poucos) anestesistas do Hospital de Portimão preocupa Ordem dos Médicos

O Serviço de Anestesiologia de Portimão está «na iminência de acabar». Quem o garantiu foi o bastonário da Ordem dos Médicos, após a reunião que manteve esta quarta-feira, com os seus colegas do Hospital de Portimão.

Miguel Guimarães dedicou a quarta-feira aos problemas vividos no Serviço Nacional de saúde do Algarve, nomeadamente nas unidades de Faro e Portimão do Centro Hospitalar Universitário do Algarve.

Depois de ter passado a manhã em Faro, onde se reuniu com a presidente e demais Conselho de Administração do CHUA e onde afirmou que a construção do Hospital Central do Algarve «é absolutamente importante», além de apontar as (muitas) carências de médicos com as quais esta entidade se debate, o bastonário da Ordem dos Médicos esteve à tarde em Portimão.

Foi no final desta visita, durante a qual auscultou os seus colegas do hospital portimonense, que Miguel Guimarães revelou a «situação preocupante» vivida no Serviço de Anestesiologia de Portimão.

A idade avançada dos já de si insuficientes anestesistas – são seis, quando deviam ser 15 – leva a que, daqui a bem pouco tempo, possa não haver ninguém para fazer urgências.

A médica mais nova desta especialidade, nesta unidade de saúde, tem 54 anos. Ora, a partir dos 55 anos os clínicos não podem ser obrigados a fazer urgência. Caso nenhum se disponibilize a fazer banco, «acaba-se a capacidade de resposta total neste hospital», ao nível da anestesiologia.

«Se não há anestesistas, os blocos operatórios deixam de funcionar, para não falar de outras áreas. E este hospital tem uma ampla atividade cirúrgica, que seria posta em causa».

A solução passa por contratar novos médicos desta especialidade ou por permitir ao serviço que faça formação – «vamos estudar isso ao nível da Ordem, vamos tentar dar o nosso contributo para resolver a situação».

 

Miguel Guimarães

 

Esta foi uma das situações denunciadas pelos clínicos do Algarve, mas não a única. Nas reuniões, ficou claro que a «quase unanimidade» dos médicos das unidades hospitalares algarvias considera que a criação do Centro Hospitalar do Algarve, constituído pelos três hospitais públicos da região, não foi uma boa opção.

«Percebemos aqui hoje que a larga maioria das pessoas acha que a constituição do centro hospitalar não foi uma mais valia, nem para o Hospital de Faro, nem para o de Portimão. Ficaram a perder os médicos, as direções de serviços e os doentes», afirmou Miguel Guimarães.

«Esta é uma questão que, provavelmente, deve ser repensada, envolvendo todos os parceiros, incluindo o próprio Ministério da Saúde e a ARS, porque esta situação deve ser devidamente avaliada. Se ela não traz vantagens para o funcionamento do sistema, se calhar tem de ser feita de forma diferente», acrescentou.

Também «muito graves» são os problemas crescentes na transferência de doentes de Portimão para outras unidades hospitalares.

«No serviço de urgência de Portimão, segundo testemunhou o próprio diretor do serviço, a evacuação de doentes quando é necessário – quando há falhas ou quando não há aqui a especialidade – está muito complicada, neste momento».

 

 

«Por vezes, para se chamar uma ambulância para transportar um doente para uma unidade mais diferenciada ou para uma unidade onde exista a especialidade, chega a demorar várias horas», descreveu.

«Esta é uma situação que tem de ser resolvida rapidamente. Tem de haver uma conversação entre quem faz o transporte de doentes e o CHUA – ou até o Ministério da Saúde -, porque isto poderá ter que ir a um nível superior -, uma vez que não é aceitável que um utente, para ser transferido de um serviço de urgência, fique horas e horas à espera», afirmou Miguel Guimarães.

Todos estes problemas têm sido transmitidos pela Ordem dos Médicos à tutela e voltarão a sê-lo, assim que haja  oportunidade. Até porque Miguel Guimarães promete que ninguém o «vai calar».

 

Fotos: Hugo Rodrigues|Sul Informação

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