Há cada vez mais portugueses que não vão ao dentista

Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas fala de um «país a duas velocidades», no que toca à saúde oral

O número de portugueses que não vão ao dentista há mais de dois anos está a crescer e a percentagem de pessoas que não vai a uma consulta há mais de um ano é de 41,6%. 3,6% da população nunca entrou num consultório dentário.

Estas são algumas das conclusões Barómetro Nacional de Saúde Oral, elaborado pela consultora independente QSP para a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD).

Os dados apurados nas quatro edições do estudo revelam que, «em questões de saúde oral, vivemos num país a duas velocidades», segundo Orlando Monteiro da Silva, bastonário da OMD.

«Quem tem possibilidade de aceder a consultas de medicina dentária percebe as vantagens das visitas regulares e mantém a regularidade. Os outros, seja por falta de recursos ou informação, olham para a saúde oral como algo secundário e o resultado está à vista: 11% da população portuguesa vive com falta de mais de seis dentes e sem substitutos, o que prejudica substancialmente a saúde oral. A ausência de tantos dentes afeta a qualidade da mastigação, condicionando a ingestão de certos alimentos e pondo em causa a saúde geral», explicou.

É esta realidade que leva a que 30% dos inquiridos – mais 3% do que em 2017 – afirme que nunca vai ao dentista ou que apenas vai em caso de emergência.

«53,6% Dos inquiridos afirmam não ter necessidade de ir a consultas de medicina dentária, um valor que subiu face aos 44,5% da edição anterior do Barómetro. 31,7% Diz não ter dinheiro, valor que contrasta com os 42,8% registados no ano passado. Há ainda 11,6% que considera não ter problemas de dentes», apurou o estudo, cujos resultados foram tornados públicos pela OMD.

Ainda assim, «70% de portugueses têm falta de dentes naturais (excetuando os dentes do siso) e, destes, 35% já perdeu seis ou mais dentes. Há ainda 8,2% da população portuguesa que não tem qualquer dente natural. E, entre aqueles que têm falta dentes, há 55,5% que nada tem a substituir».

«Há ainda muito a fazer nesta área. É decisivo integrar mais médicos dentistas nos centros de saúde e nos hospitais e estabelecer um acordo entre o Estado e os consultórios e clínicas privadas para o financiamento de consultas de saúde oral. O que existe atualmente é curto para as necessidades dos portugueses, apenas alguma franjas mais desfavorecidas estão abrangidas pelos cuidados de saúde oral públicos, ficando de fora a grande maioria da população», considerou Orlando Monteiro da Silva.

É que, apesar de já existir oferta de serviços de medicina dentária no Serviço Nacional de Saúde – um projeto que tem vindo a ser implementado pelo Governo desde 2016 -, «63% dos inquiridos desconhece a existência de consultas de medicina dentária em alguns centros de saúde».

«Nos últimos 12 meses, apenas 10% dos portugueses recorreram ao hospital ou centro de saúde quando tiveram problemas de saúde oral», segundo a Ordem dos Médicos Dentistas.

Mas também há números positivos, já que os portugueses revelam bons hábitos no que à higiene oral diz respeito. «96,2% dos portugueses, sobretudo as mulheres, que escovam os dentes regularmente. Ainda assim, este é o valor mais baixo registado nas quatro edições do Barómetro».

«Nos cuidados de saúde oral das crianças, a quarta edição do Barómetro conclui que cerca de 63% das famílias portuguesas com menores de seis anos no agregado nunca visitam o médico dentista, embora admitam ter consciência de que os dentes de leite carecem de tratamento», acrescentou a OMD.

«Por outro lado, denota-se um aumento da utilização do cheque-dentista. Entre os inquiridos que afirmaram ter levado os menores de seis anos a uma consulta de medicina dentária, 64% recorreu ao cheque-dentista», concluiu.

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