Investigadores do Algarve descodificam o genoma da sardinha

O genoma da sardinha poderá ser utilizado para tornar mais eficaz a monitorização das populações deste peixe, nas águas portuguesas, e melhorar a gestão do stock

Uma equipa de investigadores do Centro de Ciências do Mar (CCMar) do Algarve e do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBio, Universidade do Porto), descodificou o genoma da sardinha “portuguesa”. O trabalho, que teve como primeiros autores os investigadores algarvios Bruno Louro e Gianluca de Moro, já foi disponibilizado na Internet e poderá ser uma ajuda determinante para a gestão de stocks e na conservação desta espécie emblemática e muito consumida em Portugal, logo, na sustentabilidade deste recurso.

Os cientistas focaram-se no genoma da espécie Sardina pilchardus, aquela que é pescada na nossa costa. «O trabalho que concluímos é o pilar para que possamos usar marcadores genéticos, que possam representar a população. A partir daí, podemos olhar para os indivíduos, distinguir a que população pertencem e dizer: esta população esteve no Algarve no Verão e depois migrou – algo que até hoje não conseguíamos», explicou ao Sul Informação o investigador Bruno Louro.

Isso permitirá «uma monitorização ao longo do tempo» e perceber «a dinâmica da população de sardinha». Mas, avisam o dois investigadores do CCMar, «este não é o Santo Graal, é apenas mais uma ferramenta que virá acrescentar valor ao trabalho que já é feito pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA)».

 

Bruno Louro

Saber mais sobre as populações de sardinha e da sua dinâmica permitirá «estudos de gestão e conservação da sardinha que até agora não eram possíveis», referiu Gianluca de Moro. «Imaginemos um cenário em que há duas populações e que percebemos, através dos marcadores genéticos, que o esforço de pesca está a afetar uma delas, mas não a outra. Neste caso, poderão ser tomadas medidas de proteção, num dos casos, mas permitir a pesca no outro caso, uma vez que não está a ser afetada», acrescentou Bruno Louro.

Ou seja, conhecer o genoma da sardinha portuguesa poderá vir a dar uma grande ajuda na política de gestão das quotas de pesca. As limitações à quantidade de sardinha que pode ser pescada têm estado na ordem do dia, ano após ano, até porque este «é um peixe icónico» e «há uma grande preocupação de que os stocks possam colapsar».

As preocupações dos cientistas em relação à sardinha vão muito além do seu valor enquanto pescado e produto gastronómico. Isto porque esta espécie «ocupa um lugar central na cadeia trófica, pois come o plâncton, que são os produtores de energia, e, por sua vez, é consumida por outros peixes. Ela é o elo entre os produtores e consumidores. Se este for quebrado, não se sabe quais serão os efeitos».

Descodificar o genoma da Sardina pilchardus obrigou Gianluca de Moro e Bruno Louro a analisar «cerca de 1,4 biliões de sequências». Para as processar, foi utilizada a bioinformática e os supercomputadores do Instituto Nacional de Computação Distribuída, os únicos com capacidade para analisar tamanha quantidade de dados, em Portugal.

Gianluca de Moro

Dado este primeiro passo, os investigadores do CCMar já apresentaram um projeto ao Mar2020, em conjunto com o IPMA e com o CIBio, para levar mais longe o trabalho de monitorização da população de sardinha, na costa portuguesa.

Neste projeto, «vão ser desenvolvidas ferramentas genéticas que permitam fazer o levantamento genético da população de sardinha nas águas nacionais», para, mais tarde, serem integradas com outras soluções de monitorização já utilizadas pelo IPMA.

Entretanto, os dados do estudo realizado pelo CCMar e pelo CIBio vão estar disponíveis online, «para quem quiser os analisar e, se quiser, ajudar», até para acelerar o processo de produção de conhecimento, explicou ao Sul Informação Gianluca de Moro.

Bruno Louro aproveitou para chamar a atenção para o facto de, «ao mesmo tempo», ter sido publicado o genoma de sardinha, pelo CIIMar, do Porto, num estudo totalmente independente daquele que envolveu o CCMar. Mas, neste caso, o enfoque foi, «essencialmente, a utilização da sardinha em aquacultura».

Fotos: Pablo Sabater|Sul Informação

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