«Encontros de Ibn Ammâr» homenageiam poeta luso-árabe em Estômbar

Poesia, música, teatro, jogos islâmicos, demonstração de caligrafia árabe, exposições e oficinas. Será com estes ingredientes que se fará, nos […]

IbnAmmarPoesia, música, teatro, jogos islâmicos, demonstração de caligrafia árabe, exposições e oficinas. Será com estes ingredientes que se fará, nos dias 9 e 10 de Setembro, no Largo da Igreja de Estômbar, a homenagem ao poeta Ibn Ammâr, que alguns dizem ter nascido, no ano de 1031, nesta localidade hoje do concelho de Lagoa.

Esta primeira edição dos «Encontros de Ibn Ammâr» irá decorrer das 19h30 às 00h00, nesses dois dias de Setembro, e integra-se na temática escolhida pela Câmara de Lagoa para o ano de 2016: “A Nossa Gente, A Nossa Identidade”.

Abû Bacr Muhammad Ibn Ammâr (1031-1086) terá nascido em Sannabus (atual Estômbar) ou mais provavelmente em São Brás de Alportel (Xanbras). Certo é que nasceu no Algarve, nesse Gharb al-Andaluz do século XI, e, apesar de ter origem numa família humilde, acabou por ser considerado uma das maiores figuras da poesia luso-árabe.

A sua habilidade na poesia, e sobretudo a sua beleza, atraíram o jovem rei al-Mu’tamid, que o nomeou primeiro-ministro após a morte do seu pai.

Ibn Ammâr, além de grande poeta, era conhecido pela sua invencibilidade no jogo de xadrez. A sua vitória num jogo convenceu Alfonso VI de Castela a abandonar Sevilha.

Mas a sua ambição desmedida levou-o a planear a anexação de Múrcia ao reino de Sevilha, tendo, para isso, convencido al-Mu’tamid a nomeá-lo seu governador.

O passo seguinte foi proclamar-se a si próprio como rei e cortar relações com al-Mu’tamid. Rapidamente viria a cair em desgraça, tendo sido capturado numa emboscada e feito prisioneiro em Sevilha. Foi o próprio rei al-Mu’tamid quem o matou, de forma violenta.

Ibn Ammâr era cerebral, ambicioso, astuto, um homem de grande habilidade diplomática e de muito engenho político, mas viria a ficar na história como um dos poetas mais brilhantes e célebres da época dos reinos das taifas no al-Andalus.

 

Programa dos Encontros de Ibn Ammar

9 e 10 de Setembro
Largo da Igreja de Estômbar (Lagoa)

19h30 – Abertura dos Encontros de Ibn Ammar
19h30-00h00 – Ibn Ammâr: Poemas ao vento
19h30-00h00 – Recanto dos Livros – Poesia e literatura árabe
19h30-00h00 – Conta Contos (Lendas do Algarve) no salão de chá
19h30-00h00 – Jogos de tabuleiro islâmicos
19h30-00h00 – Exposição de painéis temáticos em paredes de cal “Cenas do quotidiano da época de Ibn Ammâr” (1031-1084)
19h30-00h00 – Exposição “Instrumentos musicais do mundo árabe”
19h30-00h00 – Teatro de Rua “Ibn Ammâr – Poeta de Sannabus”
19h30-22h30 – Demonstração de caligrafia árabe
20h00-20h30 – Workshop de percussões árabes
20h40-21h10 – Workshop de dança oriental
21h30-22h10 – Espetáculo de música “Segredos de al-Andalus” com Emilio Villalba, na Igreja de Estômbar
21h40-22h50 – Teatro “Varandas da Memória” – O poder e a poesia de al-Mutamid

Dia 9 de Setembro – 22h50: Espetáculo El Laff (música e dança oriental)
Dia 10 de Setembro – 22h50: Espetáculo Alturaz (música e dança sufi)

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Poesia de Ibn Ammâr:

“Minh’alma quer-te com paixão
Ainda que haja nisso uma tortura
E alegre vai na ânsia da procura.
Que estranho ser difícil nossa ligação
Se os desejos d’ambos concordaram!
Que quereria mais meu coração,
Ao desejoso te buscar em vão,
Se meus olhos te viram e amaram?
Allah bem sabe que não há razão
De vir aqui senão para te ver.
Que o vigia não nos possa achar
Se o nosso reencontro acontecer
P’ra os teus lábios doces eu provar.
Folgarei no jardim da tua face,
Beberei desses olhos o langor,
E mesmo que um terno ramo imitasse
O teu talhe grácil, sedutor,
Valerias mais que o imitador.
Não te ocultes, oh jardim secreto:
Quero colher meu fruto predilecto!”

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“Perdoa e ganhará o amor
Um outro realce, outra beleza.
É que se punires será o rancor
A tomar mais evidência e mais clareza.
(…)

Perdoa! O que partilhámos me redime.
Nos espaços perfumados de Allah
Apaga os vestígios do meu crime!
Venha da clemência o teu soprar
E tudo enfim desaparecerá.

(…)

Que, se eu morrer, fique contigo
Uma réstia de consolação.
Morrerei mas levarei comigo
A violência toda da minha afeição.”

Poema escrito na prisão por Ibn Ammâr a Al Mu’tamid

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